O dia 31 de março precisa ser lembrado como início do terror brasileiro e o fim de um futuro promissor
Tanque nas ruas, rebelião nas Forças Armadas (FA) e a conivência de instituições democráticas legitimando a agressão criminosa ao Estado de Direito brasileiro. Assim foi o 31 de março de 1964, dia da deposição de João Goulart e do início de um dos períodos mais sombrios e cruéis da história nacional. Era também o estanque do desenvolvimento social e econômico do Brasil – as reformas de base –, que previa justa distribuição de renda, terra e erradicação da miséria.
As elites não podiam aceitar a redução de privilégios, logo articularam um golpe de estado para retomar o poder e impor sua política liberal e conservadora. Com apoio de parte significativa dos parlamentares, incluindo o presidente do Congresso Nacional à época, Auro de Moura Andrade, e da ala rebelde das FA, conseguiram destituir Jango do cargo e iniciar sua agenda. Destamparam um barril de pólvora que, pouco tempo depois, não conseguiram controlar. A Ditadura Militar se instalou no poder, extinguiu o Poder Legislativo e passou a ditar os rumos do país por 21 anos.
A aventura da extrema direita em se aliar ao autoritarismo causou prejuízo irreparável ao Brasil. Milhares de brasileiros foram torturados e mortos. O “cale-se” se tornou obrigatório para muitas famílias, sobretudo aquelas que tinham visão diferente do governo. A possibilidade de ser preso e seguir o roteiro macabro de eletrochoques e paus-de-arara já configurava tortura psicológica diária.
Esse foi o Brasil da Ditadura, com violência, truculência e censura para mascarar os crimes, a má administração pública e a corrupção que estiveram presente durante todo o regime. Hiperinflação, aumento da pobreza e da miséria, atraso em pesquisa e tecnologia foram algumas das heranças que o golpe deixou. Sem contar as agruras psicológicas de milhares de brasileiros que sofreram, direta ou indiretamente, a violência do Estado.
Diante dessa experiência macabra, só cabe ao Brasil repudiar ditaduras e reafirmar seu compromisso com a democracia. O governo passado foi um grande teste de resistência para o Estado Democrático de Direito brasileiro. Saímos vivos – embora prejudicados –, impedimos nova ditadura, mas também presenciamos novo flerte golpista civil-militar.
A data de hoje precisa ficar marcada como o estopim da desgraça brasileira, de um regime autoritário, violento e criminoso que não queremos repetir em nenhum outro momento de nossa história. É um alerta aos que ainda insistem em recorrer ao autoritarismo como modelo político. Aqui no Brasil, ditadura nunca mais!