De volta à Funai, Sesai e com Ministério próprio, indígenas voltam a ter voz no Brasil


Da Redação
19/04/2023

Em entrevista, Rafael Weree faz um balanço da luta dos povos originários nos últimos anos

 

A luta indígena no Brasil tem avançado, apesar dos retrocessos recentes e da tentativa do bolsonarismo de minar suas pautas e promover o ódio e a desinformação sobre os povos originários. O fato é que eles se defendem há 523 anos, a fim de preservar suas vidas e suas culturas. Recentemente, com a chegada do governo Lula, foi criado o Ministério dos Povos Indígenas e órgãos como a Funai foram reocupados, retomando a esperança dessas populações. Mesmo assim, ainda há muito a ser conquistado para que se faça justiça.

Hoje (19), “Dia dos Povos Indígenas”, o portal do PDT entrevista o presidente nacional do Movimento Indígena do partido, o xavante Rafael Weree, sobre a evolução do Estado brasileiro na garantia de direitos. De acordo com o pedetista, o cenário brasileiro mudou sensivelmente e agora vive momento mais favorável aos povos originários, embora haja muito a se recuperar em primeiro momento.

Weree ainda fez um balanço da resistência indígena ao longo do governo anterior, acusando o genocídio que tirou milhares de vidas pelas aldeias do país, e alertou para a continuidade da luta, “ainda que espaços tenham sido conquistados”. De acordo com o xavante, é necessário se manter alerta para evitar retrocessos e atender as demandas das populações originárias.

 

Para começar, gostaria que você explicasse a mudança da nomenclatura da data de “Dia do Índio” para “Dia dos Povos Indígenas”. O que essa mudança representa?

A mudança de nomenclatura é importante para o reconhecimento da diversidade indígena. Isso mostra que não existe apenas um grupo indígena, mas que, na verdade, são diversos povos e nações com línguas e culturas próprias. O termo índio tira a diversidade, desconsiderando a pluralidade de nossas riquezas culturais, e não deve ser mais usado porque perpetua o preconceito e a ignorância, além de dificultar a nossa luta que tem demandas diferentes em cada povo.

 

Os últimos quatro anos foram de retrocesso no direito dos povos originários. Incentivando o garimpo e a exploração ilegal das florestas, o governo anterior provocou, inclusive, genocídio indígena, como no caso dos Yanomami. O que se perdeu durante o pesadelo Bolsonaro? Qual o balanço que você faz do período?

Perdemos muitas vidas durante a pandemia e tivemos muitas invasões nas nossas terras, onde se fixaram milhares de garimpeiros e exploradores ilegais. Foram quatro anos de uma luta muito difícil em que fomos prejudicados pelo governo Bolsorano, um governo genocida que provocou a morte de muitos parentes pelo país, sendo os Yanomami o maior exemplo. Além do abandono do Estado, o bolsonarismo alimentou o ódio contra as populações indígenas do país e fez grande campanha de notícias mentirosas sobre os nossos modos de vida. Foi o pior período para as nossas populações na história recente, mas resistimos.

 

Em contrapartida, o atual governo Lula empoderou os indígenas, reocupando a Funai e criando o Ministério dos Povos Indígenas, por exemplo. Essas ações representam avanço?

É esse o caminho da luta indígena dentro da democrática de verdade. O que fizeram no governo anterior foi uma coisa fora do normal, que lembra a exploração dos primeiros séculos [do país]. A sociedade tem que estar atenta para que não aconteça novamente. Por outro lado, não dá para negar que o atual governo está nos ajudando a avançar em nossos direitos. Antes a gente estava excluído da direção de órgãos como a Funai, muito importante para nós. Agora, fomos empoderados e lideramos Funai, Ministério dos Povos Indígenas e Sesai. Assim, a gente consegue seguir e orientar o estado nas nossas verdadeiras pautas. Precisamos continuar a luta.

 

Quanto à demarcação de terras, o que se perdeu, o que está sendo recuperado e onde é preciso avançar?

Como parte do ataque aos povos indígenas, o governo anterior paralisou a demarcação de terra provocando atraso, retrocessos e mais invasões. O que nós esperamos agora é que retomem as demarcações o quanto antes para evitar que a gente perca ainda mais. O direito a terra é extremamente necessário para preservação da vida e da cultura indígena, além do próprio meio ambiente.

 

Quais políticas públicas precisam ser fomentadas para atender as demandas dos povos originários do Brasil? Quais as maiores carências e como supri-las?

As demandas dos povos indígenas são muitas e diversas, o que depende da realidade de cada povo. Alguns querem apoio para o desenvolvimento da agricultura familiar, muitos estão em busca de demarcação de terra, o que é uma demanda antiga, tem quem precise de assistência à saúde com a atenção especial que o povo indígena exige… Enfim, muito ainda precisa ser feito e é fundamental que a legislação acompanhe os avanços.

 

Quais espaços ainda precisam ser ocupados pelos indígenas na sociedade brasileira para que não se percam avanços e para avançar ainda mais?

Precisamos aumentar a participação na política, ocupar os espaços de poder e atuar na formatação de políticas públicas para melhoria da vida dos indígenas e garantia de direitos. Só assim vamos conseguir defender a nossa causa e avançar na questão política, nas esferas municipal, estadual e federal. Educar a sociedade sobre a causa indígena também é muito importante para legitimar nossos esforços pela preservação dos nossos povos e do meio-ambiente. A luta continua.