“Só uma empresa estatal, com compromisso com o Brasil, investiria para alcançar a autossuficiência em petróleo”, afirmou o geólogo e ex-diretor da Petrobras, Guilherme Estrella, ao relatar os incentivos para a descoberta de óleo e gás natural nas camadas do pré-sal. A trajetória de sucesso foi relatada na nova edição do ‘Trabalhismo na História’, produzido pelo Centro de Memória Trabalhista (CMT). “Em aspectos estratégicos, são as decisões políticas que valem,” garante, ao mencionar a importância democrática da Constituição de 1988.
Reconhecido como o “pai do pré-sal”, o servidor público consolidou uma carreira de mais de 40 anos de defesa dos interesses do Estado a partir da valorização do potencial energético. No cenário do capitalismo produtivo, com a exploração do petróleo e da mineração, ele considera que a aplicação da geociência foi determinante para o progresso nacionalista do país, nas últimas décadas.
“Com o Brasil dependente de petróleo importado, descobrimos o pré-sal, mas o mundo não tinha tecnologia para exploração em águas profundas e ultraprofundas. Os estudos mostravam o potencial para que nós virássemos autossuficientes e, então, buscamos soluções internamente”, relatou, ao explicar o processo de criação e desenvolvimento contínuo de metodologias e processos, com apoio acadêmico, para extração em níveis superiores a 300 metros, tendo como base a lâmina d’água.
“A integração das universidades com a frente operacional é fundamental. São oportunidades de inovação que são identificadas e, com o centro de estudos ao seu lado, você consegue introduzir soluções em pouquíssimo tempo”, completou, citando que a descoberta do pré-sal foi umas das maiores do setor, em nível mundial, nos últimos 50 anos.
Realidade
Durante a entrevista para o coordenador do CMT, Henrique Matthiesen, Estrella valorizou o legado nacionalista do ex-presidente da Republica e fundador da Petrobras, Getúlio Vargas, e colocou Leonel Brizola como um dos seus principais indutores.
“É uma referência maior, que o povo brasileiro tem, de luta pela soberania nacional, direitos trabalhistas e educação, com os CIEPs no Rio de Janeiro”, apontou, ao mencionar o indicativo do líder pedetista sobre a necessária posição da nação na disputa internacional: “Brizola sempre dizia que a globalização só era possível com um país soberano. Não se podia entrar nesse processo de uma maneira submissa e dependente da opinião de outros que não tem o mesmo interesse do Brasil.”
Sobre a situação atual da estatal brasileira, Estrella associa a venda de ativos, pelo governo Bolsonaro, com um ataque direto às garantias soberanas a partir de medidas de ‘Estado mínimo’.
“O que eles fizeram com a Petrobras não atinge a soberania nacional? Venda de gasodutos e refinarias. Estão mexendo na produção, agregação de valor e distribuição de energia para todo o Brasil. Além da venda da BR Distribuidora, que foi colocada em mãos estrangeiras”, criticou.
Confira a entrevista, na íntegra: