PDT 40 anos: de Brizola a Ciro


Por Osvaldo Maneschy
Osvaldo Maneschy
26/05/2020

Fundado a 26 de maio de 1980, historicamente o PDT se confunde com o Trabalhismo, com a vida e o legado de três grandes brasileiros – Getúlio Vargas, líder da Revolução de 1930 que modernizou o Brasil; João Belchior Marques Goulart, o presidente deposto pelo golpe militar de 1964 por implantar as Reformas de Base que não foram feitas e até hoje são necessárias; e Leonel de Moura Brizola, o menino pobre de Carazinho que se formou em Engenharia e valorizava a Educação, além de ser o único líder civil latino-americano a derrotar um golpe militar de direita já nas ruas, em 1961, com o levante da Legalidade.

Brizola também foi o único brasileiro a ser eleito governador por dois estados da federação: Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Fundador do PDT, defensor do legado do Trabalhismo, em novembro de 1985, em texto assinado publicado na imprensa, que chamava de “Tijolaço”, definiu o que o Partido era para ele: “Nossas raízes e fontes de inspiração se nutrem na História e formação de nosso povo, particularmente de suas lutas sociais e libertárias”.

E acrescentou: “O Trabalhismo é o movimento que unificou o povo trabalhador, sua base social, e a imensa maioria da população brasileira –dos marginalizados à classe média; aos profissionais e também aos pequenos e médios empresários, do campo e das cidades”. Também deixou claro: “Nossos caminhos são pacíficos e os nossos métodos os democráticos; mas não nos deteremos, frente a circunstância alguma, a não ser ante o sacrifício inútil”.

Antes, em junho de 1979, falando aos trabalhistas reunidos no Encontro de Lisboa, quando ainda vivia no exílio sonhando com a volta ao Brasil dissera: “O próprio presidente Vargas teve que dar um tiro no coração porque, para respaldá-lo não havia o povo organizado e esta é nossa grande tarefa. Se necessitarmos passar anos e anos na oposição nos organizando, não tem importância: o importante é que o Partido se organize e adquira as dimensões que o nosso povo necessita para que ele seja o seu instrumento”.

E para alcançar este objetivo, achava fundamental “focar no documento maior de nosso patrimônio político – a Carta-Testamento – em que o Presidente Getúlio Vargas firmou o conceito fundamental do que é a Nação brasileira, o que significa e representa a nacionalidade”.

Fiel ao fio da História do Trabalhismo, Brizola partiu para a reorganização do PTB ainda no exílio, mas foi obrigado a fundar o PDT, em 26 de maio de 1980, como consequência ao golpe urdido pelo general Golbery do Couto e Silva que, com a ajuda do Tribunal Superior Eleitoral, entregou a sigla histórica dos trabalhistas ao grupo político liderado por Yvette Vargas – servil à ditadura. Nessa época o recém-criado Partido dos Trabalhadores, aglutinando operários grevistas do ABC, não preocupava tanto aos donos do poder quanto os trabalhistas de Brizola.

Cibilis da Rocha Viana, um dos fundadores do PDT ao lado de Brizola e Darcy Ribeiro, definia o PDT em meados dos anos 80 como “o partido que defende o trabalho”. E explicava: “Hoje a renda nacional está voltada para remunerar o capital – não o trabalho. Nós, do PDT, temos que reverter isto, porque os que trabalham são maioria, não os que detêm o capital”.

Com o “fio da História” na ponta da língua, Brizola disputa as eleições para governador de 1982 – a primeira depois da ditadura – e ganha de forma espetacular, no Rio de Janeiro, elegendo também expressiva bancada para a Câmara Federal, para a Assembleia Legislativa e Câmara dos Vereadores da Capital , além da única vaga para o Senado. OPDT elege em 1982 por conta da vinculação dos votos, 16 deputados federais e 24 deputados estaduais. Em todo o país, o partido elege 23 deputados federais (sendo sete no Rio Grande do Sul) e 36 estaduais, além de 22 prefeitos e 556 vereadores.

A partir daí, o PDT cresce nos planos regional e nacional, tornando-se um dos partidos políticos mais atuantes do país nos grandes debates nacionais. Em 1984, Brizola governador do Rio, eleva a campanha pelas eleições diretas para presidente a um novo patamar, ao organizar e promover o comício da Candelária que reuniu cerca de 1 milhão de participantes, o maior já até então realizado.

À frente do governo estadual, institui a política de segurança pública em defesa dos Direitos Humanos, em contraposição aos anos de perseguições políticas e torturas de prisioneiros da ditadura; promove a titulação de ocupações urbanas com a distribuição dos títulos de propriedade do programa ‘Cada Família, um lote”; estimula a reforma agrária promovendo a ocupação de áreas rurais pertencentes ao Estado por agricultores sem terra; e enfrenta, de peito aberto, a campanha feroz da mídia comercial contra seu governo e sua pessoa – candidato que era à presidência da República –, lançando os “Tijolaços”: matérias pagas publicadas em jornais de grande circulação, pagas pelo PDT e por seus militantes, através de uma conta aberta no Banerj, para se defender das acusações que lhe faziam.

Também de peito aberto, Brizola enfrenta o congelamento de preços do “Plano Cruzado” – lançado pelo presidente José Sarney –, que compara a uma mola comprimida que não resolveria o problema da inflação galopante que se vivia aquela época. Era um plano eleitoreiro. Brizola não consegue eleger o seu sucessor, o professor Darcy Ribeiro, criador do programa de escolas integrais, que acaba perdendo para Moreira Franco, candidato do PMDB, que promete acabar com a violência do Rio de Janeiro em seis meses – promessa demagógica nunca cumprida.

Sempre coerente com seus princípios, Brizola disputa as eleições presidenciais de 1989, quando perde para Lula a ida ao segundo turno; disputa as presidenciais de 1994, quando ele e Lula perdem para Fernando Henrique Cardoso; e, depois, numa demonstração de grandeza – se torna vice na chapa de Lula na tentativa, em 1998, de derrotar Fernando Henrique, após este promover uma escandalosa compra de votos no Congresso para aprovar o instituto da reeleição.

Em 2000, ano em que Brizola começa a aprofundar suas críticas ao sistema informatizado de eleição instituído no país a partir de 1996, com o advento do voto eletrônico nos pleitos. Brizola disputa a prefeitura do Rio de Janeiro, mas fracassa. Em 2002, Brizola – à frente do PDT – decide apoiar o candidato Ciro Gomes, do PPS à presidência e indica o vice da chapa; Lula passa para o 2° turno e, com o apoio do PDT e de Brizola, vence José Serra e se elege. O PDT não indica ninguém para o ministério, embora o PDT nomeie Miro Teixeira Ministro das Comunicações. Depois da indicação de Meirelles para presidente do Banco Central, o PDT não só decide se opor ao governo do PT, como determina, através do Diretório Nacional, que todos os seus filiados deixem cargos que porventura ocupem no governo do PT.

Em junho de 2004, um ano e meio após Lula assumir o governo e compor com parlamentares conservadores em busca da governabilidade, Brizola morre no Rio de Janeiro dias depois de passar mal em sua fazenda no Uruguai e assume a presidência do PDT, com o aval do Diretório Nacional, o vice-presidente da legenda, Carlos Lupi – preparado, ao longo de vários anos de convivência diária, como um de seus possíveis sucessores na presidência da legenda.

Brizolista da primeira hora da refundação do Trabalhismo no Brasil, Lupi, um ex-jornaleiro, desde então vem trabalhando pela preservação não só do legado político do Trabalhismo, como pela preservação da memória de seus grandes ícones históricos, especialmente Vargas, João Goulart e Leonel Brizola. Apesar de “as muitas mortes anunciadas do PDT”, o Partido, ao longo destes 16 anos sem Leonel Brizola, manteve praticamente a íntegra de seu Diretório Nacional original; manteve suas principais lideranças estaduais; e também seu trabalho de defesa do Trabalhismo, tanto no Congresso, quanto nas assembleias e câmaras municipais.

E desde a filiação de Ciro Gomes ao partido, em 2015, e sua disputa à presidência da República em 2018, o PDT vem se revigorando progressivamente, crescendo na preferência do eleitorado por conta mensagem política firme, através de propostas concretas para o Brasil, de Ciro Gomes, especialmente junto ao público jovem, em defesa de um projeto nacional de desenvolvimento – revigorando a mensagem e as lutas de Vargas, Jango e Brizola em defesa do Brasil.