O PDT é essencialmente um partido democrático, surgido como resposta à intolerância dos apoiadores da ditadura militar que impediram Leonel Brizola, em 1979, de retomar o domínio da sigla PTB. Responsável pelo alcance da cidadania ao povo brasileiro através dos direitos trabalhistas, além de construir a nação e conduzir o país pelo caminho do desenvolvimento, Getúlio Vargas entrou na História pelo sacrifício diante da incansável e perversa ação das forças conservadoras que recusavam as mudanças e o empoderamento popular.
O PTB retratava o mosaico das diferenças nacionais e avançou como partido político capaz de projetar lideranças e assegurar a defesa de um projeto nacional. Foi contra essa força política que os militares, apoiados pelos norte-americanos, arquitetaram o golpe civil e militar que impediu o Brasil de realizar as Reformas de Base propostas em 13 de março de 1964 pelo presidente João Goulart.
O governo de exceção destruiu gerações, congelou a cidadania em 21 anos de obscurantismo e consagrou a alienação política como herança social capaz de projetar, ainda hoje, sua maligna desconfiguração das verdadeiras carências da nação.
Assim, com os partidos políticos criminalizados desde a ditadura, a redemocratização não foi capaz de retomar o fio da história interrompido em 64. O silêncio aos crimes da ditadura pavimentou os “outros” malfeitos que continuam sendo cometidos pela extravagância em que se transformou a política brasileira. Nesse contexto, o manto da corrupção cobriu o PT que aderiu às práticas de notórios ladrões da pátria.
Paralelo aos avanços de direitos promovidos pela Constituição de 1988, indiscutível vitória das forças progressistas em favor do povo brasileiro, surgiram novos mecanismos de controle social das ações públicas em todos os níveis, como a Lei da Transparência e, em 2003, a Controladoria-Geral da União, espécie de agência anticorrupção do governo.
O funcionamento destas instituições em sintonia com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal, sem interferência do governo constituído, revela em larga escala o padrão de práticas criminosas entranhadas em todos os níveis da administração pública nacional, com efetiva presença de agentes públicos como titulares dos excessos, autorizados pelo sistema eleitoral corrompido pelo financiamento privado e alinhados através das conjugações partidárias do governo de coalizão.
É nesse cenário que o governo democrático e popular da presidenta Dilma Rousseff, reeleita em 2014 com 54,5 milhões de votos, do qual o PDT faz parte desde o início do seus ciclo, em 2002, ocupando os ministérios do Trabalho e das Comunicações, está sendo violentado em flagrante descumprimento da Constituição e cumplicidade de parte das instituições democráticas.
Inflexível na sua posição, a legenda fechou questão e desautorizou os deputados que votaram pelo início do processo de impedimento da presidenta Dilma Rousseff na sessão da Câmara Federal do dia 17 de abril de 2016. Essa votação, corrompida em sua origem pela condução dos personagens, classificados como “grupo de bandidos”, conduzida pelo então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, resume o estado miserável da democracia representativa brasileira. Essa representação autorizou a deposição de uma presidenta que não cometeu crimes, não praticou atos de corrupção ou enriqueceu de forma ilícita, imputações que seus delatores acumulam e vem sendo reveladas pelas investigações em curso.
A violência praticada contra o voto, fruto da indiferença das instituições à tudo que diz respeito ao povo brasileiro, está sendo combatida nas ruas, com a cidadania ocupando os espaços públicos em protestos contra o golpe. À imprensa, que retoma sua prática golpista como foi em 1964, o PDT denuncia a distorção que pratica ao atuar como partido político, como acertadamente dizia Leonel Brizola. Somente o controle social vai assegurar aos brasileiros a democratização da mídia.
O recuo democrático promovido por esta representação esquálida e apoiado por instituições notórias na sua cumplicidade com a ditadura militar constituem os ingredientes da realidade nacional, confrontada neste momento não apenas com as suas dívidas sociais históricas, mas com a inabalável fé na impunidade oficializada.
O PDT recusa qualquer caminho nacional que não seja a democracia, o respeito à vontade popular e a construção de um projeto nacional de promoção da igualdade social em todos os níveis e em todos os espaços da nação. A pré-candidatura à presidência da República do ex-ministro Ciro Gomes expressa esse sentimento partidário, combinado com a repulsa ao governo interino de Michel Temer.
(*) Francis Maia é Jornalista.