PDT pede que PGR investigue Carla Zambelli por tráfico de influência e crime de advocacia administrativa


Por Elizângela Isaque
26/05/2020

Nesta terça-feira (26), o PDT entrou com uma representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) contra a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) por possível tráfico de influência e crime de advocacia administrativa (crime praticado contra a Administração Pública por funcionário público). A petição tem como base declarações da parlamentar que, em entrevista ontem (25) à Rádio Gaúcha, demonstrou ter informações privilegiadas sobre investigações da Polícia Federal. Zambelli afirma que a instituição (PF) estava prestes a deflagrar operações para investigar irregularidades cometidas por governadores durante a pandemia da Covid-19.

Na representação, o PDT destaca que, “curiosamente”, nesta terça-feira (26), a Polícia Federal deflagrou a “Operação Placebo”, que atingiu diretamente o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, um dos principais desafetos declarados do presidente Jair Bolsonaro, evidenciando, claramente, que Carla Zambelli tem acesso às informações das investigações realizadas pela PF.

No entendimento do partido, estes fatos demonstram que tanto a deputada quanto o presidente Bolsonaro “valendo-se das qualidades inerentes aos cargos públicos que exercem, agem de maneira dissimulada”, interferindo politicamente na Polícia Federal, “com vazamento de informações a pessoas estranhas aos quadros investigativos do órgão”. Essa conclusão é endossada pelas declarações da própria deputada:

“A gente já teve algumas operações da Polícia Federal que estavam ali, na agulha para sair, mas não saíam. A gente deve ter, nos próximos meses, o que vamos chamar de ‘Covidão’ ou de… Não sei qual vai ser o nome que eles vão dar, mas já tem alguns governadores sendo investigados pela Polícia Federal”.

De acordo com o PDT, a ligação de Carla Zambelli com as interferências do governo Bolsonaro na Polícia Federal ficou evidenciada pelas declarações do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, feitas durante coletiva de imprensa realizada no dia 22 de abril, quando anunciou o seu pedido de demissão do cargo.

Na petição, o PDT destaca ainda os fortes indícios de que Bolsonaro também pressiona a troca dos cargos de chefia da PF para indicar pessoas que poderiam permitir a sua interferência política na instituição, assim como Carla Zambelli, que “obtém informações privilegiadas com autoridades estratégicas” na PF para direcionar atos investigativos para prejudicar desafetos do presidente.

A petição também anexou uma nota da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), na qual a entidade afirma haver ligação de Zambelli com delegados da PF desde a época em que dirigia o movimento “Nas Ruas”.

De acordo com os fatos, o PDT requereu que o procurador-geral da República instaure inquérito policial para a adoção de todas as medidas necessárias para a investigação dos crimes mencionados, considerando a importância de se manter a atuação da PF livre da interferência do Poder Executivo Federal e de parlamentares da base aliada do governo, que venham a impedir que a instituição exerça suas atribuições de forma “impessoal e eficiente”.

Confira a petição na íntegra: Representação do PDT na PGR contra Carla Zambelli