Eduardo de Azeredo Costa avalia que trabalhismo possibilitou ao Brasil superar o atraso


Da Redação
17/06/2022

Período de desenvolvimento foi interrompido pelo golpe militar de 1964, que depôs João Goulart

Na nova edição do programa “Trabalhismo na História”, do Centro de Memória Trabalhista (CMT), que foi lançada nesta sexta-feira (17), o médico Eduardo de Azeredo Costa avalia que o trabalhismo possibilitou ao Brasil superar o atraso. O período de progresso, desde a Era Vargas na década de 30, foi interrompido pelo golpe militar de 1964, que depôs o presidente da República João Goulart.

Liderança do movimento estudantil, o militante gaúcho contou, na entrevista para Henrique Matthiesen, coordenador do CMT, a sua intrínseca relação com a vertente política do PDT, a partir do apoio a Leonel Brizola na Campanha da Legalidade e na Carta de Lisboa, que também foi signatário.

“De 61 a 64, [o trabalhismo] impactou muito a vida do Brasil. Foi uma mexida geral. E, especialmente, com a posse de Jango, tivemos um ambiente de desenvolvimento de tudo, inclusive da cultura. Inacreditável ver a riqueza daquele momento”, disse, citando a relevância das Reformas de Base.

“O Brasil fez um caminho possível de superar seu atraso, especialmente a partir de 30. Fez um caminho viável, rico para acontecer, mas que foi abortado em 64”, acrescentou.

Com a manutenção do governo militar, Eduardo de Azeredo direcionou sua carreira para a atuação no ambiente popular, reforçando o interesse pelo ativismo social. Radicado no Rio de Janeiro, se especializou, com mestrado, na Escola Nacional de Saúde Pública.

“Firmei minha decisão pela saúde pública, que não era muito prestigiada pela medicina. Perspectiva popular da saúde que fosse abrangente, nacional, ao invés de ir para o consultório e fazer uma prática clínica”, explicou.

Resistência brizolista

Sobre a retomada democrática, a partir da Constituição de 1988, Costa relatou a intervenção de setores neoliberais da sociedade para conter o retorno do projeto trabalhista ao governo federal. Apesar da resistência, Leonel Brizola ainda venceu as eleições para governador do Rio em duas oportunidades: 1983 e 1990.

“Uniram-se muitas forças para impedir que voltasse Brizola e se retomasse um fio da história do último presidente trabalhista. […] Nós tivemos um momento único, de novo, com Brizola no Rio de Janeiro, mas todas as elites se organizaram para que ele não chegasse ao poder”, evidenciou o ex-secretário de Saúde do governo fluminense de Brizola, entre 1983 e 1986.

“São elites que só ganham dinheiro, com resquício do Império. Usam a população em nome da sua própria riqueza. O Darcy falava muito isso. […] É um país que não se interessou por educação. A população com um racismo muito estruturado, com dominação interna sobre classes”, completou, ao mencionar a histórica falta de investimento em educação pública.