The Intercept está de parabéns pelo show que foi este primeiro mês de divulgação das conversas que demonstram a real intenção e as práticas do Ministro da Justiça e de pelo menos boa parte dos procuradores da Lava Jato. Fica claro que se há alguém que não respeita as instituições neste país, essa pessoa é o próprio Ministro da Justiça. Por isso, quando te disserem que o problema do país são as instituições, você pode até concordar, mas lembre-se; quem deveria comandar o resgate das instituições está, já há muito, contribuindo para afundá-las.
Além de parabenizar The Intercept, quero chamar a atenção para uma matéria da Época desta semana, que se intitula “O braço americano da Lava Jato”. Nela foi entrevistado o embaixador dos EUA no Brasil até 2013 e que posteriormente foi conselheiro do Departamento de Estado norte-americano. Vale a leitura. Fica claro que o interesse dos americanos na Lava Jato era dinamitar a Odebrecht porque ela estaria financiando governos de esquerda na America Latina (e não estou falando de Venezuela e Cuba, pois o próprio ex- embaixador teria afirmado que os EUA tinham interesse na aproximação com esses dois países).
Em certo ponto da matéria da Revista Época, nota-se que o problema maior seria o projeto do Brasil de transformar o Mercosul em um mercado maior, sul-americano (certamente com força para negociar), ao contrário do que desejam os EUA, que é a Área de Livre Comércio das Américas, tema que, ao que tudo parece, voltará à pauta.
No fundo, a preocupação dos EUA é com a nossa soberania e o papel que poderíamos assumir geopoliticamente na America do Sul, ainda mais com a exploração do pré-sal. Essa é a questão, e o combate à corrupção – muito importante, concordo -, parece ser só o pretexto para essa estratégia. Afinal, se fosse essa a preocupação principal, porque o Ministro da Justiça não tinha interesse na delação de Eduardo Cunha?
A corrupção tem que ser combatida? Sim, sem dó. As empresas devem ser preservadas e os dirigentes penalizados? Sim, até para não perdermos os empregos e a expertise nacional na área, como estamos perdendo. Lula e o PT erraram? sem sombra de dúvidas, e muito; não os defendo e não os defenderei. Mas fica cada vez mais claro que os EUA estão mesmo interessados não é no combate à corrupção ou na entrada de suas empresas no mercado de grandes obras – ambas explicações não faziam muito sentido para mim. Eles estão preocupados mesmo é em eliminar qualquer tentativa de defesa ou ampliação de nossa soberania nacional e comprar as empresas brasileiras que interessam a eles, como a Embraer e, aos poucos, partes da Petrobrás, já que privatizá-la é muito difícil. Ao apontar os erros do PT através da Lava Jato, buscam também colocar todos que defendem os interesses nacionais no mesmo saco, para enfraquecer os argumentos desses últimos. É claríssima a estratégia, e mostraremos o tempo todo os problemas que a sua aceitação nos trarão.