São Paulo é palco de farsa midiática patrocinada pela direita
Senhores do conservadorismo se reuniram em um chamado Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, organizado pelo Instituto Millenium, sabidamente financiado por empresários vinculados à direita.
Por Mário Augusto Jakobskind (*)
A mídia conservadora brasileira tem jogado nas últimas semanas todas as suas cartas na manipulação da informação que visa a induzir a opinião pública a formar opinião segundo a qual alguns governos latino-americanos estão tolhendo a liberdade de imprensa. Os senhores big-shots do conservadorismo se reuniram segunda-feira (01) em São Paulo em um chamado Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, organizado pelo Instituto Millenium, que tem como um dos seus fundadores o economista Armínio Fraga, ex-diretor do Banco Central no governo de FHC. A entrada para assistir o show midiático custou 500 reais.
O referido Instituto, sabidamente financiado por empresários vinculados à direita, a grosso modo repete a estratégia de Institutos do gênero que existiam antes de 1964 e tiveram papel de destaque na derrubada do então presidente constitucional João Goulart, em 1 de abril de 1964, que levou o Brasil a ingressar numa longa noite escura cujos reflexos negativos se fazem sentir até hoje.
No Fórum estiveram presentes desde o proprietário da Folha de S.Paulo, Octavio Frias Filho, sabidamente defensor do esquema neoliberal capitaneado pelo PSDB, o partido do governador paulista José Serra, até o manda-chuva das Organizações Globo, João Roberto Marinho, passando pelo representante do grupo Abril, Roberto Civita. Para abrilhantar o convescote midiático da direita participaram, entre outros, o Ministro das Comunicações, Helio Costa, cuja figura deixa dúvidas se ainda continua trabalhando na Globo, onde estreou, e segue defendendo o grupo, e colunistas da mesma organização jornalística. De quebra ainda apareceram no evento patrocinado e organizado pela final flor da direita brasileira os Deputados Miro Teixeira, do PDT, Fernando Gabeira, do Partido Verde e Antonio Palocci, do PT.
O comentarista da TV Globo, Arnaldo Jabor também esteve lá dando os seus pitacos. Para Jabor a questão é como impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo. Jabor arrancou aplausos calorosos do patrão João Roberto Marinho.
Demétrio Magnoli, um sociólogo que tem muito espaço na mídia conservadora, chegou a afirmar numa entrevista ao jornal O Globo que num eventual governo José Serra os riscos (de impedimento da liberdade de imprensa) cessam. Para o referido pensador de direita, nem Serra, nem o PSDB adotaram esse ripo de teoria (restritiva) à imprensa. Ou seja, a direita hoje não está mais escondendo o jogo de que aposta todas as suas fichas na candidatura do esquema PSDB-DEM-PPS.
Convidados internacionais na mesma linha
Convidados internacionais com a mesma linha de pensamento que os brasileiros, como o proprietário da Radio Caracas e Televisão (RCTV), que veio ao Brasil para denunciar o Presidente Hugo Chávez, da Venezuela, como o atual grande vilão da imprensa daquele país. Todos os discursos e colocações tiveram por base o esquema do pensamento único, ou seja, a defesa incondicional de uma única posição, a de denúncia de governos supostamente autoritários, além do venezuelano, o argentino e equatoriano.
O caráter do evento midiático não chegou propriamente a surpreender, pois já era esperado que a tônica dos discursos fossem a falsa defesa incondicional da liberdade de imprensa. E por que falsa? Exatamente pelo fato de se misturar, deliberadamente ou não, liberdade de imprensa com liberdade de empresa.
Na verdade, o conservadorismo latino-americano agrupado na Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) usa sempre o mesmo artifício. Quando os grandes proprietários se reúnem é geralmente com o objetivo de lançar notas repetindo a tônica dos discursos proferidos no Fórum organizado e patrocinado pelo Instituto Millenium.
Temor de mudanças nas regras do jogo conservador conservadorismo
O patronato midiático conservador teme mudanças nas regras do jogo que os favorece integralmente. No caso venezuelano, o tempo dos proprietários dos grandes veículos de mídia impressa como El Nacional e El Universal é a redução a cada ano da venda de jornais. Para se ter uma idéia, há 11 ou 12 anos, pouco antes da ascensão ao governo do Presidente Hugo Chávez, os jornais chegavam a vender em alguns dias um milhão de exemplares diários. Hoje, com a abertura de jornais comunitários e mesmo a ampliação de veículos da mídia privada, os jornais mencionados estão a vender pouco mais de 10 mil exemplares em média. Somam-se as visitas de navegadores na Internet, o número de leitores é um pouco maior, mas pouco significativo.
O mesmo fenômeno está acontecendo agora em países como o Equador, cuja mídia conservadora esteve presente ao Fórum do Instituto Millenium através do jornalista Carlos Vera, que veio dizer que considerava ditatorial a atuação do Presidente Rafael Correa. Em relação à Argentina a tônica foi muito parecida contra a Presidente Cristina Kirchner e o anterior presidente Nestor Kirchner.
Daqui para frente à tendência é que aumentem as denúncias sobre supostas restrições à liberdade de imprensa em países cujos governos não seguem a linha conservadora. Mas, em linhas gerais, as críticas repetirão os mesmo chavões de agora. Continuarão sempre acionados parlamentares conservadores, mesmo alguns filiados a partidos de esquerda, ou pretensamente de esquerda, e analistas defensores incondicionais do capital como Carlos Alberto Sardenberg, William Waack e Arnaldo Jabor, todos eles participantes ativos do Fórum patrocinado e organizado pelo Instituto Millenium.
Em tempo: não por acaso, a mídia eletrônica conservadora também dava grande destaque a uma outra denúncia, desta vez vinda de um juiz espanhol acusando o Presidente Hugo Chávez de vínculos com os grupos guerrilheiros colombianos e a ETA. São denúncias que não resistem a uma análise mais apurada. Fica até parecendo que se trata mais de uma pauta elaborada com antecedência e que tem por objetivo queimar mais a imagem de um governo do que outra coisa. Ou será que quando se acusa, sem comprovação e de forma estapafúrdia, um governo de ter vínculos com grupos armados não institucionais não se tem um único objetivo? E é o de desestabilizar o governo denunciado? Ou será apenas coincidência?
* Mario Augusto Jakobskind integra o Conselho Editorial do Brasil de Fato