A notícia de que o PDT terá 27.358 candidatos nessas eleições municipais, somando o quinto contingente entre os partidos, reflete a tenacidade com que Carlos Roberto Lupi preside a legenda brizolista, apesar de todos os golpes pérfidos que recebeu a partir do dia em que quis implantar o ponto eletrônico nas empresas e que deu um chega pra lá na toda poderosa Kátia Abreu, arrogante cabeça dos com”muitas terras”, evitando, por sua conta e risco, que ela assumisse o controle do FAT, como estava combinado entre confederações patronais.
Como observei na época do jogo sujo que levou ao seu afastamento do Ministério do Trabalho, o que se projetou na campanha montada com o apoio de empresários intocáveis foi muito mais do que derrubar um incansável ex-jornaleiro da pasta que ganhou dimensões emblemáticas com a queda de João Goulart, a partir do “manifesto dos coronéis” de 1953. Queriam também rachar e esvaziar o legado brizolista.
Com todas as debilidades por ser o alvo central das conspirações reacionárias mais esquizofrênicas, o partido fundado por Leonel de Moura Brizola depois que o general Golbery lhe surrupiou o PTB sempre será uma referência histórica, porque a sua rebeldia intrínseca ainda povoa o imaginário popular, ainda que, pelo que já disse, isso não se converta necessariamente no turbilhão de votos que se presumia quando da volta do caudilho.
Direita apostou no fim do brizolismo
Em 2004, quando da morte inesperada de Brizola, os bolsões da intolerância festejaram o que seria o fim de uma época principiada por um Getúlio Vargas mais consciente e consolidada de forma serena e firme por João Goulart, cuja contribuição profunda ao crescimento político do país ainda está por ser devidamente estudada.
Havia uma “certeza” entre os analistas de encomenda de que sem a figura carismática de Brizola, expressão epidérmica de um sentimento nacionalista inquebrantável, o PDT seria fechado e seus sobreviventes bateriam às portas dos vizinhos para pedir acolhida.
Até hoje tenho minhas dúvidas sobre a morte do velho líder, assim como já começam a aparecer os sinais de assassinato de Yasser Arafat, o único personagem com poderes reais de unificar o povo palestino na construção da nação que lhe subtraíram.
A direita entreguista podia engolir qualquer um, menos aquele que nacionalizara a energia e a telefonia no Rio Grande do Sul, na década de 50, quando o poder de fogo dos trustes no Brasil era inquestionável.
Não podia engolir muito menos aquele intrépido governador que, aos 39 anos, sem nenhuma articulação prévia, frustrou o primeiro grande golpe ao erguer barricadas e entregar armas ao povo para garantir a posse de João Goulart.
Certas coisas se tornam “questão de honra” para quem tem o cacoete atávico de dar as cartas e determinar os rumos de um país segundo os seus interesses insaciáveis. Brizola estava no topo de todas as listas revanchistas e tudo o que aconteceu no Brasil a partir do apodrecimento da ditadura tinha como preocupação central impedir que ele chegasse a Brasília ou que construísse um partido com potencial de resistência indomável.
Vivendo e convivendo com a natureza dos políticos arrivistas, que dele se aproximavam quando estava na crista da onda, mas dele se afastavam quando alquebrado pelos golpes implacáveis do conservadorismo, Brizola escolheu Carlos Lupi como seu parceiro mais confiável, num movimento atípico, mas de uma simbologia transcendental: na última Executiva que presidiu, fez questão de delegar a ele dois cargos – o de vice-presidente e o de tesoureiro.
Foi nessa condição que o ex-jornaleiro, já com formação superior na universidade, mas sobretudo com a capacidade organizadora que aprendeu na roda vida alucinante de um jogo de poder perverso, assumiu a responsabilidade de não deixar a bandeira do brizolismo cair jamais.
Só hoje, quando já não estou no PDT, depois de engrossar a ciumeira dos que não tinham a sua garra e a capacidade de trabalho, depois de cometer algumas injustiças com sua figura, posso avaliar o quanto foi decisivo para a sobrevivência da legenda brizolista a enorme e inesgotável capacidade de fazer política e arrumar a casa desse dirigente simplório, cuja capacidade de costurar situações não tem comparação: assim aconteceu na defesa da candidatura próprio em Niterói, na consolidação da aliança em torno de Ronaldo Lessa em Maceió, no fortalecimento de José Fortunati em Porto Alegre e na assimilação de Gustavo Fruet em Curitiba, isso sem deixar de citar a habilidade como operou a agregação dos partidos progressistas em torno de Alexandre Cardoso, do PSB, na inquieta cidade de Duque de Caxias.
A notícia divulgada pela Rede PDT é resultado de qualidades imprescindíveis, mas raras na vida política brasileira: disposição para o trabalho 24 horas, destreza, tolerância, capacidade de absolver os golpes traiçoeiros como bom cabrito e visão lúcida do dia seguinte.
Um crescimento de dar gosto aos brizolistas
Pelas informações reunidas, além de conservar a Prefeitura de Porto Alegre, Niterói, São Gonçalo, Nova Iguaçu, e São João de Meriti, o PDT disputa em condições competitivas em cidades importantes como Natal, Maceió, Curitiba, Londrina, Caxias do Sul, Ponta Grossa, Cascavel, Campinas, Santo André, Imperatriz, no Maranhão, Feira de Santana, na Bahia, e Serra, no Espírito Santo.
Ao todo, o PDT terá 848 candidatos a prefeitos, 925 a vices e 25.585 a vereadores, sendo a quinta legenda em números de postulantes no país.
Isso representará um crescimento significativo para a legenda brizolista, credenciando-a para futuras negociações no pleito de 2014, quando haverá a sucessão presidencial e dos governadores.
Para quem, como eu, exerceu todos os mandatos e todos os cargos no Executivo na representação do brizolismo, para quem tem dificuldade de explicar aos eleitores tradicionais porque troquei o 12 pelo 40, que, ao fim ao cabo têm a mesma vertente ideológica, é uma obrigação exprimir minha alegria diante da pujança do trabalhismo progressista.
E mais: esta é a hora de dizer a mim mesmo o quanto estava certo quando posicionei-me com a paixão de sempre, denunciando o complô que levou ao afastamento de Carlos Lupi do Ministério do Trabalho, posto em que bateu recorde de permanência e que dificilmente será suprido por quem quer que seja, porque são muitas raras as pessoas que, no primeiro escalão da República, conservam o mesmo número de celular dos tempos em que era apenas o carregador de piano do partido a que hoje empresta toda a experiência acumulada desde a sua fundação.
Os brizolistas históricos, dentro e fora do PDT, devem esse reconhecimento a Carlos Lupi e o mais que eu desejo é que sua enorme capacidade de trabalhar, compor e liderar seja assimilada internamente, para além das mesquinharias, como fator de soma fundamental para que o legado do velho líder não seja esquecido jamais.
Pedro Porfírio
Jornalista e ex-vereador no Rio de Janeiro