Homenagem foi aprovada na Câmara de Vereadores do município localizado na Região Metropolitana do Rio de Janeiro
A executiva municipal do PDT de Queimados, na Baixada Fluminense do Rio, repudiou nesta quarta-feira (9), a partir de nota oficial, a aprovação da entrega da Medalha de Honra ao Mérito Leonel Brizola para o presidente da República, Jair Bolsonaro. Na Câmara de Vereadores, o requerimento foi aprovado em plenário, no último dia 25 de novembro.
Idealizada em 2012, a homenagem é oferecida a pessoas que prestaram relevantes serviços ao município. Cada parlamentar pode efetivar até cinco indicações por ano.
Confira o documento, na íntegra:
Nota oficial
O Partido Democrático Trabalhista (PDT) vem a público pronunciar-se acerca do oferecimento da medalha Leonel de Moura Brizola, do parlamento queimadense, ao atual presidente da república.
Entendemos ser de livre expressão do mandato do vereador qualquer pronunciamento, ato ou pensamento, ainda que em desacordo com alguma convenção ou pensamento ideológico pré-estabelecido. É da natureza do nosso partido a pluralidade de ideais, o bom debate, as discordâncias e o contraditório. Respeitamos plenamente as mais variadas linhas de pensamento e é, justamente nessa junção de ideias, que crescemos e avançamos. É da nossa essência essa convicção. No entanto, somos fruto de nossa linha temporal, e a ela estamos intrinsecamente ligados.
Referir-se a Leonel Brizola passa, obrigatoriamente, por observar suas falas, gestos e, sobretudo, o entendimento que nos passou referente à realidade da política brasileira. Em seu primeiro mandato como governador do Rio de Janeiro, os primeiros atos foram dedicados à questão dos direitos humanos e violência policial.
Extinguiu a secretaria de Segurança Pública – identificada como aparelho de controle da ditadura – e em seu lugar criou o “conselho de Justiça, Segurança Pública e Direitos Humanos”, que reunia representantes da sociedade civil para debater políticas de segurança, aproximando a polícia e o conjunto dos cidadãos. Isso em 1983. Sempre procurou estar no campo dos progressistas, com as mentes mais arejadas. Tinha uma ideia de governar próximo ao povo, com gestões populares.
Nos serve também, como norte, sua declaração sobre um eventual apoio à Benedita da Silva (PT), no 2º turno das eleições em 2000: “Ela criou ‘áreas de muito desconforto’ no PDT, com iniciativas ‘estranhas’ ao partido, como a entrega da secretaria da Habitação ‘a um pastor’ (Francisco Silva – PPB)”. O que vem a corroborar sua visão crítica a essa mistura política-religião, que infelizmente tem empobrecido e apequenado o debate político por todo nosso país.
Após sua partida, o PDT tem procurado manter-se na linha de frente dos grandes debates nacionais, sempre buscando o avanço pela democracia, privilegiando a diversidade. Temos conseguido nos manter firmes no nosso campo, entendendo as dificuldades da união das esquerdas e os entraves regionais, que muitas das vezes interferem no projeto nacional.
Neste pleito de 2020, fomos o partido progressista que mais cresceu. Ganhamos importantes cidades, conduziremos grandes orçamentos e governaremos para muitas pessoas, fato que só aumenta nossa responsabilidade. Aqui, em Queimados, mantivemos uma cadeira na Câmara de vereadores, o que garante, assim, a manutenção das pautas trabalhistas, além de efetiva participação nos importantes temas municipais, que certamente virão.
Não aceitamos, em nenhuma hipótese, o prosseguimento desse feito, uma vez que o PDT, através de várias lideranças nacionais, tem se posicionado contrário à política praticada pelo atual presidente.
Nossa economia poucas vezes esteve tão fragilizada, o desemprego só cresce, dólar em alta e a subserviência aos norte-americanos em detrimento dos nossos interesses comerciais.
A comida, que chega à mesa dos brasileiros, cada vez mais cara; o inexplicável descaso e negacionismo com a pandemia, que ceifou milhares de vidas brasileiras; o desmonte das leis ambientais; o aumento desenfreado do desmatamento, o abandono aos povos indígenas; os seguidos cortes na educação – sobretudo na pesquisa; o escancarado protecionismo à bancada da bala e ao agronegócio, sem falar da liberação acelerada de agrotóxicos, muitos deles proibidos em outros países.
Por todas essas considerações, acreditamos já estar, mais que claro, ser um completo paradoxo tentar ligar o nome de Brizola ao atual presidente. Não obstante ao objetivo do parlamentar, entendemos que outra honraria pode ser tão ou mais importante, como o de “cidadão queimadense”. O objetivo da homenagem estaria resolvido, sem envolver o nome do nosso líder trabalhista.
De resto, em tempos tão sombrios, vale relembrar o trecho da Carta de Mendes (1983), redigida em reunião nacional do partido: “O propósito do PDT é ascender ao poder, inundando esse país de mentes esclarecidas. Desses compromissos com a nação, que alimentamos sem ódios ou revanchismos, ninguém e nem razão alguma nos afastará.”
Saudações trabalhistas.
Executiva Municipal do PDT de Queimados (RJ)
Queimados, 9 de dezembro de 2020.