Jango: “Desgraçada a democracia se tiver que ser defendida por tais democratas”


Por Bruno Ribeiro / PDT-RJ
13/03/2021

No comício das reformas, em 1964, o então presidente condenou atentados aristocráticos contra o Governo 

“Desgraçada a democracia se tiver que ser defendida por tais democratas.” A frase do presidente da República, João Goulart (Jango), para mais de 150 mil pessoas na Central do Brasil, no Centro do Rio de Janeiro, em 13 de março de 1964, explicitou a tentativa de apropriação e destruição, por aristocratas, de um regime político nacional que buscava efetivar a soberania nas mãos do próprio povo.

“Não tiram o sono as manifestações de protesto dos gananciosos, mascarados de frases patrióticas, mas que, na realidade, traduzem suas esperanças e seus propósitos de restabelecer a impunidade para suas atividades antissociais”, justificou, dias antes do golpe militar.

Na exaltação das organizações operárias e lideranças populares presentes, que permitiram a superação de campanhas de terror ideológico e sabotagem contra o ato e o governo, Jango condenou o boicote de representantes da burguesia, então alimentado por interesses internacionais.

“Democracia para esses democratas não é o regime da liberdade de reunião para o povo: o que eles querem é uma democracia de povo emudecido, amordaçado nos seus anseios e sufocado nas suas reivindicações”, disse.

“A democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia antipovo, do antissindicato, da antirreforma. Ou seja, aquela que melhor atende aos interesses dos grupos a que eles servem ou representam”, acrescentou.

Sobre o perfil dos opositores, o presidente listou outras medidas que atentavam contra o fortalecimento do Estado. Como exemplo, a busca pela liquidação da Petrobras e a expansão dos monopólios privados que, segundo ele, levou ao suicídio do ex-presidente Getúlio Vargas.

“Democracia é o que o meu governo vem procurando realizar, como é do seu dever, não só para interpretar os anseios populares, mas também conquistá-los pelos caminhos da legalidade, pelos caminhos do entendimento e da paz social”, comparou.

Contraponto 

Ao ratificar o lema do seu governo – “progresso com justiça, e desenvolvimento com igualdade” –, o presidente indicou para os trabalhadores a importância das reformas de base na pavimentação do “caminho do progresso pela paz social”.

“Reformar é solucionar pacificamente as contradições de uma ordem econômica e jurídica superada pelas realidades do tempo em que vivemos”, ponderou.

“Não apenas pela reforma agrária, mas pela reforma tributária, pela reforma eleitoral ampla, pelo voto do analfabeto, pela elegibilidade de todos os brasileiros, pela pureza da vida democrática, pela emancipação econômica, pela justiça social e pelo progresso do Brasil”, completou.