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Apesar da crítica, Lago manifestou esperança de que os ministros do TSE revertam a sentença já que votaram divididos pela cassação do seu mandato empate de três votos a três fato que obrigou o presidente do tribunal, ministro Ayres de Brito, a desempatar.
Em entrevista coletiva no Rio de Janeiro aos integrantes da Associação dos Correspondentes da Imprensa Estrangeira (ACIE), e também a jornalistas brasileiros, Lago historiou a trajetória da família Sarney a partir de 1965, quando José Sarney ascendeu ao poder no Maranhão após 64; hegemonia política que ainda hoje se mantém.
Com o fim da ditadura, todos os estados brasileiros respiraram aliviados menos o Maranhão porque Sarney, depois de servir a ditadura, ganhou mais poder ainda com as eleições indiretas e sua posterior condução à presidência da República com a morte de Tancredo, explicou Jackson. Acrescentou que hoje, dos 56 cargos federais existentes no Maranhão, Sarney ocupa 54 e o PT apenas dois.
Na opinião de Lago, se na época da ditadura Sarney recorria às listas de cassações para se livrar de desafetos, hoje usa outros métodos. Citou o fato de que uma prima de Sarney, a desembargadora Norma Sarney, atuou na eleição como
corregedora do TRE-MA e hoje ocupa a presidência do mesmo Tribunal.
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Ainda sobre a decisão do TSE de cassar seu mandato, lembrou que o processo nesse sentido foi aberto pela candidata Roseana Sarney logo após denuncia espontânea, ironizou, de quatro eleitores que teriam tido os seus votos comprados por ele, Jackson, o que caracterizaria abuso de poder econômico. Jackson cobrou o fato de que um desses quatro eleitores ter revelado toda a armação, mas o TSE não ter levado isso em consideração.
O que estamos vendo no Maranhão, na prática, é uma tentativa de destruir a participação popular no processo político, destacou. Acrescentou que ainda nesta quinta, com a publicação do acórdão do TSE, ainda cabe recurso. O governador disse acreditar que o TSE ainda reverta decisão anterior porque foi um julgamento dividido.
O presidente da Assembléia Legislativa do Maranhão, Marcelo Tavares, presente à coletiva, falou da insatisfação dos maranhenses com os 40 anos de domínio da família Sarney. O processo de cassação de Jackson Lago não se justifica: ele está sendo feito como se fosse legítimo, sem o ser, na verdade, denunciou.
O mandato do governador termina no dia 31 de dezembro de 2010 e não se pode tirar da população do Maranhão o direito de decidir sobre seu destino. Não somos uma capitania hereditária, não podemos considerar normal esse momento atípico, afirmou o deputado.
Jackson Lago, didaticamente, explicou porque hoje o Maranhão é hoje o estado mais pobre da federação quando, antes, era espécie de oásis para as famílias de migrantes nordestinos que para lá se deslocavam, fugindo da seca. Eles procuravam e se instalavam no Maranhão devido a grande quantidade de terras livres, férteis, disponíveis. Acrescentou: O Maranhão chegou a ser o segundo produtor nacional de arroz, atrás apenas do Rio Grande do Sul que já usava técnicas modernas de cultivo, lembrou.
Mas com a ascensão dos Sarney e a aprovação de uma lei inconstitucional, começou a política da cerca e as terras livres do Maranhão passaram a ser vendidas no Sul. Grandes empresas como a Vale, a Volkswagen e muitas outras, passaram a ser donas de extensas áreas no Maranhão a maioria delas visando o lucro fácil da derrubada de árvores e comercialização da madeira. Assim os lugarejos foram desaparecendo, os camponeses sendo afastados da terra, as cidades médias e grandes incharam. O Maranhão tornou-se um estado pobre e passou a exportar gente. Não é por acaso que volta e meia se descobre trabalho escravo no Maranhão, destacou.
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Na opinião de Jackson, são as grandes perspectivas econômicas do estado hoje, ainda mais agora com a recente descoberta, pela Petrobrás, de grande jazida petróleo que ainda está sendo avaliada nas águas profundas diante de Barreirinhas. Ainda sobre Barreirinhas, disse que bastou ser ventilada a possibilidade do município se tornar um dos mais prósperos do Maranhão, devido as descobertas da Petrobrás, para que as eleições locais ficassem indefinidas. Um parente de Sarney, que disputou e perdeu a prefeitura, conseguiu na Justiça Eleitoral impedir a posse do prefeito eleito, existindo hoje um impasse em Barreirinhas. Lago falou também na possibilidade do Estaleiro Mauá se instalar no estado, para produzir plataformas petrolíferas e na construção da refinaria de Macabeiras, para exportar diesel e gasolina.
Voltando a política, Jackson Lago lembrou que nas últimas eleições municipais a família Sarney viu o seu poder nos municípios do interior diminuir porque dos dois terços que controlavam, ficaram com apenas um terço dos municípios. Esse fato também explicaria, na sua opinião, a ânsia dos Sarney em afastá-lo do governo. (OM)