“A pobreza indignava Jango”, declara Ciro Gomes


Osvaldo Maneschy e Apio Gomes
05/04/2019

Para Ciro Gomes, qualquer brasileiro que conheça e ame a História da Nação, conhece a trajetória política de João Goulart: o único presidente a morrer no exílio. Segundo Ciro, “Jango pegou a batata quente da renúncia de Jânio Quadros” e precisou enfrentar, com a tentativa dos militares de impedirem a sua posse, com habilidade, aquele momento difícil que o obrigou – enquanto retornava da China; e Brizola sublevava em armas o Rio Grande do Sul para garantir sua posse, através da Campanha da Legalidade – a pular de aeroporto em aeroporto.

Ciro lembrou que naquele tempo, diferente de hoje, a população votava no presidente e no vice, separados; e que na sua sabedoria, o povo simultaneamente ao eleger Jânio, que tinha como símbolo de campanha uma vassoura que acabaria com a corrupção, sufragou também o nome de João Goulart, trabalhista, herdeiro político do presidente Vargas que se suicidara em agosto de 1954 após escrever a Carta-Testamento, que Darcy Ribeiro e Leonel Brizola consideravam o maior documento político da História do Brasil.

Segundo Ciro, embora sua família fosse grande proprietária de terras, desde garoto Jango sentia-se mal com a distância que existia – e ainda existe hoje no Brasil – entre ricos e pobres. “Jango cresceu sob esta influência: tinha patrimônio; mas, contraditoriamente, quanto mais adulto mais indignado ficava contra a miséria, a pobreza e a desigualdade dos brasileiros”.

Na opinião de Ciro, Jango era “um homem cordial, bonito e casado com uma mulher linda”, mas permanentemente indignado com a pobreza. Inicialmente com seus poderes limitados pelo parlamentarismo, depois do plebiscito Jango retoma os plenos poderes do presidencialismo “e parte para cima das chamadas reformas de base”, o que desencadeia violenta reação da direita dentro e fora do Brasil.

“Nossa elite nunca foi solidária com os brasileiros mais pobres”, frisou Ciro.
No depoimento, Ciro fala também do momento conturbado que antecedeu ao golpe de 64 e também do empenho do governo dos Estados Unidos em criar dificuldades para o presidente João Goulart, inclusive infiltrando radicais, como cabo Anselmo, nas Forças Armadas para aumentar a confusão.

O golpe veio e, segundo Ciro, se Jango quisesse reagir, poderia reagir. Mas ele preferiu evitar o derramamento de sangue, optando pelo exílio, onde morreu. Exatamente na época em que as ditaduras latino-americanas se uniram em torno da Operação Condor para eliminar as grandes lideranças políticas da América Latina – como o próprio Jango.
“Devemos muito a este grande brasileiro: João Goulart”, finalizou Ciro.

Confira a entrevista completa abaixo: