Everton Gomes: Lula na China, uma reflexão necessária


Por Everton Gomes
13/04/2023

A viagem de Lula para a China se tornou objeto para uma série de especulações entre analistas, jornalistas, intelectuais e diversos atores políticos, tanto dos diversos espectros ideológicos do país quanto de abrangência mundial. Afinal, o terceiro governo Lula lida com a dura tarefa de recolocar o Brasil no cenário político-diplomático internacional, após um período baseado em profundas controvérsias através da orientação ideológica promovida no decorrer do Governo Bolsonaro em relação à política externa.

Diante de tais desafios e em face de um cenário econômico mundial, onde a China possui um grande e constante crescimento econômico – além de uma influência diplomático-comercial expressiva –, a ida do presidente Lula a este país tem gerado bastante controvérsias principalmente para os segmentos políticos associados às correntes de centro à direita. Afinal estes setores, ao longo da História do Brasil Republicano, sempre defenderam na sua concepção programática de que o desenvolvimento do Brasil estaria atrelado à adesão incondicional ao bloco estadunidense, seja nas políticas comerciais ou nas alianças diplomáticas.

Entretanto, os períodos históricos que o Brasil gozou de um maior desenvolvimento e crescimento foram aqueles em que o país teve uma orientação político-diplomática baseada em uma neutralidade ativa, independente da atuação política e ideológica de tais governos. Fosse com Vargas, JK, Jânio, Jango e até mesmo com Geisel, as políticas diplomáticas brasileiras se davam a partir do princípio de uma política externa independente. E isso não deixaria de ocorrer ao longo dos dois primeiros governos Lula e dos dois governos Dilma.

Afinal, este tema não deveria ser tratado com o exponencial estardalhaço que os segmentos liberal-conservadores, em sua incompreensão histórica e eivados de um profundo oportunismo, tentam impingir. Aliás, se este segmento, através dos seus respectivos intelectuais orgânicos, tivesse um mínimo de honestidade intelectual, entenderia as complexidades da conjuntura política associadas a este tema.

O próprio Getúlio Vargas, à frente da presidência em um dos períodos mais conturbados da história mundial na segunda metade da década de 1930 e no início dos anos 1940, faria uma série de diálogos não apenas com a Alemanha do Terceiro Reich como também com os Estados Unidos de Franklin Roosevelt, a partir da perspectiva de um projeto de desenvolvimento e de crescimento nacional. Isto não impediu que, mesmo com a linha de neutralidade ativa, Vargas optasse pelo seu alinhamento com os aliados no decorrer da II Guerra Mundial. Mas as negociações entre dois países de espectros ideológicos distintos no decorrer da segunda metade da década de 1930 fomentou ao Brasil diversos dividendos que promoveram o crescimento brasileiro a índices que culminariam com a construção de empresas estratégicas – incluído nelas a própria Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).

Porém, poucos afirmam que a condução de uma política diplomática, sem levar em conta os interesses nacionais, podem levar a consequências funestas – como, por exemplo, o acordo da Inglaterra e da França com Adolf Hitler, através do Acordo de Munique. Este “conclave”, à luz da tibieza e da covardia dos dirigentes franceses e ingleses, promoveu o avanço do IIII Reich e a deflagração posterior da II Guerra Mundial. Ou, aliás, recentemente, a própria política desastrada de Bolsonaro no âmbito das Relações Internacionais que pôs o Brasil em um profundo ostracismo.

 

*Everton Gomes é cientista político e secretário Municipal de Trabalho e Renda do Rio de Janeiro, e ex-presidente nacional da Juventude Socialista do PDT