Pré-candidato à Prefeitura do Recife, o deputado federal Paulo Rubem Santiago (PDT) se articula para chegar forte à discussão sobre a estratégia do bloco alternativo – formado por PTB, PV, PSC, PRB, PP e PDT. O prefeiturável admite, nesta entrevista à Folha de Pernambuco, que tem tido uma postura ativa em relação aos outros partidos que compõem o grupo e que os debates e movimentações dos últimos meses o colocam em uma posição mais favorável do que outros nomes citados para a disputa. Contudo, o pedetista aponta que este cenário pode mudar e que está aberto ao diálogo com outros postulantes. Isso porque, para o parlamentar, o importante é que se construa uma alternativa ao PT na base governista. Na opinião do pré-candidato, a disputa das prévias desconstruiu o discurso petista de manter o seu projeto na Prefeitura. Nesta semana, o bloco deverá ter uma reunião, em Brasília, para definir os seus próximos rumos e discutir a sua estratégia, após o resultado das prévias petista.
O senhor tem se movimentado bastante desde que lançou sua pré-candidatura à Prefeitura do Recife. Quais serão os seus próximos passos?
Neste mês, vamos fazer alguns ciclos do debate Recife com um Futuro Sustentável, o próximo será sobre Saúde Pública, ainda vamos ter outros sobre cidade criativa, economia e desenvolvimento sustentável, que vamos dividir com o PV. Será em um lugar neutro e vamos avançar na construção de identificação entre o PDT e o PV. Conversei com o presidente nacional do PV, José Luiz Penna, e ele demonstrou bastante entusiasmo com as conversas que tivemos com o presidente estadual, Carlos Augusto Costa. Nesta semana, teremos uma conversa com o bloco alternativo, em Brasília,. Esse encontro vai ser um passo importante em busca da unidade, onde cada partido vai apontar seus nomes, se os indicados foram mantidos ou se eles vão apenas compor. Certamente, também vamos fazer uma avaliação das prévias do PT, que tem tido diversos acirramentos, atritos com contas da Prefeitura no Tribunal de Contas do Estado (TCE), acusações mútuas. Queremos saber a avaliação de cada partido. Em paralelo, vamos continuar nosso trabalho. Já temos alguns indicadores. Queremos fazer uma cidade para todos. Queremos chegar no final de maio com uma agenda do PDT articulada com a agenda que o bloco elaborou. E articular essas informações, isso é o que vai ser a nossa diferença porque o PT já governa a cidade por 12 anos e os que estão nos demais partidos da oposição também já governaram o Recife e o Estado. As oportunidades já lhe foram dadas pelos eleitores do Recife. Temos um espaço para discutir alternativa.
O senhor vai se colocar como pré-candidato nesse encontro em Brasília?
Nós temos colocado isso, primeiro ao PDT para estimular a nossa militância, aos pré-candidatos, à direção nacional e estadual. Claro que não estamos desconectados de outros municípios como Caruaru, por exemplo. Caruaru é uma cidade estratégica para o PDT. O prefeito José Queiroz (PDT) está empolgado, ele tem avançado. Então, vamos nos colocar como opção. Vamos nos colocar porque estamos nos aproximando do fim de maio e o PT já está se decidindo. O PT está cheio de pendências e terá menos de um mês para resolver essas questões. Será que vai conseguir conversar tudo aquilo que ele não conversou em quatro anos? Nós não rompemos com a Frente, nós estamos oferecendo uma alternativa. Mesmo o PSB mantendo a aliança com o PT, está claro que esse bloco é parte da Frente Popular. Não estamos plantando urtiga na Frente e esse projeto é viável.
Dos candidatos que estão se colocando, o senhor tem se movimentado bastante. Com isso, o senhor parte na frente nas discussões de nomes no bloco alternativo?
Eu não estou concorrendo com os outros possíveis nomes do bloco. Não vejo dessa forma. Nós vamos tentar convencer os partidos, mas não estamos fechados para discutir outros nomes, porque daí não seria a construção de uma aliança. Eu estou me mobilizando, discutindo a cidade. Isso me coloca numa posição mais ativa? Me coloca. Me coloca como um candidato que vem se movimentando. Então, estamos mais próximos de ter uma posição melhor na disputa, mas isso não impede que outros candidatos que não tenham essa desenvoltura possam avançar. As conveções são no final de junho e temos muito tempo para discutir. Eu não vou dizer que, com a minha decisão, o Recife vai tremer (em referência à declaração do deputado federal João Paulo/PT, de que a cidade iria ficar na expectativa da sua decisão de sair ou não do PT, no ano passado). É preciso puxar o freio de mão e pensar a cidade.
Como o senhor está vendo os embates entre os grupos do prefeito João da Costa e do secretário estadual de Governo, Maurício Rands, pela indicação nas prévias petistas. Tem condições dos partidos do bloco alternativo caminharem com eles após esse processo?
O PT está entrando em um campo extremamente pantanoso, em uma areia movediça. Como vai explicar que deve continuar, quando quem questiona a administração é o proprio PT? O que vemos é que o próprio partido não dá respaldo e há várias projeções de quem vai ganhar as prévias, mas quem ganhar vai ganhar com fratura. Ambos os candidatos vão carregar um fardo grande. O eleitor pensa logo se eles estão brigando para melhorar o Recife ou para se manter em cargos. Administrar não é manter empregos, mas promover políticas públicas. Vamos avaliar o que a população quer manter e o que quer mudar na administração, mas falta ainda muita coisa. Com posicionamento ideológico, claro.
O senhor disputou prévias no PT. Acredita que o clima está mais acirrado nas prévias de hoje?
Eu enfrentei dois processos conturbados no PT, com diversas suspeitas. Eu hoje enxergo isso de longe. O PT antigamente tinha um programa de base para ser um programa de base. Muitas pessoas observam que o partido é hoje de um grupo restrito. O que eu vejo hoje é que antes da decisão de colocar o nome estava tudo bem, depois que começou essa discussão. Tem que dizer para à sociedade qual o motivo das pessoas terem saído da administração, porque João Paulo brigou com João da Costa, quem traiu quem. Porque assim a população vai pensar que é uma especulação grosseira, que não tem motivo para essa disputa.
A indicação da presidente Dilma Rousseff (PT) do deputado federal Brizola Neto (PDT-RJ) para o Ministério do Trabalho deixou insatisfações no PDT de que teria sido uma indicação pessoal e não partidária. O novo ministro conseguiu unir o partido?
Todos os partidos têm facções. O PDT tem uma parte da sua militância ligada ao ex-deputado federal Brizola, outra ligada ao movimento sindical, tem uma parte que está sendo renovada. Era natural que no partido existam múltiplas tendências, e a presidente escolheu o nome que, pela sondagem que ela fez, poderia repactuar as lideranças sindicais, que encaminhasse a pasta. Eu já tive dois encontros com o ministro e ele já teve três encontros com os sindicatos. Segundo, na terça-feira tivemos um encontro com toda a bancada e só dois deputados não foram por questões absolutamente pessoais. Foi uma reunião totalmente produtiva. Já trabalhamos a reestruturação do ministério, da agenda. Ele está com uma agenda positiva. E isso tudo tem um aval integral da presidente Dilma. Tenho uma relação pessoal boa com o novo ministro, ele chegou a defender o meu nome para a liderança da bancada do partido. Agora todos se integraram totalmente com a nova candidatura e o partido está unificado.
O senhor assumirá novamente a coordenação da Frente de Combate à Corrupção, nesta semana. Quais serão as próximas prioridades da frente?
Vou assumir a coordenação novamente essa semana, por mais um ano. Fui presidente junto com Antônio Carlos Biscaia (PT), entre 2004 e 2008. Estamos assumindo a coordenação da Frente com um foco: aprovar todas as leis de combate à corrupção. A corrupção é a mais antiga parceria pública e privada do mundo e precisamos combater a estrutura dela. Portanto vamos priorizar a nossa agenda de projetos de combate à corrupação para tentar colocá-la na pauta do Congresso Nacional. Estivemos com a corregedora do Conselho Nacional de Justiça, Eliana Calmon, e discutimos para que o monitoramento das ações de improbidade administrativa e rejeição de contas sejam acompanhadas.
Como a Frente vai acompanhar a CPMI do Cachoeira?
Queremos que a CPI combata a corrupção de forma estrutural. A CPI sempre pode gerar uma outra opinião, agora ela corre o risco de ficar apenas em quem esteve envolvido, de qual partido ele é. Não consegue combater a corrupção sem desmontar a estrutura, não podemos nos apegar apenas a nomes. Essa CPI pode atingir um bocado de deputados, de governadores e senadores, como já está atingindo. Essas pessoas podem virar réus de processos. Mas se você tira as pessoas da vida pública e essas empresas, mas não muda a estrutura, vai continuar a mesma coisa. Temos que procurar a Polícia Federal, o Ministério Público e fazer projetos de lei para fazer um combate sistemático contra a corrupção.
Folha de Pernambuco