Por que a Copel Telecom é estratégica para o Paraná e não deve ser privatizada? Para responder essa pergunta, o PDT Paraná conversou com Nelton Friedrich, ex-deputado federal constituinte, ex-secretário de Estado na área de Energia e coordenador do movimento contra a venda da Copel Geração e Distribuição que ocorreu na década de 90, no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Na manhã desta quarta-feira (19) quando a B3 S.A. – Brasil, Bolsa, Balcão – realizou audiência pública virtual para discutir a venda da estatal que detém a melhor banda larga do Brasil, o PDT Paraná emitiu nota se posicionando contrário e repudiando o processo de privatização. O valor de venda da subsidiária da Copel está avaliado em R$ 1,5 bilhão.
O leilão está previsto para acontecer no primeiro trimestre de 2021 e de acordo com o presidente da Copel Telecom, Wendell Oliveira, a privatização é certa, já que a negociação não necessita da aprovação da Assembleia Legislativa do Paraná. Ou seja, a menos que haja um recuo do governador Ratinho Jr. ou alguma decisão judicial por alguma eventual irregularidade no processo, o Paraná entregará mais uma parte do seu patrimônio público à iniciativa privada.
De que patrimônio estamos falando?
Avaliada como empresa lucrativa e de melhor serviço do País, a COPEL TELECOM teve lucro de 97,5 milhões no primeiro trimestre de 2020. Possui 33 mil quilômetros de fibra ótica, 260,2 mil acessos de banda larga fixa no Paraná e está presente nos 399 municípios do Estado. Assim, a Telecom, que conta com 450 funcionários, tem enorme potencial para a chamada “última milha” e para a chegada de nova tecnologia 5G, destacando-se assim, como uma grande atração de investimentos no Paraná.
Como se não bastasse o comprovado potencial da empresa, a decisão de vendê-la veio em um momento totalmente inadequado, de incertezas na economia e de gigantesca necessidade de tecnologia. Não é hora de vender o que é estratégico, indispensável para o nosso futuro, lucrativo e de patrimônio público.
Nelton Friedrich avalia que a Copel Telecom poderá vir a ser a grande ferramenta revolucionária do Paraná e determinante para o tão sonhado futuro autônomo e sustentável.
“Podemos ser o primeiro estado brasileiro a ter 100% de acesso à banda larga e alcançar escolas, universidades estaduais, hospitais, delegacias de polícia, pequenas propriedades rurais, onde há mais carência. No momento dramático que vivemos precisamos democratizar o acesso à educação à distância e também de equipamentos para alunos carentes, cursos de capacitação. Usar a tecnologia para a melhoria da produtividade no campo com desenvolvimento do Smart Farming, da agroindústria 4.0, georreferenciamento, uso de drones especiais e equipamentos IoT (Internet das Coisas), automação de sistemas elétricos em região rural e operar informações integradas de solo, água, estiagem, riscos, ameaças, numa ação conjunta com Embrapa, Tecpar, Emater, Universidades, Institutos Tecnológicos”, frisou.
Fundamental para o Estado
A Telecom existe, formalmente, desde 2000. Entretanto, nasceu há cerca de 40 anos como um departamento da Copel para suprir necessidades de telecomunicação entre os equipamentos de geração, transmissão e distribuição de energia. Antes disso, todos os procedimentos nas usinas e subestações eram operados manualmente e a comunicação feita por telefone ou rádio. A Telecom veio facilitar todas as operações.
Hoje a estatal fornece internet para centenas de residências, escolas estaduais, hospitais, delegacias, tribunais e universidades. Não bastasse isto, há também o fato de a Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná (Celepar) e a própria Copel utilizarem os serviços da Telecom para a manutenção e operação de Centros de Operação do Sistema Elétrico.
“A COPEL TELECOM pode ser hoje o que a Copel foi a partir da década 50: uma ousada estatal que dominou como poucas a inteligência da hidroeletricidade, nos tirou do escuro e dos apagões que a multinacional Força e Luz do Paraná nos colocava e nos projetou para a autossuficiência energética. Agora, é imperativo não abrir mão da Copel Telecom e sim transformá-la na matriz tecnológica do Paraná, verdadeira força motriz da inovação, do admirável mundo novo. Precisamos ter a Copel Telecom como chave para o bem-estar da população, para o desenvolvimento social, econômico e ambiental do Paraná” avaliou Nelton Friedrich.
Motivos para a venda, segundo o presidente da Copel Telecom
Em entrevista concedida ao site “Bem Paraná”, em abril de 2019, o presidente da Copel Telecom, Wendell Oliveira, afirmou que “não existe um motivo oficial. Só existe um motivo” para a venda da Copel Telecom. O argumento, segundo ele, é a incapacidade do Estado de investir na empresa para mantê-la competitiva, visto que o lucro gerado por ela não seria o suficiente.
Ainda, segundo presidente, a Copel Telecom “não é uma empresa que dá prejuízo, mas não está dando caixa. A geração de caixa é de R$ 160 milhões, que é negativo, e não está conseguindo gerar caixa para gerar seus investimentos”.
Quanto aos 450 funcionários, Wendell Oliveira afirmou à época que o Plano de Demissão Voluntária (PDV) pode ser uma alternativa. Nesta quarta-feira, durante audiência virtual ele afirmou também que parte dos funcionários serão realocados em outras subsidiárias da estatal. Outra parte poderá ser contratada pela nova proprietária da Telecom. A venda prevê um contrato de serviços de transição e gerenciamento, com prazo de 6 meses (prorrogável por mais 6 meses), para garantir o andamento dos negócios.
Um breve histórico
Nelton Friedrich relata que o Paraná vivia um grande problema no início da década de 1950 com a geração de energia elétrica deficiente, na capital. Naquele tempo, uma empresa estrangeira, que detinha a marca Força e Luz, produzia e distribuía a energia. E não tinha interesse em expandir os serviços para outras regiões do estado, consideradas inóspitas.
No Oeste do Paraná, até a metade da década de 70, várias cidades dependiam de geradores movidos a diesel para ter energia. O equipamento era desligado às 22 horas, e só na manhã seguinte voltava a funcionar.
“Vivíamos no Brasil uma grave e desafiadora situação. Empresas estrangeiras dominavam a geração e distribuição de energia, sem atender o interior. O presidente Getúlio Vargas propôs a criação da Eletrobrás. Com isto, imaginava, o Brasil teria uma empresa nacional com capacidade de gerar e distribuir energia. Porém, a Câmara dos deputados e o Senado não aprovaram a proposta”.
A Eletrobrás só viria a se concretizar em 1962, com João Goulart. “Mas antes, Getúlio Vargas, com o pensamento desenvolvimentista que o definia, propôs a criação de um fundo e, com isto, estimulou a geração da energia do Brasil, para os brasileiros. Justamente nesse momento, surgiram as empresas estaduais, estatais de energia, como a Copel”, observou.
A quem interessa a venda das estatais?
Friedrich é categórico ao afirmar que nenhum país do mundo se desenvolveu sem ter um projeto nacional, sem uma proposta de desenvolvimento, sem ter a noção de um mercado interno e a compreensão de que o capital se faz em casa. É ilusão pensar que o capital virá de fora.
“O capital estrangeiro é muito volátil, tem expectativas imediatas e, a qualquer momento, fecha a fábrica, abandona o território estranho e, em um estalar de dedos, irá especular em outro local. Simples assim”.
A China possui hoje aproximadamente 153 mil estatais. “Os chineses chegaram à conclusão de que era necessário ter estatais com a exclusiva tarefa de dar mais segurança à economia daquele país. Hoje a China é uma grande potência. Tanto, que investe todo o dinheiro que pode em países como o Brasil. Comprando nossas estatais, inclusive”, exemplifica. E o que se vive no Brasil é justamente o processo contrário. A privatização de estatais nada mais é do que uma entrega da autonomia e da soberania brasileira.
Por tudo isso, Nelton Friedrich faz um apelo ao governador e ao povo paranaense. “Temos que levantar a bandeira da Copel Telecom, pois a internet hoje – assim como a energia elétrica no passado -, é parte indissociável das nossas vidas e está em quase todos os elementos do nosso cotidiano”.