“Companheiros, quem pode, nesta hora, representar a esperança para o povo brasileiro somos nós, o nosso partido, o trabalhismo.” Com essa perspectiva, o então presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, enaltecia a importância da representatividade pedetista e o potencial de avanço ao longo da trajetória nacional. O discurso, que marcou sua última manifestação pública, ocorreu no dia 4 de junho de 2004 – 17 dias antes do seu falecimento-, no Encontro Nacional da sigla, em São Paulo.
Naquele ano, o partido, com 24 anos de fundação, passaria uma por uma vital transição. Com a passagem da presidência para Carlos Lupi, o PDT escreveu novos capítulos até chegar aos atuais 40 anos com o apoio e contribuição de lideranças e da militância. Foram mais 16 anos de resistência, crescimento e evolução, mas com a manutenção dos princípios, valores e bandeiras eternizadas pelas palavras visionárias de Brizola.
“Estamos cumprindo a missão que nosso grande chefe inspirador, Getúlio Vargas – o maior de todos os brasileiros, porque foi simples, humilde e sábio – delegou. Getúlio veio de longe para terminar a sua vida com um ato de grande coragem para defender o povo brasileiro”, afirmou o ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul.
“Porque somos um partido político que tem força cívica, patriótica – que não se vende e nem se entrega enquanto existir trabalhismo organizado neste país. E enquanto existir trabalhismo não haverá força estranha no mundo que consiga firmar o pé sobre a nossa soberania”, completou.
Realidade
No alerta sobre a instabilidade enfrentada na recente democracia, Brizola comentou sobre o processo repressivo que limita, até os tempos atuais, o progresso do maior país da América Latina.
“Companheiros, nós temos uma grande responsabilidade. Tudo isto que tem acontecido desde o dia em que impuseram a ditadura, o regime da força, e desde que surgiu essa democracia meio mambembe manobrada pelo poder econômico, nosso país não conseguiu realizar-se a si mesmo. E as provas estão aí, quando passamos os acontecimentos que vivemos, um a um”, disse.
“Primeiro, os graúdos de sempre se juntaram com os militares que, por sua vez, ficaram segurando o povo como se fosse uma vaca leiteira para que eles pudessem ordenhá-la. Depois, nós fomos para as ruas, na campanha das ‘Diretas Já!’, que carregou muita gente falsa nas costas. Mas isso, hoje, não tem importância porque o povo foi para a rua e derrubou a ditadura. Assim como derrubamos Hitler e Mussolini, dando nosso sangue, participando da guerra cheios de sonhos para depois ter a decepção que tivemos”, criticou.
Enfrentamento
Ao defender o desenvolvimento e o potencial nacional, Brizola mostrava o comprometimento do PDT com os interesses do povo brasileiro diante do histórico perfil “entreguista” e explorador dos neoliberais que dominavam os cenários político e econômico.
“Porque nós estamos com a verdade. A base da nossa doutrina, do nosso pensamento, das nossas ideias, é a verdade irrefutável. Nós não acreditamos no capital estrangeiro que vem para cá dizendo que traz progresso e o desenvolvimento. Só acreditamos quando ele chega aqui trazendo suas máquinas e suas famílias para morar aqui – e não uma malinha com dinheiro escorada nos bancos interessa- dos em explorar nosso país”, ponderou, indicando a necessidade de “fábricas, de fontes de produção e de tecnologia.
“O que não queremos é a bomba de sucção que eles trazem e ainda nos enchem de dívidas. Copiamos tudo do estrangeiro e eles até concordam, batem palmas, elogiam o governo. Mas, o principal, ele não nos dá: um bom salário. Lá, na terra deles, eles pagam grandes salários para seus trabalhadores. Aqui, pagam a exploração e a miséria para nossos trabalhadores”, acrescentou.
O pacote de críticas não indicava uma posição de aversão, mas de ratificação da necessária independência na busca da justiça social e do fortalecimento econômico interno da nação, tendo como base a força de trabalho e seus direitos.
“Nosso partido pensa desta forma. Não rejeita a colaboração do capital estrangeiro, mas sob nosso controle e não sob o controle deles. Também não damos mais importância ao capital estrangeiro do que ao nosso. Isto porque nosso verdadeiro capital é o trabalho. Nós só acreditamos no trabalho do povo brasileiro. Por isto é que nós apontamos todo este quadro como uma grande injustiça”, relatou.
Para encerrar, Brizola deixou uma mensagem simbólica para o futuro: “Enquanto tivermos forças e razões, que Deus lá em cima nos lance as suas bênçãos, precisamos ser incansáveis e proteger nossas crianças. Meu abraço e muito obrigado”.