Centro Brizola é inaugurado por Lula, Lupi, Leonel e Juliana

Com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro do Trabalho Carlos Lupi, foi inaugurado no fim da tarde desta quinta-feira (18) o Centro de Referência do Trabalhador Leonel Brizola. O espaço é um marco para a história do Trabalho no Brasil, dedicado à memória do trabalhismo e a estudos ligados ao tema. Participaram da cerimônia Leonel Brizola Neto e Juliana Brizola, netos e herdeiros políticos de Leonel Brizola. Veja o vídeo da inauguração

Após descerrarem a placa e cortarem a fita de inauguração, Lula e Lupi falaram aos convidados. Emocionado, Lupi lembrou do início de sua vida pública, ao lado de Brizola, quando o ex-governador era presidente do PDT, legenda da qual Lupi é presidente nacional licenciado.

“O velho Brizola é meu ídolo, é minha paixão, por isso me sinto muito orgulhoso em poder abrir mais esta porta para os trabalhadores do Brasil. Fico honrado em poder batizar este espaço com o nome daquele que lutou pela legalidade e resistiu à Ditadura; aquele que tanto lutou pelo trabalhismo em nosso país; um ser humano apaixonado por seu povo; que não conseguiu chegar à presidência da República, mas que muito contribuiu para que hoje tenhamos o Estado ao lado dos trabalhadores, que são o principal motor do desenvolvimento nacional”, discursou Lupi.

O presidente falou sobre a importância do novo centro de referência do trabalhador e parabenizou o ministro Lupi por recuperar a história do trabalhismo e, ao mesmo tempo, a história de Leonel Brizola.

“Este é um gesto extraordinário em homenagem a alguém que fez tanto pelo Brasil. Preservar a história do trabalho é preservar a história do Brasil, construída com o empenho dos trabalhadores que ergueram nosso país. Os 80 anos do Ministério do Trabalho representam 80 anos da relação entre o Estado e os trabalhadores; e neste período, sempre que os trabalhadores tiveram voz e foram respeitados em seus direito, o Brasil cresceu a passos largos”, discursou Lula.

O presidente também relembrou passagens de sua vida política junto a Brizola, como as eleições entre 1989 e 2002, que disputaram como adversários ou como aliados.
“Quem acompanhou a minha história nos episódios com Brizola pela imprensa imagina que só havia desavença; e não dos bons momentos de diálogo. Leonel Brizola tinha aquele jeito durão, mas era um homem muito sensível às causas do Brasil, e jamais em sua vida errou por tentar alguma coisa em benefício próprio; se errou, tudo o que fez enquanto homem público foi na tentativa de ajudar ao país”, testemunhou Lula.

Centro de Referência do Trabalhador Leonel Brizola – Localizado no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), Trecho 3, em Brasília, tem como finalidade a preservação da memória do trabalho no Brasil, dando continuidade à produção de conhecimentos sobre o tema e sobre o papel do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) na história brasileira.

O centro de referência será dedicado ao trabalho e aos trabalhadores do Brasil, oferecendo suporte a projetos e pesquisas. Estão disponíveis dois auditórios, uma área para estudos, uma biblioteca, uma sala informatizada para consulta digital e um Cine Trabalhador.

Entre os principais objetivos do centro estão aumentar a produção do conhecimento histórico sobre o tema trabalho; dar sustentação aos trabalhos de projetos e pesquisas, fornecendo informações atualizadas; promover o intercâmbio de informações junto a outras instituições; e incentivar o acesso à informação e ao conhecimento como estratégia de alcance de oportunidades sociais e de trabalho.

O espaço será aberto ao público diariamente e contará com calendário de visitação para atender escolas públicas e privadas.

Serviço:

Inauguração do Centro de Referência do Trabalhador Leonel Brizola
Dia 18/11
Hora: 17h
Local: Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), Trecho 3.

 

Emoção e bom humor

por Osvaldo Maneschy

A emoção e o bom humor marcaram a solenidade de inauguração do Centro de Referência do Trabalhador Leonel Brizola nesta quinta-feira (18/11) em Brasília na presença de dezenas de pedetistas históricos de todo o país. O ato foi aberto por Juliana Brizola que, agradeceu a todos pela presença e especialmente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e ao Ministro do Trabalho e presidente licenciado do PDT, Carlos Lupi, pela homenagem a memória de Brizola e por darem continuidade “a luta de meu avô pelo povo brasileiro”.

Segundo a falar, Lupi historiou a vida de Brizola e sua trajetória política, ressaltando que aprendeu com ele tudo o que sabe de bom ao longo de uma convivência de 25 anos. Lembrou a origem humilde de Brizola que aprendeu a valorizar a educação desde menino e que, ao liderar a Campanha da Legalidade, adiou o golpe militar de 64 – além de ter sido um homem apaixonado pelo povo e pelo legado político de Getúlio Vargas. “Brizola também foi o único brasileiro da nossa história republicana a governar dois estados”, lembrou.

Depois de falar que “declaração de amor nunca é demais”, como dizia Brizola, Lupi elogiou Lula por ter retomado o “Fio da História” ao resgatar o papel  ativo dos trabalhadores na construção de uma sociedade mais justa no Brasil.

 “Da mesma forma que Getúlio Vargas, há 80 anos, criou o Ministério do Trabalho e valorizou os trabalhadores, transformando o Brasil agropecuário em industrializado – além de dar o direito de voto  às mulheres;  o senhor, Presidente Lula,  criou um novo Brasil, ao terminar seu mandato com quase 15 milhões de empregos formais criados;  ao conceder aumento real do salário mínimo da ordem de  74%; e ter eleito – pela primeira vez na história – uma mulher para a presidência da República”.

— Quero agradecer, presidente, por inaugurar este Centro de Memória do Trabalhador com o nome do homem que foi a paixão da minha vida, Leonel de Moura Brizola. Ele está assistindo,  lá de cima, da Executiva celestial do Trabalhismo – junto com Getúlio Vargas, Jango, Pasqualini e Darcy Ribeiro – o seu trabalho. O trabalho de um homem que veio de Garanhuns, interior de Pernambuco, do Brasil profundo que Brizola tantas vezes citava, para fazer o nosso país ser valorizado lá fora de uma maneira como nunca tinha sido, por dar dignidade a milhões de brasileiros através do  programa Bolsa Família, o primeiro prato de comida, mas, principalmente, pelo emprego formal  – permitindo que o beneficiário do bolsa família trabalhe.

Na abertura de sua fala, Lula brincou com Lupi classificando-o de homem de muitas paixões, já que tempos atrás ele lhe mostrara uma loura e a definira como “a mulher de sua vida”. Lupi interrompeu o presidente para explicar que a “loura” era a sua mulher, Angela Rocha.

Lula leu discurso escrito depois de saudar a todos os parlamentares presentes – toda a bancada do PDT no Senado e na Câmara, e de outros partidos. Ele falou sobre a importância da preservação da memória da luta dos trabalhadores, razão  daquele centro de referência batizado de Leonel Brizola, exaltou os 80 anos do Ministério do Trabalho e lembrou que sempre que o Estado brasileiro acreditou na força dos trabalhadores, o país avançou.

Exaltou a importância do governo Vargas para o desenvolvimento do país, citou a criação da Petrobrás, entre outras conquistas; lembrou a luta dos trabalhadores pela redemocratização do país  e ao novo patamar alcançado por eles, depois de sua eleição em 2003. E citou Brizola, que sempre dizia que em um país como o Brasil, sem a participação dos trabalhadores, não teria desenvolvimento.

Terminado o texto escrito, de improviso, Lula lembrou passagens de sua vida com Brizola ao longo dos anos de convivência política.  “Quem só acompanhou essa relação pelos  jornais não tem noção, não sabe como as coisas realmente aconteceram”, destacou.  Nos bastidores ele teve a oportunidade de ver as diferenças, verdadeiras “cadeiradas e bandeiradas”, entre personalidades fortes que só se uniam mesmo hora do combate ao inimigo comum. Citou Arraes e Brizola “cada um com sua visão, que pareciam as vezes até adversários e não aliados”.

Mas, destacou, essa convivência foi um aprendizado para ele, convivência que agora, tantos anos depois e com a experiência do exercício da presidência, ele muito valorizava. Lembrou reunião na casa de Brizola, com a presença de Brandão Monteiro, Vivaldo Barbosa, Noel de Carvalho e outros, depois do 1° turno de 1989, quando Brizola definiu seu apoio a ele no 2° turno contra Collor. E que nessa reunião, em determinado momento, Brizola citara que na Austrália as mudanças vieram depois da eleição de um sindicalista para o governo de lá. Depois da conversa, Brizola dissera a ele: “Vamos lá, vamos ganhar esta eleição” e o levou até a janela de seu apartamento em  Copacabana, consagrando-o como seu candidato no segundo turno de 1989, ao erguer sua mão para a multidão que estava reunida em frente ao prédio.

Lembrou também  passagem, ainda na eleição 1989, no primeiro turno, em que foi procurado pelo Brizola para que retirasse sua candidatura à presidência para que ambos passassem a apoiar Mário Covas, para derrotar a direita. E ele recusou porque sabia que o PT recusaria.

“Brizola era muito duro em suas convicções. Em 98, por exemplo, tentei convencê-lo a disputar o Senado, já que tinha tanta gana de pegar o ACM. Mas ele quis ser candidato a vice-presidente na minha chapa, mesmo a gente sabendo que aquela eleição já estava praticamente definida, era muito difícil ganhar. Ele fez isto porque sempre se preocupou com o Brasil em primeiro lugar, jamais com projetos pessoais”, disse Lula.

Sobre a importância que Brizola dava a Getúlio Vargas na vida nacional, Lula lembrou visita que  ambos fizeram a São Borja, na campanha de 98, a pedido de Brizola, para homenagear Vargas. E que Brizola, ao pé do túmulo de Getúlio, o impressionou muito:

“Brizola começou a conversar com Getúlio Vargas como se o Getúlio estivesse vivo, ali. Fiquei impressionado com a relação e a admiração de Brizola por Getúlio. Em determinado momento ele pegou a minha mão e disse, doutor Getúlio, está aqui o operário que o senhor não foi, nem eu fui, mas que vamos apoiar para a presidência para que ele possa fazer o que a gente não conseguiu fazer.  Depois disso,  Brizola me passou um buquê de flores e perguntou: ‘ Lula, você quer conversar com doutor Getúlio?’ Disse que não queria não e rapidinho depositei as flores – naquela o Brizola transcendeu”, relatou Lula, arrancando risos da platéia.

Em uma autocrítica inédita na sua relação com o Trabalhismo e o legado político de Getúlio Vargas, Lula disse que como todo sindicalista de São Paulo – “e o Paulinho da Força (deputado Paulo Pereira da Silva, Líder do PDT) está aqui para confirmar”, começou a sua carreira no sindicato criticando Vargas e o sindicalismo que ele criou, porque o considerava filho da Carta del Lavoro da Itália. E que aquilo balizou sua atuação por muitos e muitos anos enquanto Brizola, em momento algum, escondia ou deixava de exaltar a sua admiração pela obra de Vargas. Lula explicou que na sua inexperiência, não compreendia bem aquilo.

Em outro episódio vivenciado com Brizola, lembrou que quando Cristovam estava disputando a reeleição para governador de Brasília – ele e Brizola, candidatos a presidente e vice – vieram a capital dar apoio à candidatura  Cristovam.  Dirigindo-se ao senador, presente ao ato, lembrou:

—  Mas você, não é Cristovam, acho que não queria muito nosso apoio naquela eleição. Fomos recebidos no aeroporto por assessores seus, você estava em outro compromisso. Eu fui almoçar com eles, mas Brizola não teve dúvida, voltou do aeroporto. Antes, disse para mim:  ‘Não fico porque não querem o meu apoio’”.

Lula lembrou também que na campanha de 2003, pouco antes do primeiro turno, quando a eleição se definia entre Serra e ele, Brizola, que apoiava Ciro Gomes, se manifestou publicamente pela sua candidatura. Disse que estava preocupado com o Brasil, não com candidaturas,  e o momento era de Lula.

Ainda sobre essa época,eleito presidente,  lembrou que nomeou Miro Teixeira ministro com “a maior das boas vontades” achando que agradaria a Brizola. Mas foi exatamente o contrário que aconteceu porque  “Brizola era pura sensibilidade política”, definiu.

Ainda sobre essa sensibilidade, lembrou outro episódio, quando ele e Brizola estavam conversando sobre a possibilidade de unir  PT e  PDT, algo muito difícil na sua opinião. Mas no meio dessa conversa, aconteceu algo que mudou tudo.

“Um dia cheguei em casa e meu filho disse que tinha um cara ligando, já tinha ligado umas cinco vezes, dizendo que era o presidente e queria falar comigo. Meu filho achou que era trote e bateu o telefone várias vezes, achando que era brincadeira.  Achei que de repente podia ser verdade e liguei para o Fernando Henrique. Era ele mesmo. Marcamos uma reunião e fui ao encontro dele no Palácio do Planalto, numa noite. Foi o que bastou para o Brizola soltar os cachorros em cima de mim. Ele achou que foi a maior traição do mundo eu conversar com FHC e se afastou de mim”, recordou Lula.

Mas isto não impediu, acrescentou, que o mesmo Brizola não vacilasse em apoiá-lo, quando o procurou novamente na sua casa, em 2002, pouco antes da disputa do 2° turno contra Serra:

— Brizola não vacilou em me apoiar. Na hora daquele aperto não vacilou em me dizer que estava do meu lado porque ficar comigo era ficar do lado dos trabalhadores. Por isso, Lupi, posso dizer que o PT e o PDT têm muitas coisas em comum. Muitas vezes conversamos, mas muitas vezes deixamos de conversar porque o sectarismo não permitiu. Acho que minha passagem pela presidência da República me ajudou. Tenho certeza de que quando deixar a presidência, com mais experiência, mais sabedor das coisas, vou poder trabalhar muito mais pela esquerda brasileira. Espero que nossa relação, esta relação de confiança, aumente. Brizola jamais tirou proveito da política em causa própria. Portanto, parabéns a você, Ministro do Trabalho, parabéns aos companheiros do PDT, parabéns ao Trabalhismo.   

Veja o vídeo da inauguração

MTE