“Jango foi um homem fraterno, identificado com seu tempo”


Osvaldo Maneschy e Apio Gomes
08/07/2019

João Luiz Vargas nasceu em berço janguista, que veio do pai e principalmente da avó. E como, trabalhista de raiz, primeiro elegeu-se vereador em São Sepé, depois prefeito da cidade; e, posteriormente, quatro vezes deputado estadual pelo Rio Grande do Sul. E no exercício destes cargos, sempre fez questão de se identificar com o presidente João Goulart – a quem conheceu pessoalmente quando tinha 22 anos, em 1976, ao visitá-lo no exílio na Argentina, em Taquarembó.

Nunca esqueceu o conselho que Jango lhe deu na ocasião e que guarda até hoje com carinho: “Guri, nunca abandona os teus amigos”. Era o ano de 1976 e ele foi visitar Jango acompanhando amigos, todos trabalhistas histórico de São Sepé: Luciano Palmeiras de Freitas, Doutor Afif e João Natalício Bruno Fontes.

Lá, conheceu um Jango sereno, um pouco obeso, cabelos embranquecidos “e já um pouco destelhado pelos anos de vida”. Esta é a imagem que guardou. Daqueles poucos dias em que teve oportunidade de conviver com o ex-presidente também guardou a sua firme disposição de voltar um dia ao Brasil “porque aqui era a sua querência”.

João Luiz Vargas define até hoje Jango como um homem fraterno – extremamente fraterno –, identificado com seu tempo.

A Legalidade – liderada por Brizola – foi fundamental para que Jango chegasse à presidência e lutasse pelas reformas de base. Depois da posse, no exercício da presidência da República, “as manifestações de Jango eram sempre eivadas de sentimento de fraternidade; bem diferente do presidente de hoje que, toda vez que se manifesta, manifesta ódio, rancor e perseguição.

“O que trago na minha alma, que pertence ao meu coração, à minha alma é aquele presidente fraterno; e que fez com que, com sua fraternidade e confiança nos seres humanos seu governo sofresse um golpe. Porque não interessava, como não interessam até hoje, as reformas de base”.

João Luiz Vargas prosseguiu: “As reformas que estão propondo agora é a reforma da Previdência; e a quem ela prejudica? Prejudica ao trabalhador brasileiro, ao servidor público que também é trabalhador”. Segundo João Luiz, 70% das pessoas que ganham salário no Brasil, ganham um salário mínimo e meio, nem dois salários.

“Estes é que terão um pagamento maior na sua contribuição para ter sua aposentadoria”, ao contrário do governo de Jango, que tentou promover mudanças estruturais, mas defendendo posições claras e fraternas em prol dos mais necessitados.

Lembrou que quando Jango criou a Superintendência de Reforma Agrária (Supra) foi com o objetivo de que os agricultores brasileiros sem terra recebessem um pedaço de terra para, sem invasão, produzir com o apoio do governo, “diferente daquilo que a gente vive hoje”.

A questão da soberania nacional, comparando com a época de Jango, é outra grande preocupação de João Luiz Vargas nos dias de hoje. Na sua opinião, não interessa aos Estados Unidos o crescimento do Brasil; e atualmente há um acordo neste sentido, escondido, do atual governo.

“O Brasil tem que abrir as suas energias econômicas para o globo, de forma que esteja também os americanos e aqueles que mais crescem hoje, que são os orientais – China e Japão”, entre eles.

Outro tema da atualidade que também o preocupa é a Amazônia, que a cada dia, na sua opinião, “é entregue ao capital estrangeiro para que aqui venha buscar não só questões que dizem à proteção biológica, mas também nossas riquezas minerais”.

Homem de fé no futuro do Brasil, João Luiz Vargas acredita que os dias passarão ligeiro até se dar um basta na situação atual elegendo, na próxima eleição para presidente, o ex-ministro Ciro Gomes.

“Ciro Gomes é um homem determinado; homem que traz bagagem fantástica de administrador e traz este sentimento de fraternidade do doutor Jango. Às vezes um pouco violento, sim! Mas um misto de Jango e de Brizola. Será que não é isto que estamos precisando?”

Acrescentou: “Como disse o nosso grande líder (e alguns criticam) Che Guevara [“Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”]: Hay que endurecerse, sin perder jamás o sentimento de fraternidade, sem perder o amor – traduzindo, em parte o que ele nos ensinou. Sem perder a ternura…”

E finalizou: “Nós temos uma grande obrigação: de preservar os frutos que surgem das nossas raízes, que criam árvores frondosas e que dão frutos. E se nós não protegemos estes frutos, as raízes também serão perdidas. Temos que proteger os frutos das raízes do Trabalhismo. É a isto que eu me dedico há muito tempo”.

Confira a entrevista completa abaixo: