Coerência. De acordo com o dicionário da língua portuguesa, a palavra significa “congruência, harmonia de uma coisa com o fim a que se destina”. A história do PDT sempre foi coerente. O partido nasceu combatendo a tirania, tomando como bússola a promoção da justiça social. Foi assim desde a criação dos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps) de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro à atual defesa da democracia e do Estado brasileiro, gravemente ameaçados pelo desgoverno em vigor.
Retornando à origem do PDT, lá na Revolução Trabalhista de 1930, é possível atestar a consistência em seu propósito. Getúlio Vargas reformou o Estado, deu dignidade aos trabalhadores e construiu aqui o conceito de soberania nacional. Anos mais tarde, Brizola impediu o intento autoritarista militar via Campanha da Legalidade e garantiu a posse constitucional do presidente João Goulart. Em 1964, veio o golpe para frear o coerente trabalho de Jango pela redução da desigualdade no País: as reformas de base.
Passados os anos de chumbo, retornando do exílio, Leonel Brizola deu continuidade ao projeto trabalhista. Fundou o PDT, foi governador do Rio de Janeiro e desenvolveu os Cieps – atendendo a milhões de famílias fluminenses. Mais tarde, a coerência pedetista ficou estampada na passagem de Carlos Lupi, presidente da legenda, pelo extinto Ministério do Trabalho. Em sua gestão, o Brasil experimentou o pleno emprego pela primeira e única vez em toda a história.
É atestado que a narrativa da imprensa e da burguesia nacionais subverte a lógica política e induz o cidadão ao erro. De que outra maneira explicar o resultado das eleições presidenciais de 2018? Ciro Gomes tentou, concorreu, manteve – e mantêm – um discurso coeso, corroborado por sua trajetória política e pela história do partido que integra, e perdeu. Mas perdeu apenas o pleito, porque tem ganhado no acerto das previsões que fez a respeito da derrocada brasileira.
Hoje o país está mergulhado em uma crise de saúde, estratosfericamente inflada pela crise política armada pelo próprio Governo Federal. E o PDT segue no papel que lhe cabe, defendendo o povo com propostas no Legislativo e ferocidade no Judiciário: foi o primeiro partido político a apresentar um pedido de impeachment contra Jair Bolsonaro e tem apresentado ações em diferentes instâncias judiciais contra a política genocida do mandatário brasileiro.
O PDT luta hoje, sobretudo, contra a incoerência. A palavra traduz fidedignamente a postura do grupo no poder Executivo nacional. A famigerada reunião ministerial de 22 de abril deste ano é a pintura completa: mais de dois mil mortos pelo Covid-19 e nenhum debate sobre medidas para conter a pandemia; o ministro do Meio Ambiente defendendo a destruição do… meio ambiente; “defensores da democracia” querendo armar a população, fechar o Congresso e prender ministros do STF; “contra a corrupção”, o presidente da República quer controlar a Polícia Federal e barrar investigações contra amigos e familiares.
A luta é permanente e, por vezes, inglória. O PDT completa 40 anos de legenda e 80 de história fazendo o que sempre fez: defendendo o povo, a democracia e a liberdade. A aspiração mais urgente do partido – partilhada por grande parte do país – é a impugnação do grupo bolsonarista no poder e a retomada do vilipendiado estado democrático de direito. Para isso, insiste na necessidade de impeachment.
A incoerência deve ser destituída a fim de que o debate coerente retorne ao cenário político do Brasil.