O ‘Paredòn’ de Paulo Henrique Amorim


Por Wellington Penalva
12/07/2019

Há apenas dois dias, o jornalismo brasileiro perdeu um dos raros profissionais capazes de fazer jus ao sentido genuíno da profissão. Assertivo, lúcido e ácido – como pede o momento nacional –, Paulo Henrique Amorim foi abatido por um mal súbito. Partiu deixando o melhor do seu trabalho: a denúncia da canalhice do interesse estrangeiro em usurpar a soberania do Brasil.

Em artigo inédito, remetido ao PDT como texto integrante da próxima cartilha “Memória Trabalhista” que trará a história da Petrobras, Amorim explica como e desde quando o imperialismo ianque trabalha para achacar a estatal brasileira.

Como excelente jornalista, Amorim morreu cumprindo o raro papel de “cão de guarda da sociedade”. Para nós, que ficamos no meio dessa guerra, deixou preparado um paredão para executar narrativas financiadas pelo Tio Sam.

Confira no texto abaixo.

Tem um paredón à espera dos assaltantes da Petrobras!

Eles deram o Golpe para tomar a Petrobras do povo brasileiro! A Petrobras era a bússola dos golpistas.

O blog Conversa Afiada diz que o jornal nacional (com caixa baixa) era o farol dos piratas. Os piratas saíam durante o dia para tramar o Golpe. Mas não tinham uma articulação entre si – sabiam o alvo, a estratégia, mas não tinham a tática. Às oito e meia da noite, o jornal nacional acendia o farol e dava direção aos piratas. Não fosse o jornal nacional não haveria o Golpe.
Não fosse o jornal, não existiria um juizeco de província, um analfabeto funcional – que troca “conjugue” por “conge” –, que depositava o produto diário de seu saque institucional na boca do William Bonner para, primeiro, tomar a Petrobras do povo brasileiro e, segundo, derrubar o Governo trabalhista. Era abater dois coelhos com um golpe só. Moro sabia aonde queria chegar.

A Petrobras de Vargas e Lula seria um salto olímpico na independência do Brasil. Ia gerar recursos para a Saúde e a Educação. E, com uma Educação musculosa, inevitavelmente o Brasil participaria da corrida para desenhar Inteligência Artificial, robótica, automação e, com isso, produtividade.

Assaltar a Petrobras significou também destinar ao Brasil o papel que o professor Wanderley Guilherme dos Santos chama de “copeiro do banquete dos ricos”, porque só os Estados Unidos e a China disputarão esse jogo. O Golpe foi para amarrar o Brasil à produção de soja e galinha – ao pau brasil, velho de guerra. Ao papel de Colônia. De quintal! De fornecedor de petróleo.

O grande brasileiro Guilherme Estrella, que era diretor de Exploração da Petrobras quando descobriu o pré-sal em 2006, conta que, jovem geólogo da Petrobras foi servir no Iraque de Saddam Hussein. Era um contrato de risco. Até que a Petrobras descobriu o magnífico campo de Majnoon. (Foi por causa de Majnoon que o Bush, filho, invadiu o Iraque e, não, por causa de armas de destruição em massa que nunca existiram…).

Uma autoridade iraquiana chamou os geólogos da Petrobras, agradeceu muito o eficiente trabalho, combinou a indenização contratual e disse: esse campo é nosso e de mais ninguém!

Desde quando levou a surra da Dilma em 2010, o Serra prometeu à Chevron entregar o pré-sal. Assim que o pré-sal foi descoberto, os americanos reinventaram a IV Frota e a colocaram estacionada entre o pré-sal brasileiro e o angolano. O Snowden revelou, em 2013, que os americanos espionavam o Brasil e tinham dois alvos: a Dilma e… a Petrobras! Os americanos não gostam da Petrobras desde Vargas.

E sempre usaram a imprensa “brasileira” – que eu chamo de PiG, partido da imprensa golpista – para provocar o suicídio de Vargas, a queda de Jango, impedir a eleição do Brizola, derrubar a Dilma e prender o Lula. É um método. Os Estados Unidos gostam de petróleo. O Irã sabe disso. A Argentina. O Equador. O Iraque. A Venezuela. Querem só pra ele!

Quando Brizola encampou a americana Bond&Share, ao mesmo tempo em que a notícia saía no Diário Oficial do Rio Grande do Sul, ele recebeu um telefonema do presidente Kubitschek para dizer que o Assis Chateaubriand estava ao lado dele, no Palácio, e precisava dar uma palavrinha. Era para reclamar da encampação.

Os filhos do Roberto Marinho – que, como se sabe, não têm nome próprio – faziam o mesmo, todas as noites no jornal nacional. Para reclamar de a Petrobras ser do povo brasileiro. Nessa tarefa sinistra, contavam com os vazamentos criminosos do Juiz (sic) Moro. A Lava Jato é a caçamba da corda americana. A Dilma era um estorvo.

O Golpe já tinha tudo pronto: a tal ponte para o futuro daquele a quem o Brizola se referia como o gatinho angorá dos militares. E, logo cedo, o Serra conseguiu mudar no Senado o regime de partilha para o de concessão do pré-sal. (Como se sabe, o Serra saiu fugido da UNE que presidia no Golpe de 1964, foi para o Chile, casou com uma parente do Presidente Allende, e, levado ao corredor da morte, que Pinochet instalou no Estado Nacional de Santiago. Repentinamente, apareceu como professor de Economia – que nunca estudou – na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Precisa desenhar?).

Agora, o Governo Bolsonário vai vender tudo. O Posto Ipiranga disse que vai vender do Palácio da Alvorada à Petrobras. Tudo! Instalou na Petrobras um Xi!Cago Boy de medíocre formação acadêmica e longa militância na banca. A função dele é desconstruir a Petrobras – como tentou o Fernando Henrique, com a Petrobrax – e entregar o pré-sal ao Serra – aos patrocinadores do Serra, bem entendido.

Porém, como se sabe, a canoa vira. E, a depender da maré, é possível até montar um paredòn. O Conversa Afiada já tem um paredòn e uma lista dos que a ele serão, breve, conduzidos.
O paredòn do Conversa Afiada é, em sentido figurado, óbvio. Não recomenda construir aquela parede que o Che Guevara erigiu para punir os aliados do regime Batista.

O paredòn do Conversa Afiada dói mais ainda: será a irreversível punição moral da História! A morte mais abjeta! Serra e Pedro Parente já estão sentados na primeira fila, à espera da primeira bala!”

Paulo Henrique Amorim