O deputado estadual Goura Nataraj (PDT-PR) entregou, nesta segunda-feira (20), Dia Nacional de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra, menções honrosas para organizações e pessoas que se tornaram referências para a luta antirracista no Paraná.
Para a professora e contadora de histórias Samara Rosa “receber essa menção honrosa dentro da Assembleia, onde a maioria é formada, como sempre, por homens brancos e trazer essa pauta da luta antirracista é fundamental.”
“Mostrando a nossa existência, trazendo os diversos setores em que nós estamos presentes é que vai fazer com que essa opressão que acontece da nossa existência, vá diminuindo. É sensibilizar, é conscientizar a população que também está ali, que acompanha o trabalho dos deputados e das deputadas e de outras pessoas que se negam fazer esse trabalho de reconhecimento”, disse ela.
O deputado Goura ressaltou que o papel das pessoas brancas que usufruem de privilégios sociais e econômicos vindos de uma economia baseada no trabalho de pessoas negras, outrora escravizadas, é no mínimo tentar equilibrar essa balança.
“Reconhecer que o racismo existe é um primeiro passo, mas ainda é pouco. É preciso reconhecer a valorosa contribuição da população negra na construção da economia, da cultura, da identidade, dos valores, da memória e da riqueza do povo paranaense”, afirmou.
“É preciso lutar contra a invisibilidade que insiste em tentar apagar da história, pessoas que ‘trabalham e cuidam’ e mesmo assim são esquecidas na distribuição de renda, no acesso à saúde, nos espaços de poder, na proteção do estado, na propaganda da TV”, disse Goura.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2018, 34% da população paranaense era negra. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, publicada pelo IBGE, o número de pessoas negras, ou seja, que se autodeclararam pretas e pardas, constitui 56% do total da população brasileira em 2022 (IBGE, 2022).
Importância da celebração da Consciência Negra
Samara Rosa destacou que a data lida com as memórias e mostra a resistência negra, a luta de um movimento que quer mostrar a importância da valorização, dos direitos e de todas as reflexões históricas que trazem os povos negros.
“Receber essa menção honrosa é muito marcante, muito simbólico, principalmente em um estado, em uma cidade em que se nega a existência dos povos negros, que constantemente estamos tendo que reafirmar a nossa contribuição histórica, seja braçal pelos nossos antepassados ou da forma intelectual do planejamento de pessoas negras dessa cidade e desse estado”, disse.
Ela afirmou que se hoje é possível ocupar este espaço, com várias mulheres e vários homens de diversos setores, pessoas negras mostrando sua existência e sua resistência, é porque muitos outros lutaram pra que isso pudesse acontecer.
“Estou muito honrada e feliz porque o deputado Goura fez essa homenagem digna para que todas as pessoas se sintam representadas, principalmente nesta data que lembra da força e da importância da luta negra para que a gente construa uma sociedade antirracista”, finalizou.
A professora Marcia Reis, que juntamente com o professor Ivan Luiz, recebeu a menção honrosa em nome do Movimento Negro do PDT de Araucária, falou sobre a importância da celebração da data.
“Sou grata ao deputado Goura por homenagear a ancestralidade negra, num espaço de poder do qual aos meus foi negado ocupar. Me senti feliz por fazer parte desse momento da história”, disse Marcia.
Para o professor Ivan, a homenagem é um reconhecimento e valorização da efetiva luta que o movimento Negro do PDT Araucária realiza na cidade junto com outros movimentos e entidades que buscam combater o racismo, bem como levar uma educação antirracista e um letramento racial para que a equidade racial seja realidade não só no município, mas em todo o estado.
“É fundamental fazer com que as pessoas entendam que o letramento racial é uma condição sem a qual nós não chegaremos nunca a uma sociedade mais igualitária, a uma cultura mais igualitária e que de fato promova a igualdade entre as mais diversas etnias”, completou.
“Eu tive a oportunidade de estar acompanhado da minha filha mais velha, a Isadora Dias, e isso foi muito significativo pra ela entender que há todo um processo, uma história de conquista e resistência de Zumbi, de Dandara e demais palmarinos em todo o país”, observou Ivan.
Homenagens
Além de Samara Rosa e do Movimento Negro do PDT Araucária, receberam a homenagem a Secretaria de Estado da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa; Editora Humaitá; Instituto Afro Brasil; Rede de Mulheres Negras do Paraná; Federação Estadual das Comunidades Quilombolas do Paraná – FECOQUI; ONG Usina de Ideias; Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFPR – NEAB; Movimento da Marcha do Orgulho Crespo de Curitiba; Fórum Paranaense das Religiões de Matriz Africana – FPRMA; Bloco Afro Pretinhosidades; Bloco Princesas do Ritmo; Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as – ABPN; Ivanete Xavier; Ilton Gonçalves da Silva; Adriana Oliveira; Dora Lúcia Bertúlio; Claudemira Vieira Gusmão Lopes; Vani Rodrigues dos Santos; Angela Martins; Ivaldo Paixão; Yá Gunan – Adalzira Aparecida; Delton Aparecido Felipe; Letícia Costa; Glory Gnm Nkialulendo; Brenda Santos; Amanda Kissua; Ana Maria; Santos da Cruz; e Donizete Pedro dos Santos.
Lei Federal
A instituição do 20 de novembro como Dia Nacional de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra se deu pela Lei Federal n.º 12.519, de 2011. Esta data se tornou um marco para celebrar e debater a importância do povo e da cultura africana e sua contribuição para o desenvolvimento do país, bem como uma data para reforçar a necessidade do compromisso do Brasil com o respeito aos direitos da população negra.
Zumbi foi morto em 1695, na referida data, por bandeirantes liderados por Domingos Jorge Velho. A data de sua morte, descoberta por historiadores no início da década de 1970, motivou membros do Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial, em um congresso realizado em São Paulo, no ano de 1978, a elegerem a figura de Zumbi como um símbolo da luta e resistência dos negros escravizados no Brasil, bem como da luta por direitos que os afro-brasileiros reivindicam.