Durante reunião dos ministros do Trabalho e Emprego do Grupo dos 20 (G20), em Guadalajara, México, nos últimos dois dias (17e 18), o ministro brasileiro, Brizola Neto, destacou em seu pronunciamento o crescimento da economia brasileira impulsionado pela valorização do trabalho e do trabalhador e pela extensão da proteção social.
O ministro falou da política adotada pelo Brasil diante da crise e da visão da presidente Dilma que reconhece o emprego como um objetivo das políticas macroeconômicas, e que merece tanta atenção quanto a inflação, a taxa de juros e o câmbio. “O trabalho, como a oportunidade de exercê-lo, não é um fruto da atividade econômica, mas uma de suas mais vigorosas raízes.” (leia abaixo pronunciamento na íntegra)
Brizola Neto também aproveitou para convidar os ministros para a conferência Rio + 20 das Nações Unidas. “Nela, queremos aprender, mas também partilhar o que aprendemos, com tanto esforço: que o crescimento deve ser inclusivo e estar associado a um processo de desenvolvimento sustentável econômico, social e ambientalmente.”
Durante a reunião, os ministros reconheceram a necessidade de um enfrentamento maior ao crescente desemprego mundial, principalmente entre a juventude. No encontro, destacaram a difícil situação da proteção social a milhões de jovens fora do mercado de trabalho e deram ênfase à criação de vagas para a juventude e ao impulso da indústria verde.
As conclusões desta reunião serão apresentadas na conferência de chefes de Estado e de Governo do G20 que será realizada nos dias 18 e 19 de junho no balneário mexicano de Los Cabos.
O G20 inclui as maiores economias do mundo e emergentes, e a União Europeia como um bloco. O grupo, de 19 países, é composto por Argentina, Austrália, Brasil, Reino Unido, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Coreia do Sul, Turquia e EUA, além da União Europeia.
Abaixo, leia pronunciamento do ministro Brizola Neto.
Senhora Presidenta, senhoras e senhores,
Agradeço, de início, a oportunidade de participar, há tão poucos dias no cargo de ministro de Estado, de uma reunião de tamanha importância, seja pela qualidade de seus participantes, seja por representarmos aqui as grandes forças motrizes da economia mundial.
E quando falamos da economia mundial, nos vêm à mente que esta economia está em crise, uma crise que ultrapassa os limites dos planos financeiros. De forma dramática, em muitos países irmãos, perderam-se milhões de empregos e, ainda pior, vão se perdendo as esperanças de uma geração de jovens, que vêem fechadas as portas de seu próprio futuro individual e o porvir das coletividades humanas que integram.
Nós, ministros de estado do Trabalho, enfrentamos este desafio. O objeto de nossa preocupação, o foco de nossas tarefas expressa-se, de forma assustadora quando, muito além das estatísticas econômicas, vemos nas ruas o resultado de uma ordem econômica que reduziu o trabalho humano a uma mercadoria. Não!
O trabalho é a fonte da riqueza, do progresso, é aquilo que nos torna uma civilização. A trajetória da história humana é a da afirmação do valor do trabalho e da dignidade seu grande agente: o trabalhador.
Quando, como nesta crise, se perdem milhões de empregos e se degradam as condições laborais, certamente não estamos avançando para a civilização, mas deixando que parcelas das coletividades humanas se reaproximem da barbárie.
Perdoem-me, senhores ministros, meus colegas de angústia, se me expresso com certa veemência. Mas ser eu próprio um jovem, de um país jovem, recém chegado ao proscênio do concerto mundial, faz necessário que seja assim, sob pena de deixarmos de ser sinceros, de transmitirmos nossas próprias e dolorosas experiências.
Vivemos, no Brasil, durante décadas, sob o império de ideias que, sob um discurso de modernização, repetiu-nos a lenda de que haveria um paraíso distante, um Shangri-la, onde o emprego e a fartura habitariam.
Mas, para alcançá-lo, seria inevitável o sofrimento, a privação, a incineração de milhões de vidas e sonhos humanos e da própria Natureza, do planeta que partilhamos.
Por décadas, aboliram-nos o sonho e a esperança, mas sonhos e esperanças são teimosos e rebrotaram. E foi deste vigor que o Brasil abriu um caminho que inverte os pólos desta insana e falsa lógica econômica.
O crescimento da economia brasileira vem sendo fruto de uma política econômica que se funda na geração de empregos, no fortalecimento dos direitos fundamentais e no diálogo social e extensão da proteção social, em especial para as populações mais vulneráveis. E como precisamos deste crescimento, num país continental e onde se convive com tanto atraso e exclusão, como ainda é o Brasil! Convivemos, sim, mas sem nos conformarmos jamais a um fatalismo econômico de que assim tem de ser. Ao contrário, assumirmos uma política ativa de resgate e inclusão, porque é o povo – seu trabalho e sua confiança – o único alicerce sólido da riqueza.
Quero recordar aqui as palavras que ouvi da Senhora Presidenta da República do meu País, Dilma Roussef, no dia de minha posse, há três semanas: o emprego é um objetivo das políticas macroeconômicas, e merece tanta atenção quanto à inflação, a taxa de juros e o câmbio, ou seja, o trabalho e a oportunidade de exercê-lo não é um fruto da atividade econômica, mas uma de suas mais vigorosas raízes. Raiz que deve ser protegida, preservada e adubada, se queremos ver frondosa a árvore da fortuna. Educação, qualificação profissional e emprego trazem-lhe a fertilidade indispensável, mas é preciso, porque ainda tenra, protegê-la das intempéries.
Neste mundo globalizado, onde a economia é um sistema de vasos comunicantes, políticas recessivas e de insensata expansão monetária cruzam rapidamente oceanos e nos obrigam a enfrentar marés cambiais potencialmente desastrosas. A liberdade de mercado não pode aniquilar a soberania das nações. Não é nosso desejo, ao contrário, acreditamos no poder criativo do capital e do investimento privado, venha de onde vier. Nós o vemos como uma alavanca indispensável à transformação dos nossos países. Somos, aliás, como Nação, a soma harmônica da contribuição de dezenas de países que teceram o que é o povo brasileiro.
Porque o Brasil formou-se assim: recebendo, absorvendo, processando e sintetizando, de sua maneira própria, o novo, o humano, o fraterno. Este país, que tanto ama o novo, tem de somar capacidades para produzir a inovação. E a inovação é um produto de seres humanos bem cuidados, educados, qualificados, de horizontes abertos e desejos intensos.
Meu país quer partilhar com todos os senhores mais do que palavras, experiências.
No próximo mês, teremos o orgulho de sediar a conferencia Rio + 20 das Nações Unidas. Nela, queremos aprender, mas também partilhar o que aprendemos, com tanto esforço: que o crescimento deve ser inclusivo e estar associado a um processo de desenvolvimento sustentável econômica, social e ambientalmente.
Um progresso que se funde no emprego e trabalho decente, com igualdade de oportunidades para os jovens, as mulheres, os negros, as pessoas com deficiência, entre outros, e que esteja no centro do processo de formulação e implementação das políticas públicas.
Acreditamos no diálogo, na cooperação, não apenas entre as nações, mas entre os atores sociais, porque acreditamos no desenvolvimento harmônico e democrático, porque sem isso não haverá jamais algo que mereça, de fato, o nome de progresso.
O Brasil quer vê-los todos na Rio + 20, dividindo sonhos e partilhando experiências.
Porque somos um só mundo, uma só humanidade.
Muito Obrigado.