Ciep: a ferramenta de Darcy Ribeiro para emancipar o povo


25/10/2017

“O Ciep é a minha grande alegria, e é também o meu orgulho”. Assim, Darcy Ribeiro iniciava seu discurso em frente a uma das 500 unidades construídas por Leonel Brizola durante sua primeira gestão (1983-1987) do estado fluminense. A iniciativa pedetista dos Centros Integrados de Educação Pública representa, até o hoje, o maior projeto para o setor que o Brasil já teve.

Visionário, Darcy já indicava o caminho para emancipar o povo. “Ciep é a escola que o Brasil precisa!”, garantia. Esses “Brizolões”, como foram apelidados, buscavam oferecer ensino público de qualidade em período integral aos alunos da rede estadual. Além de refeições completas ao longo do dia, os alunos contavam com atividades complementares e atendimento médico e odontológico.

“O capitalismo fez escolas muito boas e eu quero obrigar o capitalismo daqui a fazer boas escolas aqui. No socialismo, eu vou querer muito mais. Agora, é o capitalismo que tem que dar a escola que eu estou querendo aqui e agora, para a criançada daqui e de agora”, indicava o ex-senador pelo PDT.

Por todo o Rio, é possível perceber a presença das obras desenhadas com o traço de Oscar Niemeyer. Inconfundíveis, os edifícios de concreto, emoldurados por grandes janelas retangulares e bordas arredondadas, são registros históricos de um pensamento que sempre estava à frente da sua realidade temporal.

O histórico bairro do Catete, na capital, que também sedia o palácio residencial o presidente Getúlio Vargas, foi escolhido para receber a primeira unidade. Inaugurado no dia 8 de maio de 1985, o Ciep Tancredo Neves, com seu simbolismo, agregava salas de leitura e de artesanato, uma quadra esportiva, consultórios médico e odontológico e até dormitórios para alunos em situação de vulnerabilidade social.

Realidade

“Se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”, disse o mineiro, em uma conferência, em 1982. Atual e impactante, a frase retrata com clareza o resultado da destruição do projeto gerado pelos governos de direita subordinados à elite feudal não só do Rio de Janeiro, mas de todo o país.

Ao acabar com o principal pilar, o ensino integral, que foi substituído pelo formato de turno, o neoliberalismo angorá abriu as portas da marginalidade para gerações que incrementam as estatísticas criminais.

Os estados brasileiros gastam, em média, cerca de R$ 21 mil por ano com cada preso. Esse valor representa quase nove vezes mais do que é destinado para um aluno do ensino médio, que demanda R$ 2,3 mil no mesmo período.