Lupi informa Internacional Socialista sobre crises concomitantes no Brasil


Wellington Penalva
28/04/2020

A Internacional Socialista (IS) pediu informações sobre a situação política e sanitária no Brasil ao presidente do PDT (único partido brasileiro integrante da organização), Carlos Lupi, na última semana. O pedido é um reflexo da união de duas crises no país: a do Covid-19 e a do governo Bolsonaro, sendo a primeira seriamente agravada pela última.

“Estamos reféns de um governo inepto e irresponsável”, escreve Lupi ainda no primeiro parágrafo da carta enviada hoje (28) à IS. Em seguida, o líder trabalhista expõe uma lista de motivos que, além de outros, apresenta a troca do ministro da Saúde durante ascensão da pandemia, o incentivo e a participação do presidente Jair Bolsonaro nas manifestações antidemocráticas do último dia 19 e a sua tentativa de interferência em investigações da Polícia Federal – esta delatada pelo então ministro da Justiça, Sergio Moro, em seu pronunciamento de renúncia ao cargo.

“Para além das ameaças ao regime democrático, o presidente é um fabricante de crises políticas. Irritado com seu então Ministro da Saúde, Henrique Mandetta, simplesmente por este seguir as orientações da OMS, Bolsonaro decidiu substituí-lo por um médico sem qualquer experiência na gestão pública e que, até agora, tem se demonstrado nulo no cargo”, diz a carta.

Ao relatar o pedido de impeachment feito pelo PDT na última quarta-feira, Lupi assevera que “se tornou inaceitável a continuidade de Bolsonaro no cargo máximo da República Federativa do Brasil”. O presidente pedetista encerra a carta com um pedido e uma afirmação: “Contamos com vocês para denunciar ao mundo o perigo que o Brasil vive nas mãos de um radical irresponsável. Aqui, seguiremos na luta para proteger o nosso povo e enfrentar os efeitos nefastos da pandemia e do retrocesso político”.

 

Leia abaixo a íntegra do documento:

Prezados membros da Internacional Socialista,

É com muita honra e consciência de minha responsabilidade que vos escrevo para falar um pouco sobre a situação do meu país, Brasil, em meio à pandemia de Covid-19. Infelizmente, o meu relato será também uma denúncia e um protesto, pois estamos reféns de um governo inepto e irresponsável, o que tem agravado ainda mais os efeitos do vírus.

O atual Presidente da República Federativa do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, considerado como de “extrema-direita”, alinha-se àqueles que negam a ciência e as recomendações da OMS (Organização Mundial de Saúde). Enquanto os governadores dos estados brasileiros se apressaram em decretar quarentena, Bolsonaro fez questão de ir à televisão, em rede nacional, sugerir que o isolamento deveria ser flexibilizado. Recomendou, por exemplo, que as escolas fossem reabertas, visto que crianças não fazem parte do grupo de risco da doença. É um pensamento completamente limitado, pois ignora o fato de que crianças moram com seus pais e avós e que, portanto, as chances de disseminação do vírus continuariam altas.

Em seu pronunciamento à população, Bolsonaro ainda recomendou o uso de um possível medicamento para tratamento do vírus, a cloroquina, mas sem que houvesse qualquer definição da comunidade científica a respeito da eficácia do medicamento, assim como dos riscos que ele poderia trazer.

Não bastasse o seu discurso, o presidente decidiu ele mesmo violar as regras de isolamento social, visitando padarias, farmácias, comércio popular etc. Vale lembrar que, após uma viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos, cerca de 24 membros da comitiva presidencial testaram positivo para Covid-19. Portanto, mesmo que Bolsonaro tenha negado a contaminação (ele não mostrou o exame para a imprensa), o seu contato com a população nas ruas é ainda mais imprudente e irresponsável.

Apoiadores do presidente iniciaram, então, campanhas contra a quarentena e pela reabertura do comércio. Diversas carreatas foram feitas no país com palavras de ordem nesse sentido e críticas aos governadores, à imprensa e à comunidade científica.

Enquanto isso, Bolsonaro não tomou as medidas necessárias para amparar a população mais pobre durante o momento de paralisação das atividades. Sua equipe econômica, inicialmente, propôs um auxílio de apenas 200 reais para trabalhadores informais – um valor completamente irrisório e insuficiente. Após articulações do Congresso, o auxílio foi alterado para 600 reais, e ficou dias esperando a sanção do presidente. Ainda hoje, após algumas semanas desde o início do programa, muitas pessoas que se cadastraram ainda não receberam o auxílio, expondo desorganização por parte do governo.

Todo este cenário de irresponsabilidade do senhor Jair Bolsonaro ocorre em meio à evolução da pandemia no mundo e no Brasil. Nesta data que vos escrevo, 28/04/2020, já temos 66.501 casos confirmados e 4.543 mortes no país. Há sérios indícios de subnotificação dos casos, uma vez que basicamente não há testes na rede pública de saúde, o que indica que este número pode ser ainda maior. Algumas capitais brasileiras já entraram em estado de calamidade pública, como é o caso de Manaus (AM), cidade no coração da nossa Amazônia, em que, na ausência de covas suficientes para enterrar as vítimas, vemos a cena desoladora de dezenas de caixões empilhados.

Não bastasse o vírus, o presidente brasileiro se comporta como um mal tão nocivo quanto. Militar, Bolsonaro já havia declarado, ao longo de sua carreira como deputado, que era favorável a um retorno da ditadura no Brasil. Agora, enquanto chefe de Estado da nossa democracia, ele incita manifestações de apoio à intervenção militar. No dia 19/04, Bolsonaro discursou para manifestantes que pediam um novo AI-5 (Ato Institucional nº5, decretado em 1968 pelo governo militar, que fechava o Congresso Nacional, cassava mandatos, proibia habeas corpus para presos políticos etc).

Para além das ameaças ao regime democrático, o presidente é um fabricante de crises políticas. Irritado com seu então Ministro da Saúde, Henrique Mandetta, simplesmente por este seguir as orientações da OMS, Bolsonaro decidiu substituí-lo por um médico sem qualquer experiência na gestão pública e que, até agora, tem se demonstrado nulo no cargo.

Na última sexta (24/04), foi a vez do Ministro da Justiça, Sérgio Moro, pedir demissão do cargo acusando Bolsonaro de querer intervir ilegalmente nas atividades da Polícia Federal. Isso ocorre em um contexto em que os filhos do presidente são alvos de diferentes investigações, seja por envolvimento com milícias, desvios de verba em gabinetes ou uso de dinheiro ilícito para criar “fakenews” na internet.

Por todo este quadro, nós, do Partido Democrático Trabalhista, entendemos que se tornou inaceitável a continuidade de Bolsonaro no cargo máximo da República Federativa do Brasil. Na última quarta (22/04), entregamos ao Congresso um pedido de impedimento do presidente, com base em todos os pontos aqui explanados. Há diferentes crimes de responsabilidade que podem ser atribuídos a Bolsonaro: ameaça à democracia, crime contra a saúde pública, e, agora, interferência indevida para benefício próprio.

Cientes da gravidade do momento, não só no Brasil como em todo o mundo, nós do PDT estamos à disposição para esclarecer aos companheiros e companheiras da IS toda e qualquer informação a respeito da crise em nosso país. Contamos com vocês para denunciar ao mundo o perigo que o Brasil vive nas mãos de um radical irresponsável. Aqui, seguiremos na luta para proteger o nosso povo e enfrentar os efeitos nefastos da pandemia e do retrocesso político.

 

Cordialmente,

Carlos Roberto Lupi

Presidente Nacional do PDT