Lupi na festa dos 40 anos do PT na Fundição Progresso


Osvaldo Maneschy
10/02/2020

“Esquerda precisa se unir, fazer projeto comum para o país e depois escolher candidato à presidência em 2022”

“Precisamos nos aglutinar, nos juntar, para resistir e elaborar projeto comum para ganharmos o povo brasileiro no campo das ideias e, depois, discutirmos quem terá melhores condições de ganhar a eleição em 2022”, afirmou o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, no debate realizado na festa dos 40 anos do Partido dos Trabalhadores sábado (8) passado na Fundição Progresso, no Rio, que reuniu os presidentes do PDT, PSB, PSOL e PC do B, além de Gleisi Hoffman, do PT. “Se não tomarmos o destino em nossas mãos, nossos filhos e netos terão vergonha de nós”, acrescentou Lupi ao finalizar sua fala.

Segundo Lupi, o Brasil vive hoje uma ditadura “muito pior do que a ditadura militar no passado” porque ela é disfarçada, sofisticada, comandada pelo sistema financeiro internacional e seus tentáculos no Brasil, a mídia e os bancos. Para Lupi, além de discutir projeto único para o país, os partidos de esquerda precisam aprofundar discussões como o papel das igrejas evangélicas que fazem política rotulando de pecado lutas sociais importantes como o combate à homofobia e ao racismo. “Não temos que brigar com o eleitor, ele também é vitima dessa lavagem cerebral”, observou.

“A hora é de pensar no Brasil e nos riscos que a Nação está correndo. Que projeto de Brasil queremos? Para onde queremos ir?”, perguntou. A discussão precisa ser travada, mas dentro de certos limites – explicou – porque, em passado recente, ele viu Lula dizer que Brizola pisaria no pescoço da mãe para ser presidente da República; e viu Brizola chamar Lula de “sapo barbudo”.   Estas diferenças, fez questão de lembrar também, não impediram que Brizola – preocupado com o Brasil – logo em seguida, ainda na eleição presidencial de 1989, transferisse maciçamente para Lula todos os votos que teve, “na maior transferência de votos já vista no Brasil” para o mesmo Lula disputar o segundo turno.

“É importante lembrar este episódio, hoje fato da História, porque está na hora de todos nós pensarmos no Brasil de hoje e nos riscos que a Nação está correndo com esse governo odiento e raivoso”, argumentou Lupi, criticando também a postura do governo Witzel, no episódio da morte de um jovem, alvejado por policiais na ponte Rio – Niterói. “Nunca vi ninguém celebrar uma morte como esse governador, no caso daquele jovem”.

Lupi também fez questão de lembrar o legado de Getúlio Vargas, seguido por Jango e Brizola, os principais líderes e fundadores do Trabalhismo e do PDT.

“Não podemos esquecer que foi Getúlio Vargas, de quem somos seguidores, que industrializou o Brasil lá atrás, a partir da Revolução de 30, porque sempre teve um projeto de Nação, um projeto de Brasil, para isto criou a legislação trabalhista, valorizou a educação pública, criou a Petrobrás e tantas outras empresas estratégicas” que agora estão sendo destruídas pelo atual governo e seu projeto ultraliberal.  Frisou também que será fiel seguidor de Leonel Brizola enquanto viver porque ideias não morrem e ele acredita, como Brizola, que não existe nada mais moderno do que uma criança pobre, bem alimentada, estudando em uma escola pública de qualidade.

Depois de classificar o governo Bolsonaro de odiento e raivoso, disse ser importante também que os progressistas se questionem onde erraram, já que o povo mais simples e humilde, das periferias do Brasil, que já votou em Brizola e Lula, votou em Bolsonaro dessa vez.

A representante do PC do B, a ex-deputada gaúcha Manuela D’Avila, disse por sua vez: “Temos muitas razões para estarmos unidos. Vivemos a pior crise da história do capitalismo global. Talvez, vivemos um momento em que o neoliberalismo se apresenta da forma mais cruel. Precisamos nos unir diante do verdadeiro colapso ambiental que se desenha no mundo. Haja vista o que acontece na Amazônia. Nos unir porque a miséria é cada vez maior. Voltamos a ver imagens que não víamos. Lembro de quando deixei de ver criança em situação de rua. Precisamos nos unir porque vivemos em um mundo em que trabalho e educação não garantem mais futuro”.

Disse ainda, segundo o portal “Vermelho”, do PC do B: “Nossa unidade, nossa relação se dá nas batalhas eleitorais, como nós que estivemos juntos ano passado, mas se dá um território muito mais importante, um território sagrado, que é a luta social. Nós lutamos socialmente juntos durante esses 40 anos do PT. Nós, PCdoB quase centenário, reconhecemos o papel do PT nos novos paradigmas da sociedade brasileira. Festejarmos o aniversário do PT é festejarmos uma parte importante da luta social do país. Sintam-se parabenizados por cada militante do PCdoB. Às vezes temos nossas rusgas, mas são menores que o esforço para libertar o Brasil”, disse ela no debate.

Carlos Siqueira enfatizou a necessidade de união da esquerda para enfrentar Bolsonaro. “(Ele) diz que tem a missão de liberta o país da esquerda. Se ele pretende nos eliminar, está profundamente enganado. Nós dos do PT, PSB, PCdoB, PDT e PSOL somos fruto da luta social. Precisamos aproveitar essa celebração do PT para lembrar que nossa história vem de longe, de muitos anos em que os trabalhadores resolveram tomar consciência do seu papel na humanidade e fazer os seus partidos”, avaliou.

O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) afirmou que a esquerda não tem apenas que resistir ao governo Bolsonaro, mas destruir Bolsonaro. “Temos que destruir o governo Bolsonaro. Resistir é ganhar tempo. Precisamos de algo mais que resistir”, disse Freixo, que qualificou o presidente como “esgoto” do sistema político brasileiro. Ao final de sua fala, Freixo foi ovacionado pela militância petista presente ao ato com gritos de “prefeito!”.

Última a falar, encerrando o debate já que a festa dos 40 anos prosseguiu com o debate que reuniu o ex-presidente Lula e o ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica, Gleisi Hoffman, presidente nacional do PT, destacou a necessidade da união das legendas progressistas para enfrentar o atual momento político brasileiro e lembrou a luta contra o desmonte dos direitos sociais e em defesa da soberania.