O líder do PDT, deputado Brizola Neto (RJ) acusou em Plenário o jornal O Globo de tentar manchar a honra do seu avô, o ex-governador Leonel Brizola, em uma série de reportagens publicadas sobre arquivos do regime militar.
Para o deputado, as acusações foram feitas de forma covarde e desonesta, porque além de não existirem provas, Brizola, que morreu em 21 de junho de 2004, está impossibilitado de se defender. É emblemático que esses ataques ocorram justo na passagem dos 45 anos do golpe militar que envergonhou o Brasil, lembrou Brizola Neto.
Entre outras coisas, O Globo aponta, com base em relatórios do antigo Serviço Nacional de Informações (SNI), que Leonel Brizola teria montado um esquema de caixa dois com dinheiro de empresas e do jogo do bicho, na década de 80, quando era governador do Rio. Infelizmente, temos que chafurdar na lama quando o assunto é a implacável perseguição a que Leonel Brizola foi submetido pelos órgãos repressivos e de censura, tanto os nativos quanto os internacionais, que agiram sempre em consonância e mancomunados com os sistemas de TV, rádio e imprensa, disse o líder pedetista, lembrando que a vida do avô foi vasculhada pela ditadura, mas que nada foi encontrado.
O companheiro de bancada, Miro Teixeira (RJ), solidarizou-se com Brizola Neto e declarou que esses documentos do serviços de informação só têm valor quando são confissões. Eu quero ver quais são os papéis da ditadura sobre a morte de Zuzu Angel, sobre a morte de Stuart Angel, de Manoel Fiel Filho, de Vladimir Herzog, disse o deputado. Ele pediu apoio dos políticos para que todos os papéis do regime militar sejam revelados.
Lideranças de outros partidos manifestaram apoio ao neto de Brizola. Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) afirmou ser inaceitável a forma como esses documentos da ditadura vêm à tona, procurando atacar a memória de um líder respeitado pela sua trajetória política, como será sempre o ex-governador Leonel Brizola.
Íntegra do discurso
“Eu peço a atenção dos colegas; senhoras e senhores deputados quero pedir que ouçam o pronunciamento que farei agora.
Trata-se da defesa da memória ultrajada de um herói nacional. Trata-se da defesa da honra de Leonel Brizola. A gravidade das acusações que lhe imputam de forma covarde e desonesta o jornal O GLOBO, me fazem ter o cuidado de vir a esta tribuna com um discurso escrito, diferente do que sempre faço. É emblemático que estes ataques ocorram justo na passagem dos 45 anos do golpe militar que envergonhou o brasil. Na semana do 1º de abril, o globo revive, de forma nostálgica, o consórcio sinistro que lhe deu projeção em conluio com as oligarquias regionais como máquina da propaganda da ditadura, patrocinada por aportes financeiros ilegais do grupo estrangeiro Time-Life.
Desde o último domingo, este jornal, que sempre encetou campanha diuturna e inescrupulosa contra Brizola, volta a atacá-lo de maneira covarde e desonesta agora que ele não está mais aqui conosco, portanto impossibilitado de se defender a viva voz das calúnias e difamações provenientes dos mais sórdidos aparelhos repressivos da ditadura civil e militar.
Eu não irei perder o meu tempo e nem abusar da atenção dos senhores em retrucar uma por uma as acusações desonestas porque desprovidas de provas que lhe foram dirigidas por uma série de matérias que envergonha o jornalismo brasileiro.
O que a mim cabe ressaltar com indignação, nesta tribuna, é a necessidade que a direita mais reacionária ainda tem de injuriar postumamente a memória de Leonel Brizola. A direita corrupta e entreguista, que implantou uma ditadura e defendeu abertamente ou foi cúmplice dos crimes de lesa humanidade.
Nesta cretina e encomendada reportagem
os organismos da repressão política são
convertidos em oráculos da verdade
O que me infunde iracúndia, para usar a palavra de que tanto gostava o saudoso Darcy Ribeiro, é verificar que nesta cretina e encomendada reportagem os organismos da repressão política são convertidos em oráculos da verdade.
Infelizmente temos de chafurdar na lama quando o assunto é a implacável perseguição a que meu avô Leonel Brizola foi submetido pelos órgãos repressivos e de censura, tanto os nativos quanto os internacionais, que agiram sempre em consonância e mancomunados com os sistemas de tv, rádio e imprensa.
Antes e depois da abertura, antes depois de seu longo e prolongado exílio, antes e depois da anistia, vasculharam-lhe de ponta a ponta sua atividade política e administrativa, viraram ao avesso inclusive a esfera mais íntima de sua vida familiar. E, pasmem senhores, nada, absolutamente nada encontraram, nenhuma nódoa, nenhum deslize que fosse, nada que desabonasse sua probidade pessoal e pública, desde quando começou sua militância política no Rio Grande do Sul de 1945, tendo por mestre e guia Getúlio Vargas, que lhe indicou o árduo e tumultuado caminho da defesa dos interesses nacionais contra a sanha das oligarquias associadas ao imperialismo.
Então, senhores deputados, se a classe dominante e os seus sinistros aparelhos ideológicos – nada conseguiu encontrar para incriminá-lo no trato com a coisa pública pois se algo porventura tivesse sido encontrado, todos os holofotes da mídia iriam com júbilo denunciá-lo , se nada então foi encontrado quando ele era vivo, com certeza também não irão agora macular sua biografia.
A verdade é que Leonel Brizola não foi um homem público banal e corriqueiro cuja razão de ser fosse meramente administrativa ou que se resumisse a uma infecunda moralidade de que tanto se vangloriou a UDN impatriótica.
Leonel Brizola, desde o seu governo no Rio Grande do Sul, esteve na mira da direita porque agiu e tomou atitudes efetivas contra a drenagem internacional das riquezas naturais do país e a superexploração do trabalho do povo brasileiro.
Eu não tenho dúvidas de que uma pífia matéria jornalística como esta vir a ser estampada na primeira página, está sendo pautada de fora do jornal, sendo comandada pelo que está acontecendo com a dinastia José Sarney lá no Maranhão. O mesmo José Sarney, que agora nas páginas de O Globo posa cinicamente de democrata e defensor da honra de meu avô, quando na verdade usou de todos os recursos espúrios, financeiros e midiáticos, para cortar a cabeça política do ex-governador do Rio de Janeiro.
É inadmissível em plena vigência do regime
democrático O Globo regate as suas fontes do tempo
do arbítrio, da censura e do autoritarismo
Que O Globo funcionou como máquina de propaganda da ditadura acobertando em parceria com o Serviço Nacional de Informações os crimes cometidos pelos órgãos da repressão política é por todos sabido. O que é inadmissível em plena vigência do regime democrático é este jornal resgatar as suas fontes do tempo do arbítrio, da censura e do autoritarismo.
Não conseguiram macular a honra de Leonel Brizola em vida, não farão depois de sua morte. Viva Leonel Brizola!