A Educação, a Saúde e o Trabalho, além da assistência social, foram prioridades na Era Vargas. Juscelino Kubitschek prosseguiu com o projeto de Getúlio Vargas nesses setores e na questão do desenvolvimento econômico. A historiografia brasileira fala pouco do que fez João Goulart (Jango). Principalmente, pela Educação.
Deposto em 1964, pelos militares e por setores conservadores, que defendiam o capital estrangeiro, João Goulart – um fazendeiro que tinha curso superior – formou-se em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – entendia muito bem de administração e era um político que sabia dialogar.
Após a renúncia de Jânio Quadros, em agosto de 1961, a Campanha da Legalidade liderada por Leonel Brizola e a decisão de transformar o regime presidencialista em parlamentarista, votada e aprovada pelo Congresso, João Goulart tomou posse e recebeu a faixa presidencial de Ranieri Mazzilli, que estava interinamente na presidência e era o presidente da Câmara Federal.
A posse de Jango foi em 7 de setembro de 1961. Há 40 anos, portanto. As ideias visionárias da Era Vargas e a modernidade que caracterizou o governo de Juscelino Kubitschek se somaram à jovialidade do governo João Goulart.
O presidente Jango acolheu os projetos revolucionários de gênios como Paulo Freire, Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira. Três grandes expoentes da Educação brasileira. Os três educadores tiveram muita coisa em comum. Eles marcaram, de forma decisiva, as mudanças no setor que aconteceram no governo de João Goulart.
Paulo Freire criou o método de Educação de Adultos; Anísio Teixeira ajudou a criar escolas com propostas inovadoras em diferentes estados brasileiros; e Darcy Ribeiro, antropólogo de formação e educador incansável, implantou projetos elogiados em todo o mundo e escreveu muitos livros.
Formado em Direito pela Universidade de Recife, Paulo Freire preferiu dar aulas de português em escolas do ensino médio. Em 1963, o número de analfabetos no Brasil chegava a 40% da população, entre adultos e crianças.
Preocupado com a realidade social do Nordeste, Freire, com seu novo método de alfabetizar, em 45 dias conseguiu fazer ler e escrever trabalhadores rurais de um pequeno município do Rio Grande do Norte. Seu vitorioso método, desejado a adultos e jovens, serviu como experiência para todas as regiões do Brasil e, também, para o mundo.
Um dos principais responsáveis pelas grandes mudanças que marcaram a Educação nos anos 60, Anísio Teixeira, no governo de João Goulart, em Brasília, esteve à frente da missão de estabelecer o sistema de Educação Pública do Distrito Federal e, junto com Darcy Ribeiro, idealizou implantou a Universidade de Brasília.
Formado em Direito, no Rio de Janeiro, em 1922, Anísio Teixeira foi nomeado secretário de Educação de Salvador, com apenas 24 anos. Também na década de 20, ele cursou mestrado na Universidade de Columbia, nos EUA. Influenciado pelo educador John Dewey, seu grande mestre, defendeu a escola pública, gratuita e obrigatória. Na Bahia e em Brasília criou o conceito de escolas-parque, que funcionavam como complemento das escolas-classe.
Antropólogo, sociólogo, escritor e político, Darcy Ribeiro formou-se em 1946, em Ciências Sociais, na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, e, em 1956, passou a dirigir o Museu do Índio. No final dos anos 50, Darcy Ribeiro conheceu Anísio Teixeira e foi trabalhar no INEP, criado por Anísio Teixeira.
O Sistema Educacional do DF e a UnB foram sonhados por Juscelino Kubitschek, que convidou Anísio Teixeira para implantar os dois projetos. Mas, a execução e a inauguração só aconteceram em 1962, no governo de Jango. Darcy Ribeiro foi o primeiro reitor da Universidade de Brasília.
Chefe da Casa Civil de João Goulart, foi obrigado a exilar- se no Uruguai e todos os projetos de Educação Pública para o Brasil foram interrompidos, com o golpe militar de 1964. No exílio, Darcy Ribeiro ajudou na reorganização da Universidade do Uruguai e, depois, em Argélia, da Universidade de Argel.
Quando Leonel Brizola assumiu seu primeiro governo no Estado do Rio de Janeiro, em 1983, implantou, ao lado de Darcy Ribeiro, os Centros Integrados de Ensino Público, projeto pedagógico inspirado nas concepções de Anísio, que garantia assistência em tempo integral aos estudantes com atividades recreativas e culturais para além do ensino formal.
* Everton Gomes é cientista político e secretário nacional de Relações Internacionais e Institucionais da Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini (FLB-AP).