Consta na história brasileira que um tal General Mourão Filho partiu da cidade de Juiz de Fora precipitadamente, no final de março de 1964, comandando os soldados da quarta divisão de infantaria em direção ao Estado da Guanabara, atualmente Rio de Janeiro, com a intenção de colocar em prática uma intervenção militar, que consequentemente resultou na prática em vinte e um anos de ditadura militar.
Naqueles tempos, o Presidente João Goulart era o motivo de toda a conspiração golpista de boa parte das forças armadas, encorajando também a uma legião de seguidores da classe média/alta dentro da sociedade civil. A razão daquele golpe, vale lembrar, era em razão das reformas de base propostas pelo presidente João Goulart, tais como a reforma agrária, Lei de remessa de lucros, reforma educacional, administrativa, urbana, entre outras, todas elas com a notória intenção de inclusão da população mais carente financeiramente.
Eis que surge, em 2017, um outro General falastrão, respaldado pelo Comandante do Exército Eduardo Villas Boas, com o mesmo nome “Mourão”, com muito menos brilho do que seu antecessor da década de sessenta, eis que já não mais lidera tropas, porém certamente tão falastrão quanto o outro que se auto-intitulava “uma vaca fardada”. Acompanhamos recentemente a pregação ostensiva do atual Mourão afirmando que “se não se soluciona o problema político faz-se necessário algum tipo de intervenção militar”.
Quando ouço declarações como esta, conhecedor da história brasileira, de imediato surge-me a lição do notável Rui Barbosa, que em algum momento nos ensinou que “a pior democracia é preferível à melhor das ditaduras”.
Falo aqui em Ditadura sim, considerando o exemplo do General Castelo Branco, primeiro presidente Ditador de 64. Em seu discurso de posse, Castelo disse que seu procedimento seria “o de um chefe de Estado sem tergiversações no processo para a eleição do brasileiro a quem estregarei o cargo a 31 de março de 1966”. Portanto, falar em “intervenção”, em se tratando de vacas fardadas, é “história para boi dormir”.
É fato que a corrupção generalizada causa profunda indignação e não sou alheio a esse sentimento. Ocorre que também sou ciente de que os problemas da democracia devem ser obrigatoriamente resolvidos com mais democracia, e nunca com regimes arbitrários, fundamentados em Doutrina de Segurança Nacional.
Sigo a mesma linhagem de meu avô Jango, deposto da presidência da república em 1964, que sempre lutou pelas liberdades democráticas e pagou o preço com sua própria vida morrendo no exílio, jamais flertando com extremistas, sejam eles de direita, sejam eles de esquerda. Portanto, General, vozes da história reverberam hoje reafirmando: aqui, ditadura, nunca mais!
*Christopher Goulart, neto do ex-presidente João Goulart, é advogado e primeiro suplente de senador pelo PDT do Rio Grande do Sul.