Ao Valor Econômico, o pedetista se projetou como terceira via e indicou segundo turno contra Lula, em 2022
“O único organizado, com o partido harmônico, sem confusão, sou eu”, afirmou o pré-candidato a presidente da República pelo PDT, Ciro Gomes, ao jornal Valor Econômico, em entrevista publicada nesta segunda-feira (17). No cenário para 2022, o pedetista se projetou como terceira via viável, a partir do “derretimento” do presidente Jair Bolsonaro, e indicou uma disputa programática com Lula no segundo turno.
“O único organizado, com o partido harmônico, sem confusão, sou eu. O que se vê com a ciência que é possível nessa área? Hoje, a tendência consistente é que Lula está em seu máximo e Bolsonaro, em processo de derretimento”, avaliou.
“Acho que a probabilidade de se dar o segundo turno entre eu e o Lula está crescendo. Acho que Moro e Huck não são candidatos. Nem Doria. Se ele for, será fragilizado porque está muito mal em São Paulo e nunca teve entrada no Brasil”, indicou.
Sobre a disputa direta contra o petista, o ex-governador do Ceará disse que a análise das propostas estará no centro dos debates, pois acredita que Bolsonaro “está incitando a tropa, mas vai faltar chão”.
“Esse momento de grande euforia com Lula vai começar a colocá-lo na defensiva e predispor o País a procurar uma terceira via”, garantiu.
Ao considerar que o Bolsonaro, como candidato em 2018, foi uma “fraude”, Ciro explica que o atual presidente foi “eleito com discurso antipolítico, propondo a moralidade”, mas segue sem apresentar as qualificações necessárias para o cargo.
“O único orçamento que ele administrou foi do gabinete dele, que ele roubou todinho. Bolsonaro roubava dinheiro da gasolina. Roubava dinheiro de funcionários fantasma”, criticou.
Conjuntura
Ao avaliar a situação política do Brasil, o pedetista indica que, atualmente, “a possibilidade de Bolsonaro liderar um golpe é nula”, apesar do presidente da República estar vinculado à grupos milicianos.
“Ele tem entrada na Polícia Militar, está formando uma milícia. Está facilitando armas, acabou com o rastreamento de munição. O delírio dele é absoluto. Mas os militares não vão fazer golpe e não há respaldo internacional”, disse.
E justamente pelas Forças Armadas que Ciro reafirma o movimento de diálogo para combater tentativas de rompimento do Estado Democrático de Direito.
“Na ativa e na reserva. E tenho dito a eles, o Bolsonaro tentou transformar as Forças Armadas em um partido político. Estão em cargos políticos 3,8 mil militares da ativa, dobrando salários, isso não é possível. Quando a gente vê um babaca, genocida e palerma como [Eduardo] Pazuello chegar ao generalato, me parece que temos que discutir a formação e os critérios de promoção também”, argumenta.
“Ele organizou uma milícia pra valer, perigosíssima. Atiraram no meu irmão [senador Cid Gomes] para matar. Hoje está sob controle, porque fomos severos. O Ceará tem 184 municípios, foram fazer levante em Sobral, que é a minha cidade. Expulsamos mais de 100 bandidos, processamos todos. Eles entraram para a política”, expõe.
Perspectivas
Expondo a necessidade de medidas efetivas para alterar a realidade de crise do país, ele detalha, como diferencial, o Projeto Nacional de Desenvolvimento (PND), que é construído coletivamente, desde 2018.
“A proposta sempre foi de centro-esquerda. Mas o Brasil não cabe na esquerda, nunca coube. Mas também não cabe na direita. O que precisamos é de uma aliança de centro-esquerda. Precisamos recuperar o Estado e sua capacidade de investir, de planejar, coordenar”, relatou.
“A minha proposta de reforma tributária você pode chamar de esquerda mas está em linha com as melhores práticas internacionais. Só o Brasil e a Estônia não cobram lucros e dividendos. Nos Estados Unidos, epicentro do capitalismo global, o imposto sobre as grandes heranças tem alíquota de 29%. No Brasil é 4%. Isso é esquerda? Imposto Territorial Rural tem volume arrecadado menor do que o IPTU da cidade de São Paulo. É puro patrimonialismo. Renúncia fiscal em plena crise fiscal”, complementou.
Entre as prioridades, Ciro coloca a revogação do teto de gastos como essencial para reestabilizar a situação com responsabilidade, pois, segundo ele, é uma “aberração” que fragiliza o Estado, trava o país e penaliza, consequentemente, as camadas mais pobres da população.
“Teto de gastos é aberração. Pode estabelecer com lei complementar, uma resolução do Senado que limite a dívida. Onde é que já se viu criar teto para 20 anos?”, questiona.
“As despesas obrigatórias estão crescendo 9% acima da inflação no governo Bolsonaro. O teto de gastos vai para onde? Para deprimir a taxa de investimento a zero. Isso tem um ‘trade off’ que acaba com a economia do país. Para manter a infraestrutura precisa gastar 2,5% do PIB, mas gastamos 0,75% com tudo. Tem que reconstitucionalizar o país e acabar com essa loucura, feita em cima das pernas por uma elite que não entende nada”, completou.
Ao abordar a capitalização da Previdência, Ciro faz questão de mostrar as divergências com relação à política adotada pelo governo Bolsonaro a partir do ministro da Fazenda, Paulo Guedes.
“Paulo Guedes não tem proposta nenhuma, não conhece o Brasil. Ninguém defende essas aberrações que o Guedes defende, com estes componentes demofóbicos que ele não consegue disfarçar. Só três países importantes adotam o regime de repartição: Brasil, Argentina e Venezuela. Não por acaso estão quebrados. O problema da Previdência brasileira não é despesa, é receita”, detalhou.
“O problema do modelo previdenciário brasileiro é ele mesmo. O regime de repartição é um contrato intergeracional que para funcionar precisa de alto nível de formalização do mercado de trabalho e bônus demográfico. A conta não fecha. Minha proposta é o sistema misto com três pilares, que mencionei na eleição de 2018. Está prontinho o modelo para uma dinâmica de elevação da formação bruta de capital no Brasil”, finalizou.