A convocação do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, para reorganizar o partido em São Paulo “em todos os níveis, e sem passar por cima de ninguém” foi atendida por mais de 300 militantes – fundadores da legenda, deputados federais, deputados estaduais, prefeitos e vereadores do interior – liderados pelo pré-candidato do Partido a governador, deputado estadual Major Olímpio, em histórico encontro que lotou um dos plenários da Assembleia Legislativa e durou mais de três horas, nesta segunda-feira (26/8).
A reorganização do PDT paulista, também com a colaboração do ex-presidente da Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini, Lúcio Maluf, também se dará a partir da imediata criação de, pelo menos, 18 coordenadorias nas diferentes regiões do estado, já a serem anunciadas agora em setembro. Elas terão a missão de fortalecer as bases partidárias e enraizar a candidatura do Major Olímpio a governador, além de construir nominatas completas e viáveis para candidatos a deputado federal e estadual nas eleições de 2014.
“Estas coordenadorias farão o PDT existir, de fato e de direito, em São Paulo”, assinalou Lupi, acrescentando: “Respeito companheiros, mas é necessário abrir o Partido, fortalecê-lo, reunir e debater com a militância, porque política é que nem religião de igreja – tem que ter sede, tem que ter lugar para reunir; nem que seja em uma construção humilde de fundo de quintal”. Acrescentou que também é fundamental atrair a juventude, “que está doida para participar, protagonizar, abrir espaços”
Lupi argumentou que o “partido político não é cartório; não é algo que possa ser conduzido embaixo do braço, fechado entre amigos”. E sobre divergências com a atual direção do PDT, explicou:
“Não vamos intervir, porque o mandato dos atuais dirigentes termina em outubro; e é nossa prerrogativa, como direção nacional, apontar rumos – o que já estamos fazendo, com o único objetivo de fortalecer o PDT. Quando tudo estiver organizado, o PDT de São Paulo caminhará com as próprias pernas, porque partido é parecido com filho: a gente cria, ensina, forma e deixa-o caminhar com as próprias pernas”.
Lupi fez questão de destacar que, no momento, em São Paulo, é prioridade absoluta a candidatura própria a governador, porque, em sua opinião, decisão diferente desta divide a legenda no Estado.
– Vamos caminhar; se o Major Olímpio conseguir cinco, oito, dez por cento dos votos de São Paulo, ou muito mais do que isto, avançamos e avançamos bem. Se, por acaso, a sua candidatura não se viabilizar, problema algum, ele sai candidato a deputado federal.
As 18 coordenações regionais espalhadas pelo Estado de São Paulo deverão ser anunciadas em uma grande reunião, já marcada para 23 de setembro; seus integrantes terão a tarefa de realizar o maior número possível de convenções municipais que, por sua vez, elegerão o novo Diretório Regional de São Paulo.
“Faremos isto até março do ano que vem, quando, então, daremos uma parada para nos dedicarmos integralmente às eleições”, explicou Lupi, assinalando que São Paulo, Capital, pela sua importância e tamanho, será tratada a parte, com a provável criação de, pelo menos, quatro ou cinco coordenadorias locais. Destacou que o próximo Diretório Regional do PDT-SP deverá ser mais plural, mais aberto, integrado por vereadores, prefeitos e deputados – além de militantes do Partido.
Sobre possíveis reações contrárias, Lupi explicou: “Quem não quiser abraçar a nossa causa, que siga o seu caminho, porque ninguém pode segurar quem não quer ficar. Em partido político, não se segura ninguém pelo ódio; é preciso sempre muito carinho, muita compreensão entre companheiros para o Partido crescer. Quem quiser permanecer no PDT, permaneça: será benquisto. Quem quiser sair, que Deus acompanhe”.
E complementou:
“Nosso Partido tem compromissos profundos com o povo brasileiro. Nossa causa pertence ao povo brasileiro, e é por isto que afirmo com tranquilidade, aos companheiros, que somos herdeiros de Getúlio Vargas, de João Goulart, de Alberto Pasqualini e de Leonel Brizola; e que continuaremos firmes em nossa linha”.
MAJOR OLÍMPIO
Segundo orador na reunião, o deputado Major Olímpio, pré-candidato do PDT a governador, agradeceu a presença de todos e manifestou sua alegria pelo fato de a reunião, convocada com uma semana de antecedência, ter superado todas as suas expectativas quanto ao número de participantes e representatividade política dos presentes.
“Em nenhum momento, quis extrapolar e fazer qualquer gesto que não fosse o de minhas atribuições, mas também não posso deixar de manifestar minha alegria e entusiasmo pela presença de todos vocês – muito que vieram de longas distâncias, numa segunda-feira, deixando de lado compromissos, para estarem aqui. A presença de vocês já é um sinal da vitalidade e do fortalecimento do PDT. Muito obrigado”.
Major Olímpio acrescentou:
“Partido político se faz com a força dos votos, como já disse o Lupi, porque tem que ter expectativa de crescimento e de poder. Se não, vira partideco de aluguel, e não sai disso a vida toda. Se o partido tem expectativa de crescimento e de chegar ao poder, ele chega ao poder – mas não o poder pelo poder: o que conta é o poder para mudar a sociedade e melhorar a vida das pessoas”.
Major Olímpio manifestou sua satisfação em participar, em Brasília, do 5° Congresso Nacional do PDT, e de falar aos mais de 700 pedetistas reunidos no salão Nereu Ramos, da Câmara dos Deputados, como pré-candidato ao governo do Estado de São Paulo.
“ Quero dizer a vocês que isto foi motivo de grande orgulho para mim: dizer aos companheiros dos outros 26 estados que estavam lá, que o PDT de São Paulo ainda vai orgulhar o PDT nacional, porque ele terá candidatura própria ao governo do estado e disputará eleições com chapas completas e competitivas. Também vamos construir um programa de governo em sintonia com a história de luta do PDT, privilegiando o seu conteúdo programático, com propostas objetivas em defesa da Educação em tempo integral, saúde para todos, segurança e justiça social. Isto porque temos história, temos um legado político que precisa ser honrado”.
Na opinião do deputado e pré-candidato a governador, “é fácil defender as bandeiras do PDT, falar de seu programa e, também, ouvir os representantes do Partido – porque há uma espécie de comunhão de pensamento entre nós, que defendemos a necessidade de mais espaço político para nossa militância, porque queremos avançar, multiplicar o Partido, filiando pessoas sintonizadas com o conteúdo programático do Partido”.
“Podemos ousar, podemos disputar a eleição de 2014 de igual para igual”, conclui o pré-candidato a governador.
Outras intervenções importantes foram a do deputado federal Salvador Zimbaldi, que manifestou sua felicidade em participar do encontro, lembrando que, na eleição passada, foi obrigado a mudar seu domicílio eleitoral de Campinas para São José dos Campos: “Sou PDT, continuarei PDT e tenho plena convicção de que verei este Partido muito mais forte ainda”.
Nelson Maluf, fundador do PDT paulista, falou em seguida, saudando todos os presentes, e destacando que “não é o momento de lamentações, mas uma notável oportunidade de renovar o ideário trabalhista em São Paulo, reunindo forças e reformulando propostas sintonizados com as novas demandas da sociedade” que motivaram as manifestações de rua.
“Nunca tive outra legenda na minha vida; nunca me afastei do ideário trabalhista, nacionalista e progressista que sempre balizou a atuação de Leonel Brizola e do PDT – que, hoje, Lupi sintetiza ao percorrer todo o país levando esta bandeira”, destacou.
“O PDT é o quinto maior partido do Brasil, entre 31 legendas; e o nosso desafio é torná-lo em São Paulo tão grande e importante quanto ele é no país”, frisou, assinalando ainda que isto é uma tarefa coletiva; tarefa de todos que estavam ali naquela reunião.
“Não basta nos reunirmos e fazermos discursos. É necessário ir para o campo, para as ruas, transformar nossas idéias em ações, que podem ser sintetizadas em três palavras: compromisso, gestão e ação. Em São Paulo, já tivemos sete deputados estaduais e quatro federais. Não podemos nos conformar com pequenas bancadas, com o fato de não termo um único vereador em São Paulo capital. Nós podemos mais”, concluiu.
O ex-prefeito de Limeira Silvio Félix disse que tinha muito orgulho de ter se filiado ao PDT ainda adolescente – ouvindo Brizola e Darcy Ribeiro –, Partido que chegou a governar 350 municípios em São Paulo, ao longo de sua existência; e que, por isto, também não podia ser considerado tão pequeno assim em São Paulo.
O deputado estadual Rafael, por sua vez, manifestou sua alegria em participar do encontro para reorganizar o PDT de São Paulo, ainda mais pelo fato de seu filho, Rafael, vereador em Ribeirão Preto, ser hoje o político de maior destaque na cidade; e ter a pretensão de disputar um mandato de deputado federal. Ele manifestou a sua convicção de que é preciso entender o passado para construir o futuro; que não tem nada contra ninguém, e está satisfeito com a posição firme de Lupi, porque, antes, se sentia meio perdido. “Ninguém tem que eliminar ninguém; e quem quiser permanecer no PDT, no meu entendimento, deve ser respeitado. Se praticarmos a política com seriedade, como um Partido sério e com programa de atuação, vamos fazer o PDT crescer em São Paulo e crescer muito”, afirmou.
Um dos discursos que mais emocionou os presentes foi o de Henrique Matiense, ex-presidente da JS-PDT de São Paulo, que defendeu a necessidade de construir escolas de tempo integral, de refundar os movimentos partidários e de lutar para transformar o Brasil. “Se o PDT quer mudar o Brasil, isto não pode ser feito sem São Paulo. O PDT perdeu muito em São Paulo nas últimas eleições: é uma vergonha não ter um único vereador do Partido na capital. Na última eleição, o Partido elegeu só 18 prefeito e cerca de 300 vereadores – e isto é muito pouco’.
“Não podemos ser partido de cartório, partido que alguém se considera dono. O PDT é um Partido de sindicalistas, de trabalhadores, de negros e de todos que querem construir um país melhor e mais justo. Partido tem que ter diretório, convenção, atos, disputas. Não somos uma manada de cordeirinhos que tem que dizer amém para tudo. Somo gente. Basta de cordeirinhos. Basta de cartórios. Temos que ter votos; e precisamos ter ideologia. Quem tem vergonha do Brizola não tem que estar dentro do PDT; quem não defende os CIEPs, idem”.
O dirigente sindical José Dias, de Barueri, falando em seguida, lembrou que quem assinou a sua ficha de filiação foi Brizola, há 26 anos; e é PDT de coração. Já Nivaldo Orlandi, ex-prefeito de Embu das Artes, que hoje milita na política de Curitiba, parabenizou Lupi “por sua incansável jornada” em prol do Partido que, em sua avaliação, tem problemas sérios de organização interna; mas que o empolga pelo programa que apresenta para o Brasil. “O PDT é um Partido que não se envergonha de seu passado; pelo contrário: tem muito orgulho. O artigo primeiro do estatuto afirma que o PDT, como organismo político, tem obrigação de lutar – não é ganhar eleição – sob a inspiração do nacionalismo e do Trabalhismo”.
Já André Gaetta, militante antigo do Partido, que se desfiliara, fez questão de se inscrever para dizer que tinha vindo na reunião à convite de Maluf mais para ouvir; mas que, diante das manifestações dos participantes do encontro que o antecederam, sentiu-se na obrigação de falar, para dizer que tinha decidido se refiliar ao partido e retomar a luta por um Brasil melhor, mais justo, porque sentia que o PDT estava retornando às suas origens.
“Se tem partido que prima por justiça e norteou a Constituinte para o estado laico, foi o nosso. Nosso estatuto é laico; nossa ação de governo sempre foi laica. Quando Brizola assumiu o governo do Rio de Janeiro, nomeou cinco secretários negros – inclusive uma mulher: nossa saudosa Edialeda Salgado do Nascimento.
Somos um partido de ousados; e fico feliz de ver aqui muitos dos que até apanharam nas ruas, no passado, para fazer o Partido de Brizola. Quero dizer que me desfiliei do PDT; e agora volto, porque, antes, tinha até vergonha de dizer que era PDT. Hoje digo com orgulho que estou novamente dentro”.
Nicolati, fechando a reunião, prestou homenagem ao deputado Rafael Silva, “o cego que vê tudo” e sugeriu o nome do advogado Oscar Azevedo para compor a chapa como senador na chapa do major Olimpio. “Temos que fazer não só o governador, mas também o senador construindo uma chapa forte, além de boas nominatas para deputado federal, estadual, e senador”.
Hoje, terça-feira, Lupi se reúne com os pré-candidatos do PDT paulista.
OM – Osvaldo Maneschy