No último domingo (10), os portugueses foram chamados as urnas para escolher, de forma antecipada, o novo Parlamento. Os resultados foram interessantes tendo a coalizão encabeçada pela centro-direita como a vencedora, ficando a frente dos socialistas por pequena margem. Mas o ponto mais reflexivo foi o crescimento da votação do Chega, partido de extrema-direita que fez quase 20% dos votos. Algo surpreendente.
Mas quais lições a eleição portuguesa nos dá? Cito, ao meu ver, algumas.
1 – A alta abstenção (cerca de 49%) dá um recado do desencanto dos portugueses com a política, os políticos e os partidos. As pessoas, lá em Portugal ou cá no Brasil não irão sair de casa para votar em quem quer que seja se não sentirem “parte do projeto” de forma verdadeira.
2 – Depois de oito anos de governo socialista, os portugueses queriam mais e as crises devido a explosão do custo de vida, em especial, dos aluguéis e moradias, junto com o problema da entrada de estrangeiros em grande quantidade, colapsou os sistemas de saúde, educação e proteção social e isso leva a população sentir que “o Estado não consegue suportar a demanda”. A lição é que, se a economia não cresce e o Estado não entrega serviços públicos condizentes com as expectativas do cidadão, a tendência é trocar.
3 – O PS ficou quase nove anos no poder e na última eleição teve a maioria absoluta para governar mas o primeiro-ministro Antônio da Costa foi atingido por denúncias de corrupção e a grande lição que fica para nós aqui é que não basta ter a “gestão mais eficiente” , mas tem que ser transparente, proba e que não deixe nenhuma coisa sem apurar. Na cabeça das pessoas se espera que “a esquerda possa até errar na gestão mas nunca ser corrupta”
4 – O Chega, partido de extrema-direita, foi o grande vencedor da eleição, mas por que venceu? Por que se comunicou melhor com a população usando o medo e o ranço dos portugueses aos problemas do cotidiano, em especial, ao tema da imigração, do colapso no custo de vida e dos serviços públicos. Um outro ponto interessante é que o Chega possui um grande apelo do voto mais jovem, entre 18 e 25 anos. A lição para a nossa esquerda é que, mesmo estando no poder, não pode deixar de ter essa interlocução constante com o povo. Hoje em Portugal, o Chega não é visto como “ameaça fascista”, em especial para os mais jovens. Isso é preocupante e lembra o Bolsonarismo aqui.
5 – Vale também ressaltar o derretimento do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista Português no Parlamento. Quase reduzidos a zero.
Agora temos a parte das negociações por lá para a montagem do novo governo. Portugal deu um recado que o mundo e a esquerda brasileira puderam ouvir.
Ficam as lições…
Marcelo Barros é membro do Diretório Nacional do PDT