A grande mídia liderada pela rede Globo e articulada com Gilmar Mendes, José Serra e Michel Temer prepara um acontecimento de dimensões nacionais para um próximo domingo de abril, provavelmente dia 17, conforme anunciou seu condutor. Será um espetáculo conduzido por Eduardo Cunha que, à frente da Câmara dos Deputados, abrirá a sessão de votação do impeachment de Dilma Rousseff em pleno domingo.
Dessa forma, as grandes praças e avenidas do país estarão nas telas da Globo, sob a narração de Merval Pereira e Cristiana Lobo. A grande massa pró-impeachment, vestida de verde a amarelo CBF acompanhará, nos telões instalados pela Fiesp em São Paulo e em outras capitais, a votação de cada deputado e irá vaiar ou aplaudir estrondosamente cada voto. E os comentaristas da Globo irão incitar os manifestantes pró impeachment a vaiar ou aplaudir o voto de cada deputado, fazendo o linchamento midiático daqueles que votarem contra o golpe. Haverá conflitos, porque movimentos sociais e militantes contrários ao golpe também estarão na ruas, porém sem o estímulo e o acompanhamento da mídia.
Se, ao final da tarde, a votação der vitória ao Impeachment – o que deve acontecer por força da pressão do espetáculo em rede nacional – haverá uma consolidação de uma decisão obtida de forma arbitrária e induzida pelas grandes redes de TV, comandandas pela Globo. Cunha será discretamente elogiado pela sua coragem em conduzir o processo.
Esta forma de conduzir o espetáculo pretende garantir que a votação no Senado perca qualquer importância, assim como uma eventual condenação do STF a um processo que condene a Presidenta sem que haja crime demonstrado. O impeachment estará anunciado e comemorado nas ruas. Não é necessário falar do absurdo de uma Câmara conduzida por um político sobre o qual pesam gravíssimas acusações e que tem movido todos os instrumentos legais e ilegais para impedir que o processo que o julga avance na Casa que ele mesmo comanda.
Esse tenebroso pesadelo que os articuladores do golpe estão preparando pode ser destruído e denunciado, se a sua principal arma for posta a nu: Eduardo Cunha. Não compete somente àqueles que defendem as liberdades democráticas e os direitos conquistados fazê-lo, mas principalmente ao STF que esta prestes a julgar a denúncia contra o Presidente da Câmara, conforme pedido do Procurador Geral da República Rodrigo Janot feito em 16 de dezembro de 2015, que o acusa – entre outras questões – de ter recebido 5 milhões de dólares por contratos de navios-sonda da Petrobrás e de estar impedindo as investigações da operação Lava-Jato. Janot pede que seja aceita a denúncia e que Eduardo Cunha seja afastado da Presidência da Câmara. Nada mais justo e razoável.
É somente com uma posição sóbria, serena e consistente, que o STF poderá impedir que o circo se arme e a história recente do nosso país não precise envergonhar-se de um episódio digno de uma república de bananas, impedindo a continuidade da epidemia de instilação de ódio que já está dando mostra da sua força descontrolada em múltiplas ações isoladas de agressões, intolerância e violência indiscriminada,
(*) Artur Scavone é jornalista.
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