Em entrevista ao Poder Online, o presidente Carlos Lupi confirma que não apoiará o candidato do PSDB a prefeito da capital de São Paulo, seja ele José Serra ou quem for. Diz que o partido não abre mão da candidatura própria, e que o deputado federal Paulinho da Força Sindical “está candidatíssimo”. E que, no plano federal, o PDT continua na base de apoio ao governo petista de Dilma Rousseff.
Leia abaixo a entrevista:
Poder Online – O senhor deixou o Ministério do Trabalho, reassumiu a presidência do PDT. E já entrou nessa polêmica do cargo de assessor especial do prefeito do Rio.
Carlos Lupi –O PDT no Rio já estava praticamente decidido a apoiar a reeleição do prefeito Eduardo Paes, independentemente de qualquer cargo. Mas o Eduardo é meu amigo de longa data, e achava que eu poderia contribuir trabalhando com ele. Ocorre que a mídia resolveu pegar no meu pé. Então eu senti que isso poderia causar constrangimento ao prefeito e pedi para desfazer a nomeação. Foi isso o que ocorreu.
Poder Online – O senhor se acha perseguido pela mídia?
Carlos Lupi – Quando o ex-governador Leonel Brizola era vivo, tivemos uma passagem que me marcou muito. Fui seu secretário de Transportes durante um período e resolvi promover uma campanha de trânsito que foi muito elogiada pela imprensa. Cheguei lá no Brizola, todo contente, com a manchete do jornal “O Globo” na mão dizendo: “Olha só, governador!” Ele pegou o jornal, leu, franziu a sobrancelha, sorriu e respondeu: “Alguma coisa você fez de errado para ‘O Globo’ estar elogiando assim”. Desde então, quando a mídia me critica muito, fico pensando: Onde será que eu acertei?
Poder Online – Verdade?
Carlos Lupi – É uma brincadeira. Acho a mídia muito importante para a democracia. Acho que a crítica é importante. Mas não concordo com linchamentos, com notícias baseadas em “indícios de irregularidades” sem provas. Não posso concordar com julgamentos sumários. Foi isso o que a mídia fez comigo. Eu pedi apuração de tudo o que foi denunciado junto ao Ministério Público e à Corregedoria- Geral da União (CGU). Estou esperando o resultado na certeza de que não haverá nada. Aí vou começar a cobrar de um por um o direito de resposta. Não dá para mancharem uma pessoa e depois darem o caso por esquecido. Daquilo tudo, hoje, não sobrou nenhuma acusação. As pessoas só lembram daquele “Dilma, eu te amo!”, que falei quando estive na Câmara. Outro dia, um motorista de taxi gritou para mim: “Lupi, i love you!”.
Poder Online – O senhor acha que nada será apontado quanto àquelas denúncias sobre irregularidades envolvendo ONGs (Organizações Não Governamentais) que teriam se beneficiado do Ministério do Trabalho? E sobre aquele caso do jatinho que lhe deu carona?
Carlos Lupi – Tenho certeza. Não tive qualquer envolvimento com essas ONGs e, no caso do jatinho, já está provado que a empresa que o pagou nada tinha a ver com o Ministério do Trabalho. E nem eu sabia direito de quem era. Apenas peguei uma carona em parte de um trajeto que fiz dentro Maranhão, onde cheguei num vôo de carreira. E a CGU, inclusive, mandou devolver o dinheiro que eu havia entregue ao governo a título de ressarcimento pela passagem. Segundo a CGU, porque usei numa missão ministerial.
Poder Online – Mas a Comissão de Ética se manifestou contra o senhor.
Carlos Lupi – Pois é, ela falou em “indícios de irregularidades”. Suspeito que ali há indícios de ódio. Lá atrás, em 2002, a Comissão havia dito que eu não podia ser ministro e presidir o PDT ao mesmo tempo. Mas não disse nada a respeito do então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, que presidia o PR. Neste caso dos “indícios de irregularidades”, eles abriram um procedimento e tomaram a decisão em poucas horas. E ainda informaram à imprensa antes mesmo de comunicar à Presidência da República. A Dilma ficou furiosa.
Poder Online – Mas o presidente da Comissão, Sepúlveda Pertence, não tem proximidade com o PDT?
Carlos Lupi – Proximidade? Ele foi o advogado do Brizola naquela ação para ficarmos com o registro da sigla do velho PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), também reivindicada pela Ivete Vargas. O Golbery do Couto e Silva (ministro-chefe da Casa Civil do governo do general Ernesto Geisel) não queria ver o Brizola com uma legenda tão forte nas mãos. E o Brizola perdeu porque o Sepúlveda deu entrada no pedido de registro do partido 15 minutos depois da Ivete. O Brizola tomou ódio do Sepúlveda. Perguntava sempre: “Esse Sepúlveda, a quem pertence?”
Poder Online – Outra polêmica sua há pouco foi com o deputado Brizola Neto, por conta de o senhor ter reassumido a presidência do PDT.
Carlos Lupi – Esse caso já está superado. Conversamos e ele entendeu que eu tinha o direito de reassumir. Eu sou padrinho do Brizolinha, sou muito amigo dele, conheço-o desde que ele usava calças curtas. Nos desentendemos como se desentendem pai e filho, tio e sobrinho, padrinho e afilhado. Ele é um rapaz muito preparado, com um futuro brilhante.
Poder Online – E, como presidente do partido, cabe ao senhor negociar com o Palácio do Planalto a nomeação do ministro. Quando a presidenta definirá o nome do PDT para ministro do Trabalho?
Carlos Lupi – Acho que, se não for nessa semana que entra, será na próxima. Ela está deixando decantar para escolher. A presidenta quer alguém que, além de capacidade gerencial, ajude a compor a base de apoio, traga tranqüilidade ao partido.
Poder Online – O senhor tinha falado para o Brizola Neto que ela estava em dúvida entre cinco nomes: O dele; o dos líderes do partido na Câmara, André Figueiredo (CE) e no Senado, Acir Gurgacz (RO); o do deputado Vieira da Cunha (RS); e o do secretário-geral do partido, Manuel Dias. Ainda são os mesmo nomes?
Carlos Lupi –O André e o Acir estão como líderes e declinaram. Acho que afunilou entre o Manuel e o Vieira da Cunha.
Poder Online – O Brizola Neto está fora?
Carlos lupi – Não. Ele também pode ser…
Poder Online – E como está o partido?
Carlos Lupi – O PDT está numa fase muito boa. Vamos ter candidatos próprios em 17 capitais, com nomes muito fortes, como o de José Fortunati, em Porto Alegre, o Amazonino Mendes, em Manaus, o Gustavo Fruet, em Curitiba, e vários outros.
Poder Online – No Rio, vocês estão fechando com o Paes. Em São Paulo, parece que o Alckmin está levando o PDT para apoiar o candidato do PSDB à Prefeitura.
Carlos Lupi – Nada disso. Nós estamos acertando a entrada do PDT na base de apoio ao governo estadual. Nesta segunda-feira estarei lá, num encontro com o governador Alckmin. Ele oficializará o convite para o PDT comandar a Secretaria do Trabalho e eu, o apoio formal do partido ao seu governo. Mas já está acertado que isto nada tem a ver com a eleição de 2012. Nós não abrimos mão de um candidato próprio em São Paulo. E esse candidato é o deputado Paulinho da Força Sindical. Ele está candidatíssimo.
Poder Online – http://colunistas.ig.com.br – Tales Faria