Fui atender e era outro repórter remoendo a mesma pauta. Será que a imprensa está zangada comigo?
Tabata, Tabata, Tabata Amaral. Esse foi o nome que dominou os portais de notícias nas últimas duas semanas. Parecia que a imprensa, ao menos naquela mídia, só tinha olhos para a jovem parlamentar. Na sala de assessoria de comunicação do PDT, o telefone não parava. A cada ligação, um novo repórter salivava pela linha: “e a Tabata?”. Queriam informações da querela envolvendo a votação da Reforma da Previdência. O interesse no conflito ganhou contorno de fetiche. Infelizmente, não é novidade.
Em 2016, redações de todo o país também ligavam ininterruptamente para a assessoria do PDT Nacional, em Brasília. A pauta era a delação da Odebrecht que acusava o partido de receber caixa 2. O fato foi noticiado e requentado enquanto tramitava no Ministério Público, por mais de dois anos. Cumprindo seu papel investigativo, a imprensa trabalhou incansável. Por vezes, como de costume, sentenciava (o que obviamente não é sua função). Até que, na última sexta-feira (18), o despacho assinado pelo Procurador da República Wellington Oliveira determinou o arquivamento do caso. Ninguém ligou. Será que cansaram?
É sempre assim. O investigativo desse tipo de jornalismo se traduz na reprodução de narrativas que interessam (não confundir com interesse público). Com o roteiro devidamente desenhando e arestado, as informações coletadas se sobrepõe ao texto original, previamente concluso, de modo a manter sua essência. Ou seja, o tumulto causado no aparelho de telefone pedetista visava apenas vestir o que não dava para publicar pelado. Estrago feito, desfazer parece desinteressante.
Além da deputada Tabata Amaral, outros sete parlamentares do PDT também votaram a favor da Reforma. Esses são conhecidos no país como os sete além de Tabata. O arquivamento do processo de caixa 2 – em que o presidente do partido, Carlos Lupi, figurava como réu –, no entanto, nem mesmo será de conhecimento público naquilo que couber a imprensa. A decisão foi publicada aqui no portal da legenda trabalhista e replicada pelo site O Cafezinho. É possível que o telefone tenha se sentido desprestigiado, pois não emitiu o menor ruído até agora.
É natural que o conflito paute a imprensa com a urgência que outros assuntos não demandam. Por outro lado, a superficialidade é jogada sorrateiramente no pacote a fim de que narrativas interesseiras se propaguem à sobra da verdade. Já diz o sábio dito popular: “o buraco é mais embaixo”. A punição a ser dada aos deputados dissidentes tem quase um século de embasamento partidário. A inocência de Lupi permanece a mesma de antes dos textos publicados a partir de 2016. Mesmo assim, nenhuma delas será abordada nos jornais.
Voltando ao lamento dos aparelhos telefônicos pedetistas, estes não querem ser esquecidos. Pedem, tonicamente, que os procurem com maior constância e pluralidade. Seus antepassados lhe deixaram o legado trabalhista que os credenciam a falar sobre educação, emprego, combate à pobreza, soberania nacional, justiça social, e tudo o mais que é marginal ao interesse midiático. Estão prontos para ajudar na formação da opinião pública e, mesmo aos mais interesseiros, prometem nunca responder: tu, tu, tu, tu…