O Coronavírus (Covid-19) só explicita algo que há muito vem sendo exposto: nosso despreparo para o enfrentamento de uma pandemia. Em 2017, a Flight Aware anunciou que monitorou os voos oficiais do ano anterior e revelou os números a que chegou: em média, 9.728 aviões cortaram os horizontes de todo o mundo, de forma simultânea, a todo instante, naquele 2016, com 1,27 milhão de pessoas em trânsito, viajando para um dos mais de 49 mil aeroportos oficiais do planeta. Se em tempos passados vírus e/ou bactérias eram bloqueados em local específico do mundo, hoje a possibilidade de expansão, causando uma pandemia, é explícita.
Daí segue a pergunta que titula este artigo: Que mundo emergirá do Covid-19? Ainda há muito enfrentamento pela frente, a doença chegou agora à América do Sul e Continente Africano, atingindo áreas pobres do planeta.
Teremos tempos difíceis. Mas o que nos restará de lição? Saberemos ouvir Miguel de Cervantes, que nos ensina que a história é a “advertência do futuro”? Afinal, o Covid-19 é perigoso, principalmente para idosos, mas pandemias de maior letalidade podem e devem existir no futuro.
Em editorial de 11 de março, na renomada Science, o cientista H. Holden Thorp critica a diminuição dos investimentos em pesquisas do governo Donald Trump em contraposição a suas cobranças por uma vacina para a Covid-19: “Agora, o presidente, de repente, precisa de ciência”. Quase ao mesmo tempo, circulou na internet fala creditada a uma bióloga, com foto da ministra da Agricultura da Espanha, Isabel García Tejerina, sobre os milhões de euros pagos a Cristiano Ronaldo e Messi, enquanto se quer que um cientista, quase sempre mal remunerado, ache a cura para o Covid-19. “Perguntem ao Cristiano e ao Messi qual a cura”, é a conclusão do texto.
Entortamento da origem da fala à parte, a questão é pertinente. Mas difícil de ser tratada no mundo hoje posto. Tanto que não poucos jornalistas escreveram em defesa dos milionários salários dos atletas.
Interessante trazer à discussão o recente relatório da Oxfam Internacional, atuante em mais de 90 países. Segundo seus números, os 2.153 bilionários do mundo têm mais riqueza do que 4,6 bilhões de pessoas – ou seja, cerca de 60% da população mundial.
Se o mundo que emergir após a Covid-19 nada aprender com a pandemia, essa continuará a ser a nossa realidade, para alegria dos que acham normal os enormes ganhos de alguns em detrimento da maioria. Se o mundo que emergir pretender ser diferente, os que sobreviverem terão que enfrentar as questões da distribuição de renda e do fortalecimento de pesquisas que tragam benefícios ao conjunto da população mundial, na busca pela reconquista do bom senso, esse valor que perdemos nesse capitalismo que atingiu o “teto extremo”, em palavras do professor e escritor Leonardo Boff.
Para que as mortes pela Covid-19, que não serão poucas, ao menos não sejam em vão.
*Edson Rodrigues é jornalista, dramaturgo, mestre em Cultura e Sociedade e diretor do movimento Negro do PDT Bahia