O mundo acompanha o escândalo no qual a maior de todas as redes sociais, o Facebook, se meteu nestas últimas semanas. Isso porque uma empresa privada de inteligência, a Cambridge Analytica, foi responsável pelo vazamento dos dados de mais de 50 milhões de usuários da rede e, assim, utilizou essas informações de formas não muito ortodoxas e, principalmente, sem qualquer tipo de permissão. E tudo com o conhecimento do Facebook.
Há quem afirme que esses dados, devidamente processados, tenham tido impacto direto em duas das maiores movimentações geopolíticas dos últimos anos: o “Brexit”, que, através de referendo popular, iniciou o processo de retirada do Reino Unido da União Europeia e, nada menos que a eleição do presidente Donald Trump, nos Estados Unidos. Faz sentido em potências mundiais, onde praticamente 100% de seus residentes possuem acesso à internet.
É indiscutível o significado positivo dentro da comunidade global do avanço das redes sociais. Elas são uma realidade e transformaram a forma como o mundo se comunica. Mas pouca gente compreende que elas são produtos comercias e privados. Não há cafezinho de graça, como dizem por ai. E por esta nova forma de se comunicar, pagamos um preço caro. Nossas informações, hoje, circulam sabe-se lá por onde e na mão de quem. Vivemos a ditadura dos algoritmos. Hoje, Mark Zuckerberg, dono do Facebook, sabe mais de nós do que as pessoas com que nos relacionamos.
A maior necessidade dentro deste monstro que concentra mais de dois bilhões de usuários (segundo estudo da BBC mais de 83 milhões destes são perfis falsos), é ter cuidado redobrado na forma como se consome esta ferramenta. A velocidade do crescimento de novos usuários cria também a realidade dos “especialistas em redes sociais”. Muitas vezes sem qualquer preparo acadêmico para avaliar tendências, analisar dados concretos e provisionar ações direcionadas. Tudo se transformou em “eu tenho um milhão de seguidores e alcanço o que quiser”. É inegável que estas ferramentas, por grande parte dos usuários, servem apenas para massagear o ego alheio, entre curtidas comentários e compartilhamentos. E a política é a maior das fogueiras das vaidades.
A métrica adotada pelas redes – empresas privadas e que ganham muito, muito dinheiro com esse modelo de negócios – é uma caixa preta. Ninguém, além deles, sabe de fato o que acontece nessa caixa. E vendem exatamente aquilo que se quer ouvir. Ao injetar dinheiro, falamos, através de um questionário, o que queremos alcançar. E sem qualquer sentido acadêmico, psicológico e comercial, as redes sociais entregam o que queremos ouvir. E nossos egos se dão por satisfeitos. Afinal, paga-se por isso. O mundo se curvou ao número de curtidas e compartilhamentos de devaneios alheios.
Manipulação de informação sempre existiu. Desde os primórdios da humanidade, diga-se de passagem. O que está claro hoje, é que essa manipulação também evoluiu, mais até do que a forma como nos comunicamos. A busca por fontes seguras, a procura pela informação qualificada, e principalmente, o direito ao contraditório, deixam de existir quando grupos que compartilham os mesmos interesses se fecham. E ganham forma. E tamanho. E quem sofre com isso são as democracias. A manipulação é o monstro a ser combatido. E as redes sociais se mostraram uma ferramenta imprescindível para elevar essa manipulação a níveis globais.
Neste caso, o discernimento é nossa principal arma nesta batalha, que por hora, parece ser inglória. Mas se faz necessária.
*Max Monjardim é jornalista, com MBA em Gestão Estratégica de Marketing pela FGV e membro da equipe de Comunicação do PDT Nacional.