Diário Catarinense lembra os 53 anos de morte de Getúlio

Os herdeiros de Getúlio

História
No dia 24, completam-se 53 anos da morte do pai do trabalhismo


A última eleição para presidente trouxe Getúlio Vargas de volta à discussão nacional. No próximo dia 24, sexta-feira, completam-se 53 anos do suicídio do ex-presidente.

Nesse decurso, porém, o pai do trabalhismo brasileiro não foi esquecido. E, curiosamente, nunca foi tão lembrado como agora. Para comprovar o fato, basta prestar atenção em algumas lideranças políticas do país.

O nacionalismo voltou com força ao discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sobretudo após a polarização do segundo turno, na eleição de outubro passado. A importância do capital nacional, a manutenção das empresas estatais, os programas de renda mínima - mais precisamente o Bolsa Família - e a forte política de assistência social, calcadas no ideário do getulismo, voltaram a fazer parte da agenda política do país. O trabalhismo, a cultura política personificada por Getúlio, mudou o país. Montou o Brasil que conhecemos hoje, tanto administrativa como economicamente, incentivando a industrialização.

Como o próprio nome indica, as leis trabalhistas, instituindo benefícios como férias e 13º salário, são as mais lembradas contribuições de Getúlio. Mesmo com propostas de flexibilização na pauta do Congresso, permanecem inalteradas.

Os detratores, porém, utilizam outro nome para esse tipo de governo: populismo. Uma administração populista seria caracterizada pelo exagero das promessas, feitas na medida para agradar a população. Para seus opositores, o presidente Lula seria um herdeiro de Vargas nesse aspecto. Desde o início do regime militar, o atual governo foi o que abriu maior espaço para os trabalhistas. O partido que, a partir de 1980, tem representado de maneira formal o legado do trabalhismo é o PDT. O ministério do Trabalho é ocupado pelo presidente nacional do partido, Carlos Lupi.

Legado se espalha pela esquerda

A herança de Vargas ultrapassa o limite partidário. O historiador Jorge Ferreira, da Universidade Federal Fluminense, defende que o imaginário de Vargas tornou-se hoje uma bandeira para vários partidos de esquerda.

- Essa cultura política ultrapassa o PDT. O PT e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) já foram críticos, mas defendem hoje bandeiras daquele antigo trabalhismo - destaca.

Para Ferreira, tal movimento da esquerda, que retoma a defesa do patrimônio público e das leis sindicais - é também um efeito do desmantelamento do antigo estado varguista, no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).



O ex-presidente em Santa Catarina
Em 1930, a Revolução vitoriosa
Em 15 de outubro de 1930, Getúlio - então o líder das vitoriosas forças revolucionárias - passa por Santa Catarina, a bordo do trem que o leva à Capital Federal, o Rio de Janeiro.
- Almoçamos no trem, ainda em Marcelino Ramos (RS), e às 13h prosseguimos viagem. Atravessamos a ponte sobre o Uruguai, entrando em Santa Catarina - escreveu Vargas em seu diário aquele dia.
Getúlio pára SC
A primeira visita na condição de chefe de Estado, de 9 a 12 de março de 1940, parou Santa Catarina. Inaugurou uma leva de obras iniciadas com o Estado Novo (1937). Começou o percurso por São Francisco do Sul, passando por Itajaí, Joinville, Blumenau e pela Grande Florianópolis.
Retorno ao poder
Em setembro de 1950, a poucos dias da eleição presidencial que lhe daria de volta o comando do país, Getúlio Vargas, candidato à presidência pelo PTB, passa por municípios do Estado. Em Joinville, o comício é dividido com o candidato ao governo pelo PSD, Udo Deeke. Em Florianópolis, o comício ocorre na Praça Pereira Oliveira, e é marcado pelas vaias ao ex-interventor Nereu Ramos, então candidato ao Senado.


Os herdeiros do trabalhismo
Carlos Lupi
O presidente nacional do PDT está na linha de frente dos trabalhistas, sobretudo na condição de atual Ministro do Trabalho. As bandeiras levantadas pelo ministro estão em consonância com as dos três grandes líderes: Getúlio, o ex-presidente Jango Goulart e Leonel Brizola.
Cristóvam Buarque
Egresso do PT, o senador logo demonstrou afinidade com o PDT. O casamento com o partido tornou-se marcante após a disputa à Presidência. Sua bandeira maior é a Educação.
Manoel Dias
O presidente do PDT catarinense é um dos fiéis discípulos dos trabalhistas. Desde o início do partido, destacou-se ao lado de Leonel Brizola, com quem manteve relação próxima. Continua sendo um dos pilares da estrutura nacional do partido.
Paulo Pereira da Silva
Deputado federal por São Paulo, Paulinho é hoje o elo entre o sindicalismo e o trabalhismo, na condição de presidente da Força Sindical.
Jefferson Péres
O senador destaca-se como uma das vozes críticas frente à sucessão de denúncias que abalaram o Congresso. - RENÊ MÜLLER


Surgem os novos líderes pelo país
História

No rastro da renovação do getulismo, novas lideranças trabalhistas se destacam.

A decisão do PDT em lançar candidato à presidente no ano passado, e posições firmes no Congresso, garantiram visibilidade a nomes como os dos senadores Cristóvam Buarque e Jefferson Péres. Dentro da lógica de que a maior parte da esquerda brasileira defende as bandeiras do trabalhismo, o próprio presidente Lula seria, hoje, o herdeiro mais destacado do ex-presidente. Outro deles é Carlos Lupi, que destaca a presença das idéias de Vargas na discussão de todo o projeto de desenvolvimento nacional.

- Nós estamos há 53 anos de sua morte, e apenas 20% da população brasileira, hoje, tinha idade adulta à época em que ele era o presidente. É a prova da força de suas idéias - diz.

O presidente estadual do PDT, Manoel Dias, é também uma das figuras importantes do legado trabalhista. Atuou por mais de duas décadas ao lado de Leonel Brizola.

- Hoje, não temos nenhuma figura que desponte como o Brizola - diz.

Embora redescobertas, as iniciativas de Getúlio Vargas voltam a ser discutidas num contexto muito diferente das décadas de 1930, 1940 e 1950. Hoje, a noção de governo e de mercado são muito diversas. O professor da Unisul Antonio Elibio, doutor em História pela Unicamp com uma tese sobre Getúlio, tem uma visão mais crítica com relação ao novo trabalhismo.

- Recuperaram o discurso trabalhista, sem pensar no contexto em que aquele discurso foi feito à época. Mesmo nesse governo não privatista, há uma continuidade da liberalização e da flexibilização da economia. Vargas ficaria de cabelo em pé se pudesse ver a situação atual - afirma.

DIÁRIO CATARINENSE

Os herdeiros de Getúlio

História
No dia 24, completam-se 53 anos da morte do pai do trabalhismo


A última eleição para presidente trouxe Getúlio Vargas de volta à discussão nacional. No próximo dia 24, sexta-feira, completam-se 53 anos do suicídio do ex-presidente.

Nesse decurso, porém, o pai do trabalhismo brasileiro não foi esquecido. E, curiosamente, nunca foi tão lembrado como agora. Para comprovar o fato, basta prestar atenção em algumas lideranças políticas do país.

O nacionalismo voltou com força ao discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sobretudo após a polarização do segundo turno, na eleição de outubro passado. A importância do capital nacional, a manutenção das empresas estatais, os programas de renda mínima – mais precisamente o Bolsa Família – e a forte política de assistência social, calcadas no ideário do getulismo, voltaram a fazer parte da agenda política do país. O trabalhismo, a cultura política personificada por Getúlio, mudou o país. Montou o Brasil que conhecemos hoje, tanto administrativa como economicamente, incentivando a industrialização.

Como o próprio nome indica, as leis trabalhistas, instituindo benefícios como férias e 13º salário, são as mais lembradas contribuições de Getúlio. Mesmo com propostas de flexibilização na pauta do Congresso, permanecem inalteradas.

Os detratores, porém, utilizam outro nome para esse tipo de governo: populismo. Uma administração populista seria caracterizada pelo exagero das promessas, feitas na medida para agradar a população. Para seus opositores, o presidente Lula seria um herdeiro de Vargas nesse aspecto. Desde o início do regime militar, o atual governo foi o que abriu maior espaço para os trabalhistas. O partido que, a partir de 1980, tem representado de maneira formal o legado do trabalhismo é o PDT. O ministério do Trabalho é ocupado pelo presidente nacional do partido, Carlos Lupi.

Legado se espalha pela esquerda

A herança de Vargas ultrapassa o limite partidário. O historiador Jorge Ferreira, da Universidade Federal Fluminense, defende que o imaginário de Vargas tornou-se hoje uma bandeira para vários partidos de esquerda.

– Essa cultura política ultrapassa o PDT. O PT e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) já foram críticos, mas defendem hoje bandeiras daquele antigo trabalhismo – destaca.

Para Ferreira, tal movimento da esquerda, que retoma a defesa do patrimônio público e das leis sindicais – é também um efeito do desmantelamento do antigo estado varguista, no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).



O ex-presidente em Santa Catarina
Em 1930, a Revolução vitoriosa
Em 15 de outubro de 1930, Getúlio – então o líder das vitoriosas forças revolucionárias – passa por Santa Catarina, a bordo do trem que o leva à Capital Federal, o Rio de Janeiro.
– Almoçamos no trem, ainda em Marcelino Ramos (RS), e às 13h prosseguimos viagem. Atravessamos a ponte sobre o Uruguai, entrando em Santa Catarina – escreveu Vargas em seu diário aquele dia.
Getúlio pára SC
A primeira visita na condição de chefe de Estado, de 9 a 12 de março de 1940, parou Santa Catarina. Inaugurou uma leva de obras iniciadas com o Estado Novo (1937). Começou o percurso por São Francisco do Sul, passando por Itajaí, Joinville, Blumenau e pela Grande Florianópolis.
Retorno ao poder
Em setembro de 1950, a poucos dias da eleição presidencial que lhe daria de volta o comando do país, Getúlio Vargas, candidato à presidência pelo PTB, passa por municípios do Estado. Em Joinville, o comício é dividido com o candidato ao governo pelo PSD, Udo Deeke. Em Florianópolis, o comício ocorre na Praça Pereira Oliveira, e é marcado pelas vaias ao ex-interventor Nereu Ramos, então candidato ao Senado.


Os herdeiros do trabalhismo
Carlos Lupi
O presidente nacional do PDT está na linha de frente dos trabalhistas, sobretudo na condição de atual Ministro do Trabalho. As bandeiras levantadas pelo ministro estão em consonância com as dos três grandes líderes: Getúlio, o ex-presidente Jango Goulart e Leonel Brizola.
Cristóvam Buarque
Egresso do PT, o senador logo demonstrou afinidade com o PDT. O casamento com o partido tornou-se marcante após a disputa à Presidência. Sua bandeira maior é a Educação.
Manoel Dias
O presidente do PDT catarinense é um dos fiéis discípulos dos trabalhistas. Desde o início do partido, destacou-se ao lado de Leonel Brizola, com quem manteve relação próxima. Continua sendo um dos pilares da estrutura nacional do partido.
Paulo Pereira da Silva
Deputado federal por São Paulo, Paulinho é hoje o elo entre o sindicalismo e o trabalhismo, na condição de presidente da Força Sindical.
Jefferson Péres
O senador destaca-se como uma das vozes críticas frente à sucessão de denúncias que abalaram o Congresso. – RENÊ MÜLLER


Surgem os novos líderes pelo país
História

No rastro da renovação do getulismo, novas lideranças trabalhistas se destacam.

A decisão do PDT em lançar candidato à presidente no ano passado, e posições firmes no Congresso, garantiram visibilidade a nomes como os dos senadores Cristóvam Buarque e Jefferson Péres. Dentro da lógica de que a maior parte da esquerda brasileira defende as bandeiras do trabalhismo, o próprio presidente Lula seria, hoje, o herdeiro mais destacado do ex-presidente. Outro deles é Carlos Lupi, que destaca a presença das idéias de Vargas na discussão de todo o projeto de desenvolvimento nacional.

– Nós estamos há 53 anos de sua morte, e apenas 20% da população brasileira, hoje, tinha idade adulta à época em que ele era o presidente. É a prova da força de suas idéias – diz.

O presidente estadual do PDT, Manoel Dias, é também uma das figuras importantes do legado trabalhista. Atuou por mais de duas décadas ao lado de Leonel Brizola.

– Hoje, não temos nenhuma figura que desponte como o Brizola – diz.

Embora redescobertas, as iniciativas de Getúlio Vargas voltam a ser discutidas num contexto muito diferente das décadas de 1930, 1940 e 1950. Hoje, a noção de governo e de mercado são muito diversas. O professor da Unisul Antonio Elibio, doutor em História pela Unicamp com uma tese sobre Getúlio, tem uma visão mais crítica com relação ao novo trabalhismo.

– Recuperaram o discurso trabalhista, sem pensar no contexto em que aquele discurso foi feito à época. Mesmo nesse governo não privatista, há uma continuidade da liberalização e da flexibilização da economia. Vargas ficaria de cabelo em pé se pudesse ver a situação atual – afirma.

DIÁRIO CATARINENSE