O ex-ministro Jair Soares começou, em 1946, seus longos 62 anos de vida pública, como vice-presidente da Mocidade do Partido Social Democrático gaúcho – mesma época em que Jango e Brizola, também jovens, militavam na Ala Moça do PTB. Jair Soares, formado em Odontologia e depois em Direito, foi vereador, secretário de Saúde, deputado federal, ministro da Previdência Social e governador dos gaúchos, pelo PDS, entre 1983 e 1987, mesmo período em que Brizola governou o Rio de Janeiro, na primeira eleição direta depois da ditadura.
Como ministro, destacou medidas que tomou em defesa do servidor público; e lembrou que, no Governo do Estado, atendeu uma reivindicação do funcionalismo gaúcho que havia mais de 20 anos, ao conceder-lhes o 13° salário.
Jair Soares conheceu Jango de perto e, embora não participasse das mesmas rodas políticas, o admirava por sua paciência de ouvir a todos, especialmente “as pessoas simples e sábias”. O movimento da Legalidade, liderado por Brizola, que garantiu a posse de Jango foi para ele “uma dessas coisas que acontecem na nossa política, que nos enriquecem – mas não cultuamos, porque não veneramos aqueles que, realmente, fizeram algo pelo país”.
Como atuavam em campos opostos na política, Jair Soares destaca que só quando se tornou Ministro da Previdência no Governo Figueiredo, de 1979 a 1982, é que viu de perto o trabalho que Jango fez, especialmente na questão da previdência social brasileira. E declara: “Acho que temos que prestar uma grande homenagem ao presidente João Goulart, nestes 100 anos, porque ela é merecida; mais ainda da minha parte, porque fui adversário e amigo dos trabalhistas”.
Segundo Jair Soares, de Jango em diante (depois do golpe de 64), muito pouco foi feito pelos trabalhadores brasileiros. “Getúlio Vargas e João Goulart foram pessoas que se preocuparam com o direito social: com a Previdência, com o trabalhador”.
O ex- ministro da Previdência Social, ao reafirmar que ninguém fez mais pelos trabalhadores brasileiros do que Getúlio Vargas e João Goulart, lamenta que o que os dois fizeram não foi aprimorado – “esta é que é a grande questão. E foi categórico: “Ao contrário, hoje, sofremos a falácia do déficit da Previdência, que é uma mentira”.
Jair Soares achava que quando o PT assumiu o governo seria diferente. Mas isto, para ele, não aconteceu; e o PT, no governo, foi até pior. Lembrou que Juscelino Kubistchek, na presidência, “raspou todo o dinheiro para construir Brasília”, acabando com as reservas da Previdência; nunca devolvidas.
Mas Lula, em sua opinião, fez pior ao botar todos os recursos da Previdência na “super-receita”, misturando dinheiro do empregador, do trabalhador, das prefeituras, dos estados, das empresas, da contribuição sobre o Finsocial e das loterias.
Por isto, como conhecedor do direito previdenciário, não faz sentido afirmar – como o ministro Paulo Guedes faz o tempo todo – que se não fizer a reforma da Previdência o Brasil vai parar. “Orçamento da União é uma coisa, orçamento da Previdência é outra”, garante.
Jair Soares considera que é importantíssimo que os jovens se inteirem do debate da Previdência – a começar pela obrigatoriedade de serem descontados em seus salários assim que entram no mercado do trabalho – exatamente por serem jovens e não estarem nem um pouco preocupados com o fato de que um dia precisarão estar aposentados. Em sua explicação sobre esta despreocupação, usa a expressão “jovens, quando o éramos”, o que demonstra que também era um pensamento natural no período de sua juventude.
– “A gente nunca acha que vai adoecer; nunca se pensa que vai morrer. E a coisa mais certa na vida é que o epílogo é a morte: não existe vacina para a vida; não existe o ficar para a vida toda. E os jovens, se não fosse obrigatório, não fariam a sua poupança para ter uma velhice adequada, para poder viver com dignidade”.
Confira a entrevista completa abaixo: