Desenvolver tecnologia é evoluir em conhecimentos que transformam a natureza em riquezas


Weber Figueiredo
16/01/2018

Atualmente, 85% da população brasileira vive nas zonas urbanas e apenas 15% vive na zona rural, trabalhando para nos alimentar e gerar mercadorias para exportação, as quais, somadas aos produtos da mineração, geram os dólares necessários para pagarmos serviços da dívida externa e as importações de produtos com tecnologia agregada essenciais ao nosso dia a dia. Existe até uma propaganda na TV que diz: “agro é pop, agro é tech, agro é tudo”. Na realidade, isso é uma meia verdade, porque o agronegócio é essencial, mas não é tudo. Se admitirmos isso, ficaremos estagnados, porque existem milhões de outras tecnologias que o Brasil precisa desenvolver nas áreas industriais e de serviços.

Vejamos um exemplo corriqueiro. Para pagarmos a importação de um celular tipo iPhone de US$ 770, precisamos exportar 10 toneladas de minério de ferro, um morrinho de minério, ou exportar 2 toneladas de soja. O celular é uma riqueza que tem alta tecnologia agregada (ou valor agregado) e a sua fabricação gerou no estrangeiro muito mais empregos do que a extração do minério de ferro ou da soja cá no Brasil. Falamos de um exemplo simples, mas isso ocorre em toda a economia, basta ver que praticamente não existem marcas brasileiras de eletrônicos, remédios, veículos, fertilizantes etc. Quem tiver interesse sobre o assunto pode ver mais exemplos no Google em “A Bananada da Vovó”.

Nesse ciclo de comércio internacional, onde o Brasil importa milhões de bens e serviços, desde os fármacos até as máquinas industriais, a mamãe natureza acaba sendo a nossa moeda de trocas. Só que esse modelo é insustentável porque cria dívida externa, cria dependência tanto tecnológica quanto econômica e desgasta o ambiente natural. Lembram-se do desastre da extração mineral em Mariana, Minas Gerais?

O modelo de dependência que exporta predominantemente coisas comuns, as chamadas commodities, em troca de bens industrializados, gera, aqui, menos empregos quando comparados com aqueles gerados nos países industrializados fabricantes dos bens com valor agregado.
Para rompermos esse ciclo de dependência precisamos investir mais e mais em ciência e tecnologia no Brasil e implantarmos indústrias nacionais que utilizem essa tecnologia na fabricação de riquezas e geração de empregos para todo o povo brasileiro.

No mundo dito globalizado, quem domina a tecnologia, isto é, quem domina o projeto de engenharia, tem o poder das decisões econômicas e a primazia dos melhores lucros, simplesmente porque o dono do projeto de engenharia é quem especifica toda a cadeia produtiva.

Temos a esperança de que, em breve, possamos ter um projeto nacional de desenvolvimento industrial com autonomia, para que possamos produzir, aqui no Brasil, milhões de riquezas com valor agregado, necessárias ao bem-estar de todo o povo brasileiro e milhões de postos de trabalho, não apenas de engenharia, mas em toda a cadeia produtiva.

Na nossa opinião, essa será a única forma de eliminarmos o desemprego que avilta mais de 14 milhões de brasileiros, eliminarmos o subemprego, os baixos salários, a miséria e a criminalidade que assola as zonas urbanas que hoje concentram 85% da população brasileira que não planta nem um grão de feijão nem extrai uma única grama minério.

Para que tudo isso dê certo, precisamos, naturalmente, investir em todo ciclo educacional e formar mais engenheiros. O Brasil forma cerca de 40 mil engenheiros por ano, metade dos quais são engenheiros civis, enquanto os Estados Unidos formam seis vezes mais e a China, dizem, 15 vezes mais. E observe que eles já têm toda uma base industrial própria em funcionamento.

Se alguém vier com a conversa fiada dizendo que não precisamos desenvolver tecnologia cá no Brasil porque a China, o Japão ou a Alemanha já o fizeram, responda-lhe que por essa linha de raciocínio também não deveríamos estudar, porque eles também já estudaram. Desenvolver tecnologia é evoluir em conhecimentos que transformam a natureza em riquezas. E nós precisamos evoluir!

Um povo de baixa estima está condenado a ser caudatário do mundo desenvolvido. Nós brasileiros temos que cultuar a autoestima. Autoestima é dar-se conta dos próprios valores, é ter confiança em si próprio.

No entanto, mesmo diante das adversidades, mesmo diante de um mundo não ideal, o engenheiro brasileiro, formado tanto no CEFET quanto em outras universidades, ainda é o protagonista dos inúmeros avanços tecnológicos e sociais no cenário Brasil. Esse desempenho nos leva a certificar o grau da inteligência, criatividade e capacidade produtiva dos brasileiros.

Podemos garantir que esses nossos formandos são tão ou mais competentes do que qualquer estudante dos países desenvolvidos. Lembrando o grego Arquimedes: deem-lhes uma boa alavanca que esses jovens moverão o mundo!
Temos absoluta convicção de que com o estudo e o conhecimento apropriado venceremos todos os desafios, visando ao desenvolvimento do Brasil e, assim, construiremos uma nação pujante e socialmente justa, o que é essencial.