Nesta virada de 2021 para 2022, ano em que será celebrado o centenário de nascimento de Leonel Brizola, de Darcy Ribeiro e o bicentenário da independência – ano de eleição presidencial em que o pré-candidato do PDT é o ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes –, consideramos importante fazer o resgate de uma palestra de Brizola, no dia 4 de fevereiro de 2002, 13 dias depois que completara 80 anos, para os membros do diretório estadual do PDT-RJ, transmitida para o Brasil em rede radiofônica. Nela, Brizola fez longa explanação sobre o que considerava síntese do que chamava de seus “pensamentos conclusivos”.
Dias antes, passara praticamente sozinho o seu aniversário na fazenda que tinha no Uruguai (onde viveu a maior parte de seu exílio) e vendeu, semanas antes de vir a falecer em junho de 2004. Na reunião com os integrantes do PDT, na sede da Fundação Pasqualini, Brizola explicou que preferiu ficar só no seu aniversário de 80 anos para refletir sobre sua vida, sobre o Brasil e sua trajetória política.
A reunião foi aberta por Lupi, que fez questão de ler um documento preparado pelos companheiros do PDT para homenagear Brizola, nos seus 80 anos.
Esta fala histórica de Brizola foi gravada e transcrita; e por sua absoluta atualidade, merece ser lida atentamente por cada pedetista empenhado na luta contra o desgoverno Bolsonaro, que acredita em um futuro melhor para o Brasil com o projeto nacional de desenvolvimento de Ciro Gomes – continuidade do projeto de Brasil iniciado com Getúlio Vargas na Revolução de 30; que teve continuidade no governo de João Goulart, ceifado pela ditadura militar; e pelo qual Brizola lutou a sua vida inteira: a Era Vargas.
Na reunião de 4 de fevereiro de 2002, Brizola sintetizou a sua luta numa frase, que também é a síntese da luta do PDT e da candidatura de Ciro:
“Meu papel [político] precisa ser útil. Ser útil a toda uma plêiade de companheiros – jovens, cheios de energia, com a consciência queimando contra tudo isso. E poder ser útil a eles. Este é o meu papel.”
A fala de Brizola, na íntegra, está transcrita abaixo e é documento para se ler e guardar.
Mas antes da palestra, ao abrir a reunião do dia 4 de fevereiro de 2002, Lupi fez questão de ler para Brizola um documento elaborado por companheiros do PDT e apresentado naquele mesmo auditório, sede nacional da Fundação Pasqualini, no dia 22 de janeiro, em reunião em homenagem a seu aniversário.
O texto, intitulado “Brizola, pelo Brasil, pelos brasileiros”, afirmava, entre outros pontos: “Leonel Brizola, em seus vigorosos 80 anos de vida, traz a ousadia de viver para lutar para mudar o Brasil, que tanto ama para vê-lo como pátria livre, soberana, próspera e justa”. Frisava que o fundador do PDT tinha quase seis décadas de vida pública “escritas com seriedade, coerência, lucidez e coragem”. Abordava a sua infância humilde e difícil: uma das causa de sua identificação com os interesses da maioria dos brasileiros, excluídos – pessoas que o ajudaram a ser na política “força progressista contra o atraso, a submissão e a espoliação”.
O documento o definiu como “defensor resoluto de reformas estruturais” para o Brasil porque nunca acreditou “em modernismos ou soluções superficiais ou elitistas” para tirar o país do atraso e da espoliação.
O texto também dizia que Brizola “Compreende, como poucos homens públicos, em toda a sua profundidade, a crucial importância da questão educacional; transformando-se, pelo que fez – 6 mil e 600 escolas no Rio Grande do Sul; e as escolas de tempo integral: 513 CIEPs no Rio de Janeiro – no primeiro estadista brasileiro da educação.”
Ainda foram citados no texto episódios como a Campanha da Legalidade “que provocou a ira dos poderosos e reacionários contrários às transformações sociais” no país; os 15 anos que amargou no exílio; e o fato de ter ganhado e perdido eleições – ressaltando, porém, que “todos os mandatos que exerceu tiveram o crivo popular, sempre dignificando os mandatos e funções públicas que exerceu”.
O texto lembrou que “receios, apatias e omissões nunca fizeram parte de sua obra de vida e que, em 1998, “num ato de grandeza e renúncia pessoal”, Brizola contribuiu decididamente para postular uma coalização de forças democráticas e populares ao aceitar ser vice-presidente de Lula “na tentativa de romper com o ciclo neoliberal entreguista, explorador e excludente”.
Mas FHC se reelegeu em 98 “e o continuísmo mostra toda a sua face cruel, arrogante, desumana – subproduto do modelo privatizante, dependente, periférico, colonial e insustentável”.
O documento lido por Lupi, na véspera da eleição presidencial de 2002, alerta ainda que fracassou o modelo gerenciado por FH” porque “desmontaram o país, venderam quase tudo, internacionalizaram a economia (…) colocaram-nos de joelho diante dos grandes interesses internacionais; e perdemos o direito de decidir. Pois, sem soberania, a Nação deixa de existir. “E a Nação somos nós: o povo brasileiro”.
Na sua conclusão, o texto ressalta: “Conclamamos ao companheiro Leonel de Moura Brizola para que, com a mesma ousadia de sempre (…) Seja candidato a Presidente da República, com o propósito de transformação (…) Vencer para mudar! Nosso reconhecimento e aplauso aos seus 80 anos de uma luta permanente por uma sociedade mais humana e um mundo mais justo. O Brasil precisa de seu patriotismo, de sua coragem e de sua coerência”.
Brizola não foi candidato, mas após muito trabalho de articulação, decidiu apoiar a candidatura de Ciro Gomes à presidência da República, com o PDT indicando o vice da chapa de Ciro.