Um ano de escândalos e de crise econômica


Por Ângela Portela
12/05/2017

Acaba de se completar um ano que, ajudado por Eduardo Cunha e com apoio de grupos conservadores do Congresso, Michel Temer chegou à presidência da República. Já antes de assumir o cargo, acenava com a promessa de melhorias significativas na economia brasileira.

Adotou uma plataforma afinada às grandes empresas, em especial às multinacionais, e ao capital externo. Os resultados têm sido catastróficos, em especial para quem mais precisa do estado, como os trabalhadores, as mulheres, os jovens, os idosos, os que estão nas faixas de menor renda.

De lá para cá, como se sabe, tudo piorou. Na verdade, não poderia ser de outra forma. Trata-se de um governo sob suspeita.

Ao menos dez ministros foram citados em investigações. Vários já precisaram ser substituídos e muitos já deveriam ter sido. Sucederam-se escândalos, um após o outro. Do ponto de vista político, é um governo sem credibilidade.

As propostas centrais dos partidários de Temer, vindas dos tempos em que seu grupo preparou o programa batizado de “Ponte para o Futuro” eram a criação de empregos e a melhoria dos investimentos. Houve o contrário: aumento do desemprego, explosão da dívida pública e queda no padrão de vida da população.

Há um ano, a taxa de desemprego estava ligeiramente acima de 11,2%. Hoje, é superior a 13%. São 14 milhões de desempregados. A retração do Produto Interno Bruto bateu um recorde, sendo superior a 2%. Com isso, caiu também a renda per capita dos brasileiros. Ficamos todos mais pobres.

A promessa era acertar as contas do governo. Também aí ocorreu o contrário. O déficit público bateu os R$ 156 bilhões ao ano. Não é de se estranhar. Agora sim existe uma gastança.

Na administração direta, liberaram-se já mais de R$ 3 bilhões para pagamento das emendas parlamentares, o preço para deputados e senadores dos partidos aliados votarem medidas impopulares como a emenda que impôs teto aos investimentos sociais, a reforma trabalhista ou a reforma da Previdência.

Processo semelhante ocorre na administração indireta. Se ainda no governo anterior sancionou-se a Lei das Estatais, para moralizar sua gestão, neste último ano verificou-se um verdadeiro leilão de cargos, igualmente com o objetivo de agregar maioria capaz de cumprir sua agenda antipovo.

Partiu do próprio Planalto a alegação de que se reduziu a inflação e que se baixaram os juros. Sim, a inflação caiu. Mas nada há a comemorar, uma vez que isso se fez ao custo de reduzir o poder aquisitivo da população. Se ninguém tem com que comprar, evidentemente há queda nos preços.

Da mesma forma, é falseada a redução da taxa de juros. Sim, a taxa básica do Banco Central caiu de 14,25% para 11,25% nos 12 meses que se passaram até maio de 2017. Entretanto, se essa taxa for calculada em termos reais, descontada a inflação, constata-se que os juros reais na verdade aumentaram para o consumidor.

A propósito, as taxas permanecem astronômicas quando anualizadas: superam 400% no cartão de crédito e são ainda maiores no cheque especial.

A economia, portanto, vai mal: o desemprego só aumenta, a indústria perde terreno, os juros crescem em vez de cair, o poder aquisitivo da população baixa a olhos vistos. O governo Temer, de seu lado, insiste no que seriam medias corretivas, na verdade uma agenda cruel que transfere para os trabalhadores o custo da crise.

​O pior de tudo, porém, é se aproveitar de uma crise sem precedentes para, acenando com uma recuperação que nunca aparece, adotar uma série de medidas cruéis. As vítimas dessa crueldade são as faixas de população com menor renda, os trabalhadores em geral, as mulheres, os agricultores pobres, os jovens que buscam ampliar a escolaridade e os que tentam ingressar no mercado de trabalho.

A chamada reforma trabalhista e a reforma da previdência são os melhores exemplos disso. Tornaram-se o centro das preocupações do governo, que pressiona o Congresso para aprova-las.  Caso isso ocorra, será o maior esbulho de direitos ocorrido no Brasil em todos os tempos.

Um ano se passou desde a posse do governo Temer. Foi um ano de escândalos, de corrupção, de deterioração da economia, de desemprego, de perda de poder aquisitivo, de precarização das relações de trabalho e de desmonte da máquina estatal. Um horror.

 

 *Ângela Portela é senadora pelo PDT.