José Augusto Ribeiro: A corrida dos ratos


OM - José Augusto Ribeiro

Mal terminara a reunião da comissão do impeachment e até deputados que tinham votado contra ele saíram correndo em busca do Vice-Presidente Michel Temer e partidos até então integrados na base de apoio ao governo, ocupando cargos de todos os escalões, inclusive ministérios, desembarcaram de seus compromissos para anunciar o voto pró-impeachment no plenário da Câmara. Parecia uma cena de desenho animado, os bichinhos se acotovelando e atropelando no esforço desesperado para tentar a pole position.

Os debates na comissão foram um festival de intolerância, ignorância  e exibicionismo que rivalizaria com o Febeapá dos anos da ditadura. O solitário representante masculino de um recém-registrado Partido da Mulher Brasileira, que de mulher só tinha um longo rabo de cavalo descendo-lhe até o traseiro, ofereceu ao colegas e aos telespectadores o espetáculo da referência a um autor trágico identificado por ele, na leitura de seu discurso, como esquilo, quando é certo que o texto de autoria alheia mencionava Ésquilo, com E maiúsculo e acento agudo.

O relator estava tão pouco familiarizado com o parecer que lhe coube ler, mas certamente não escreveu nem estudou antes de entrar em cena, que cometeu repetidamente a pronúncia  “capita” em vez de capta e em dado momento, tentando ler o oxítono “é mistér”, é conveniente, é preciso fazer isso ou aquilo, leu o paroxítono “é Míster”, que aqui reproduzo com maiúscula e acento na letra “i”, e poderia reproduzir com a abreviatura Mr., porque ele talvez estivesse crente de que homenageava Mister Trump, o queridinho da extrema-direita mais obtusa nos Estados Unidos.

Até o dia do relatório, além disso, o relator mantinha um protegido seu num bom cargo no governo e esqueceu de pedir que o camarada se demitisse para não fazê-lo passar vergonha.

Se fossem mais espertos, esses maratonistas sôfregos se poupariam e nos poupariam o espetáculo pusilânime de sua corrida e depois fariam vênia ao Vice votando em voz baixa pelo impeachment. Juro que o  propósito deste artigo era apenas registrar a decisão do PDT ao fechar questão contra o impeachment, decisão sóbria e digna, sem qualquer exibicionismo. Mas não resisti à tentação contar essas coisas, porque o contraste é muito esclarecedor.

Mesmo discordando de muita coisa do governo Dilma, sobretudo de suas concessões no campo da política econômica e dos direitos sociais, o PDT ficou firme no cumprimento dos compromissos assumidos ao aceitar participação no governo e agora decide ficar firme na hora da tormenta. O que quer que aconteça daqui para a frente, isso lhe valerá o respeito do país.

Em contraste com a atitude do PDT, fica escandalosamente clara a conduta indecente de parlamentares e partidos que até a véspera participavam do governo e se aproveitavam dele e na hora do perigo, e só então, se descobriram no papel virginal de donzelas encouraçadas na defesa de uma virtude até então bem complacente.