O último sábado (5), o Movimento Cultural Darcy Ribeiro (MCDR) do Rio Grande do Sul realizou o seu III Congresso Estadual, na sede estadual do partido, em Porto Alegre (RS). Em meio ao entusiasmo de dezenas de participantes, foi eleita a nova Diretoria do MCDR do Rio Grande do Sul. Entre os integrantes da mesa, a reunião foi conduzida por Daniel Almeida e Lauri Bernardes. Para os dirigentes, no que dependrer foi uma data que eles pretendem que seja histórica para o MCDR.
Nos discursos dos novos integrantes do Movimento e nas discussões que se seguiram, ficou claro que será preciso resgastar, sem quaisquer sentimentos bairristas, uma tradição política do Rio Grande do Sul de liderança e participação nos grandes acontecimentos históricos do Brasil.
Foi com a lembrança em mente das ações de três grandes gaúchos – Getúlio Vargas na Revolução de 30; Leonel Brizola, na Legalidade de 1961 e no governo nacionalista de João Goulart – que o Encontro de 5 de agosto decidiu reivindicar das direções regional e nacional do PDT uma maior participação do MCDR nós órgãos de decisão do partido.
Ao fazer essas reivindicações, acreditamos estar sendo fiéis aos ensinamentos de Brizola e Darcy Ribeiro que sempre viram na conscientização dos brasileiros o caminho para a nossa independência social, política e econômica.
Essa conscientização só se fará realidade com os instrumentos que a Educação e a Cultura oferecem. Nesse caminho, reivindicamos o papel de depositários das propostas emancipatórias que Darcy Ribeiro deixou explicitas em ações, livros e palestras.
É em nome desse grande acervo cultural que nenhum outro partido ou organização política no Brasil têm, que estamos cobrando das direções maiores do PDT um lugar de relevância nas decisões partidárias para o MCDR.
Fazemos isso sem quaisquer pretensões individualistas de projeção pessoal dentro do partido, mas com a certeza que o MCDR tem todas as condições de ajudar o nosso PDT a assumir o lugar de destaque que merece ter no cenário nacional.
Confira no link abaixo a composição da nova Diretoria do MDCR:
Executiva Estadual e Diretório Estadual do MCDR-RS eleito no III Congresso Estadual (5 ago 2023)
Leia abaixo o manifesto, aprovado ao final do Congresso do movimento:
Manifesto do III Congresso Estadual do Movimento Cultural Darcy Ribeiro do Rio Sul
O Brasil vive numa encruzilhada política. Nós, trabalhistas, identificados com a defesa da emancipação econômica, política, social e cultural dos trabalhadores, estamos convocando o nosso povo para que, unidos, busquemos constituir uma série de ações que construam este Norte.
O PDT é o herdeiro natural de três dos mais importantes movimentos libertários que o Brasil viveu: a Revolução de 1930, a Campanha da Legalidade de 1961 e a defesa pelas Reformas de Base no Governo de Joao Goulart (Jango).
O primeiro levou ao poder Getúlio Vargas e, com ele, a consolidação do processo de fortalecimento do Estado Nacional e o reconhecimento do papel dos trabalhadores na criação de um país soberano e independente.
O segundo, conduzido por Leonel Brizola, mostrou que era possível enfrentar as oligarquias e os grupos políticos reacionários, derrotando-as. A defesa das instituições democrático-republicanas e da soberania popular foi a marca do levante legalista.
O terceiro, conduzido por Jango, defendia as mudanças estruturais de cunho político, social e econômico para promover a emancipação do país e do povo brasileiro, culminando com o seu ápice no comício da Central do Brasil em 13 de março de 1964.
Esses três grandes movimentos foram derrotados pela força não apenas do grande capital, da mídia entreguista, do obscurantismo religioso, do golpismo endêmico dos militares da Cruzada Democrática, do imperialismo estadunidense e do grande latifúndio, mas também pelo espírito apático e conciliador de grupos políticos e de personalidades sem o menor espírito público e o devido comprometimento com o povo.
Hoje, praticamente seis décadas depois, a situação não mudou muito. Os mesmos atores sociais e políticos de outrora – alguns vestidos com uma nova roupagem – estão em ação. A UDN como partido pode ter morrido com o AI-2 em 1965, mas o udenismo continua firme e forte, merecendo de nós a firme e intransigente repulsa.
O grande capital, universalizado, cooptou em definitivo a burguesia nacional que não tem qualquer vínculo com o Brasil. A esquerda brasileira cometeu um grave erro, ao estimar como positiva o papel da burguesia nacional como o principal ator interessado pela agenda nacional-desenvolvimentista. Por sua vez, a grande mídia continua a atuar contra os interesses da nação e do povo, em sua vocação antipopular e entreguista; outrossim, a mídia alternativa nem sempre cumpre a sua função social. Os segmentos religiosos reacionários passaram a atuar como verdadeiros partidos políticos.
Os militares que seguem a Doutrina de Segurança Nacional (DSN) atuam em uma agenda antinacional, utilizando-se da Guerra Híbrida para fazer do país o refém dos caprichos do “Partido Militar” que engendrou a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, em um projeto político de poder. Já o imperialismo estadunidense continua agindo independentemente do partido ou corrente política que o representa; o grande latifúndio “avançou” em nome de uma modernização conservadora, através do agronegócio. Com um cenário tão adverso, as massas continuam apáticas e nem mesmo os que votaram nos partidos do campo democrático-progressista estão dispostos a lutar pelo país e pelos seus próprios direitos sociais e políticos.
O quadro só mudou porque, em face da bipolarização política, vivemos sob um governo que, em face das limitações conjunturais, é conciliador e que obnubila os sonhos e a agenda do povo que o elegeu com promessas de pequenas melhorias. Afinal, melhorias incapazes de realizar as grandes reformas que o Brasil precisa, em face de uma correlação política extremamente desigual e diminuta. São propostas que, oscilando entre o social-liberalismo e uma tímida socialdemocracia, estão aquém daquilo que o Trabalhismo Brasileiro sempre advogou para si ao longo dos seus 93 anos.
É chegada a hora de relembrar o que disseram e o que fizeram nossas lideranças trabalhistas e avançarmos, ao estilo da poesia que canta “quem sabe faz a hora não espera acontecer”.
O III Congresso Estadual do Movimento Cultural Darcy Ribeiro (MCDR-RS) é o momento propício e oportuno para projetar as nossas lutas e pautar as nossas prioridades. Não pode jamais um setorial como o nosso se abster desta tarefa.
Darcy Ribeiro, nosso patrono, outrora sentenciou: só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. Elejamos a segunda opção pois só ela remete à vida, à história e à tradição de lutas dos trabalhistas brasileiros.
O MCDR é o sinônimo efetivo de um movimento orgânico, dentro e fora do Partido, através da sua organização, capilaridade e robustez de ideário. Por isso, nós firmamos o compromisso de honrar e defender sempre as nossas convicções e direcioná-las para uma prática emancipadora do povo brasileiro, hoje e a qualquer tempo.
Saudações Trabalhistas!
MCDR Gaúcho PDT