Série: O que há com a Educação brasileira?


Da Redação
25/06/2023

Políticas educacionais precisam atender a demanda popular e não ao “Grande Capital”

 

“Educar é sempre um ato político e ideológico que demarca limites na construção dos conhecimentos pelos estudantes”, resta saber a que interesse essa Educação atende: ao do desenvolvimento social ou a concentração de riqueza? É o que defende a presidente do Movimento Trabalhista Pela Educação (MTPE) do PDT, professora Maria Amelia.

Em uma análise sobre o Novo Ensino Médio, a acadêmica destaca as críticas de entidades ligadas à Educação e as propostas antidemocráticas do documento que instituiu o modelo educacional, no governo de Michel Temer. Ela frisa ainda a pressão de grupos privatistas pela implementação imediata desta política.

Maria Amelia também se mostra preocupada com a cúpula administrativa do MEC, integrada por “executivos ligados, de uma forma ou de outra, a Fundações de Educação pertencentes a Instituições Empresariais associadas ao grande mercado internacional”.

A professora defende que é preciso ouvir a comunidade escolar, entidades ligadas à Educação e a própria população durante o processo de construção de políticas públicas educacionais. Confira abaixo a terceira parte da entrevista com a líder do MTPE.

 

O Novo Ensino Médio tem sido duramente criticado por pessoas ligadas à Educação, denunciado como modelo tecnicista que não fomenta o pensamento crítico, e está no limbo entre a permanência e o cancelamento. Qual opinião da senhora sobre este modelo educacional e o que deve ser feito?

O documento “Novo Ensino Médio”, assinado pelo então presidente [Michel] Temer, em 2017, ano de mais um golpe contra a democracia, é enfaticamente criticado por pessoas e entidades ligadas à Educação.  Após a vitória do atual presidente são retomadas as discussões contrárias às propostas antidemocráticas deste documento. Isso levou o ministro da Educação, Camilo Santana, a sustar a implementação do modelo equivocado, no primeiro e segundo ano de sua etapa de implantação, ainda em 2023, rompendo, inclusive, com a necessidade de adaptação do Enem ao novo modelo até 2024.

Nota-se que grupos privatistas e seus parceiros no Congresso se colocam a favor da implantação imediata do projeto de lei com a desculpa de que o governo priorizará critérios políticos com a sua suspensão.

São grupos que não reconhecem que educar é sempre um ato político e ideológico e que demarca limites na construção dos conhecimentos pelos estudantes. É preciso construir consciências capazes de fazerem escolhas profissionais e acadêmicas de acordo com suas etnias, suas vivências, suas culturas e, principalmente com suas vocações e desejos.

Embora especialistas em educação advirtam que o novo modelo tem problemas, acreditam que sua revogação total seria retroceder em avanços já obtidos com a expansão da educação integral e a diversificação do ensino. No entanto, de qual educação integral nos falam?

Minha preocupação reside no fato da cúpula administrativa do MEC, no governo Lula, estar em mãos de um número significativo de executivos ligados, de uma forma ou de outra, a Fundações de Educação pertencentes a Instituições Empresariais associadas ao grande mercado internacional. Mercado explorador das massas trabalhadoras no Brasil. Dentre elas, destaco o “Todos pela Educação”, empreendimento social pertencente à Fundação Lemann, cuja missão fundamental é de formar lideranças profissionais diversas e representativas na administração pública como capazes de provocar mudanças sociais. Pergunto mais uma vez: A quais mudanças se referem? Mudanças para quem? Para quê? Para qual sociedade? Para qual tipo de civilização pretende incumbir-se?

Nos cabe refletir sobre a importância conferida à formação das denominadas “lideranças” citadas nos objetivos destes empreendimentos. Deixo a dúvida: haverá lugar para tantos líderes entre o complexo das populações diversas produtoras das riquezas em nosso país? Lideranças para atender os reclames das massas trabalhadoras nos sindicatos, empenhados nas lutas contra os abusos do Grande Capital liderados pelo Lemann, seu presidente?

O “Novo Ensino Médio” traz em si a marca dos proprietários dessas grandes fundações ditas sociais. A meu ver, o debate é incompleto e rasteiro na medida em que a proposta deixa evidente qual fração da população ficará de fora. No meu entender, esta não pode ser uma discussão apenas entre as frias paredes das casas legislativas, o povo e suas representações estudantis e do professorado precisam participar, organizadamente em Congressos de Educação municipais e estaduais – como se realizou no Rio de Janeiro, com Darcy Ribeiro, o Congresso de Mendes –, ouvir as escolas, seu público, os governos municipais de onde sairão os alunos para o Ensino Médio.

Nesse sentido, há importância imediata de um debate coletivo, de abrangência nacional, face à tomada de decisões políticas adequadas. Reitero, está em jogo o futuro da maioria de nossos jovens e da nação em sua totalidade.