Ao longo da vida, Leonel Brizola conquistou diversas e importantes vitórias, mas a execução do direito de resposta no Jornal Nacional, em 15 de março de 1994, que foi conquistado na Justiça contra a Rede Globo, representa até hoje um marco épico do processo de defesa da honra de uma figura pública no jornalismo brasileiro.
O fato teve origem em 1992, quando Brizola já exercia o seu segundo mandato de governador. O líder pedetista concedeu uma entrevista onde condenava, segundo ele, a sabotagem promovida pelo grupo de comunicação carioca à construção do Sambódromo e que, por consequência, o prefeito da cidade, Marcello Alencar, deveria negar que a emissora conquistasse a exclusividade da transmissão do Carnaval.
Como consequência, o jornal O Globo divulgou um editorial com o título “Para Entender a Fúria de Brizola”. No texto, Brizola é acusado de senilidade, com “declínio da saúde mental”, além de apontamentos infundados sobre suas relações institucionais com o então presidente da República, Fernando Collor. No mesmo dia, o Jornal Nacional reproduziu, na voz de Cid Moreira, a publicação.
Buscando retratação, o governador fluminense acionou o Judiciário para garantir espaço similar para sua defesa. A decisão, em prol de Brizola, foi proferida somente dois anos depois. Confira:
No banco de imagens abaixo, reportagens de veículos nacionais sobre o fato.
Divulgação no Jornal Nacional:
Transcrição, na íntegra, do direito de resposta:
“Todos sabem que eu, Leonel Brizola, só posso ocupar espaço na Globo quando amparado pela Justiça. Aqui citam o meu nome para ser intrigado, desmerecido e achincalhado perante o povo brasileiro.
Quinta-feira, neste mesmo Jornal Nacional, a pretexto de citar editorial de ‘O Globo’, fui acusado na minha honra e, pior, apontado como alguém de mente senil.
Ora, tenho 70 anos, 16 a menos que o meu difamador Roberto Marinho, que tem 86 anos. Se é esse o conceito que tem sobre os homens de cabelos brancos, que o use para si.
Não reconheço à Globo autoridade em matéria de liberdade de imprensa, e basta para isso olhar a sua longa e cordial convivência com os regimes autoritários e com a ditadura de 20 anos, que dominou o nosso país.
Todos sabem que critico há muito tempo a TV Globo, seu poder imperial e suas manipulações. Mas a ira da Globo, que se manifestou na quinta-feira, não tem nenhuma relação com posições éticas ou de princípios. É apenas o temor de perder o negócio bilionário, que para ela representa a transmissão do Carnaval.
Dinheiro, acima de tudo.
Em 83, quando construí a passarela, a Globo sabotou, boicotou, não quis transmitir e tentou inviabilizar de todas as formas o ponto alto do Carnaval carioca. Também aí não tem autoridade moral para questionar. E mais, reagi contra a Globo em defesa do Estado do Rio de Janeiro que por duas vezes, contra a vontade da Globo, elegeu-me como seu representante maior.
E isso é que não perdoarão nunca.
Até mesmo a pesquisa mostrada na quinta-feira revela como tudo na Globo é tendencioso e manipulado. Ninguém questiona o direito da Globo mostrar os problemas da cidade. Seria antes um dever para qualquer órgão de imprensa, dever que a Globo jamais cumpriu quando se encontravam no Palácio Guanabara governantes de sua predileção.
Quando ela diz que denuncia os maus administradores deveria dizer, sim, que ataca e tenta desmoralizar os homens públicos que não se vergam diante do seu poder.
Se eu tivesse as pretensões eleitoreiras, de que tentam me acusar, não estaria aqui lutando contra um gigante como a Rede Globo.
Faço-o porque não cheguei aos 70 anos de idade para ser um acomodado.
Quando me insulta por nossas relações de cooperação administrativa com o governo federal, a Globo remorde-se de inveja e rancor e só vê nisso bajulação e servilismo. É compreensível: quem sempre viveu de concessões e favores do Poder Público não é capaz de ver nos outros senão os vícios que carrega em si mesma.
Que o povo brasileiro faça o seu julgamento e na sua consciência lúcida e honrada separe os que são dignos e coerentes daqueles que sempre foram servis, gananciosos e interesseiros.
Leonel Brizola”
Imagens: reprodução da internet