“Memórias Trabalhistas” do CMT apresenta a trajetória de Therezinha Zerbini


Wellington Penalva
27/10/2023

Inimiga da Ditadura Militar, ela foi linha de frente na luta pela redemocratização do Brasil

 

Com o objetivo de preservar e propagar a história do Trabalhismo no Brasil, o Centro de Memória Trabalhista (CMT) do PDT acabada de publicar mais uma edição da série “Memórias Trabalhistas”. Dessa vez, o braço histórico do partido conta a trajetória de Therezinha Godoy Zerbini, companheira que lutou contra a Ditadura Militar, foi presa e liderou o Movimento Feminino pela Anistia (MFPA).

O material que aponta a contribuição da trabalhista para a redemocratização do país conta com depoimentos emocionados. Além do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, a publicação traz textos de Manoel Dias, secretário-geral do PDT e presidente nacional da Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini (FLB-AP), e da ex-presidente da República, Dilma Rousseff.

“Therezinha Zerbini foi uma mulher de vanguarda em seu tempo. Com sua liderança, nunca teve nenhum homem lhe resguardando. Ela liderava os homens pela sua força, coragem, capacidade e, principalmente, pelo seu destemor. Uma inspiração na luta destas mulheres que fazem, hoje, valer os direitos, sua igualdade e seus avanços”, exaltou Carlos Lupi.

Manoel Dias destaca a influência de Zerbini no Trabalhismo, na formação do PDT e na luta das mulheres por espaço e igualdade. “Incansável na sua jornada, ajudou a fundar o Partido Democrático Trabalhista e foi umas das principais lideranças e vozes femininas do Trabalhismo, destacando-se na luta pela emancipação das mulheres e do seu empoderamento”, afirmou.

Companheira de cárcere nos porões da Ditadura, a ex-presidente Dilma Roussef relembrou os dias difíceis, de humilhações e tortura, ao lado de Zerbini. “Na cadeia, [Therezinha] teve comportamento digno e solidário: ajudava as demais presas políticas, participava das tarefas coletivas e reagia de maneira atrevida quando autoridades civis e militares faziam absurdas visitas ao presídio Tiradentes […] Dizia-lhes: “vocês não honram a farda que vestem”.

A publicação, disponível na biblioteca virtual da FLB-AP, tem ainda uma homenagem especial à Miguelina Vecchio, presidente nacional da Ação da Mulher Trabalhista (AMT), falecida este ano. Vecchio era uma de suas seguidoras na luta por igualdade e pela democracia e foi a voz mais influente e visceral do PDT na causa das mulheres nos últimos anos.

Esta edição da série “Memórias Trabalhista” também tem a participação especial da sobrinha de Zerbini, Maria Luisa Franco Godoy, e do advogado trabalhista Álvaro Egas, do PDT de Guarulhos (SP), responsável por conseguir a documentação dos governos ditatoriais brasileiros referente às ações contra Therezinha.

Para embasar a biografia de Therezinha, o CMT anexou ao livreto documentos históricos, como os relatórios do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) sobre a então prisioneira política. Por meio deles é possível ter uma noção da perseguição sofrida pela trabalhista nos anos em que brigava por anistia e democracia. É um rico conteúdo que vale a pena conferir.

 

Uma breve biografia

Therezinha Zerbini, uma mulher de notável coragem, enfrentou a Ditadura Militar brasileira com determinação e fervor. Casada com o General Euryale de Jesus Zerbini, que se posicionou contra o golpe militar de 1964, ela teve seus direitos políticos cassados e foi presa por sua participação na organização de um congresso da UNE, em 1968, proscrita pelo regime. Durante seus oito meses de prisão, ela conviveu com a então guerrilheira Dilma Roussef.

Em 1975, no Ano Internacional da Mulher declarado pela ONU, Therezinha fundou o Movimento Feminino pela Anistia (MFPA), que desempenhou um papel crucial na luta pela redemocratização do Brasil. Seu ativismo estendeu-se à criação do Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA) e à entrega de uma carta à primeira-dama norte-americana durante a visita do presidente Jimmy Carter.

Após a anistia, Zerbini continuou sua militância política, apoiando a criação do PDT. Ela também assinou o “Manifesto pela Defesa da Democracia” em 2010, demonstrando seu comprometimento contínuo com a justiça e a democracia, destacando a importância da Comissão da Verdade como meio de revelar a verdade sobre os acontecimentos daqueles anos sombrios.