Hoje saí às ruas imaginando que seria um dia depois de um FlaXFlu, quando os torcedores exibem orgulhosos suas camisas de time campeão. Ao contrário disso, encontrei um povo caído, de luto, como se estivesse numa espécie de ressaca moral. O circo que a Globo montou para exibir sua vitória se transformou em um Circo dos Horrores!
É tudo tão bem feito. A gente nem percebe que está sendo manipulado. O Jornal Nacional, nos últimos meses, bombardeou as nossas mentes com escândalos de corrupção. Gerando a sensação de que ninguém presta, nada mais tem jeito e que a única coisa a fazer seria tirar a presidenta e mudar tudo. E o pior: Muita gente acreditou nisso.
Passaram a querer tirar do poder justamente a pessoa que colocou todas essas feridas de fora. Que nunca teve atuação política partidária, que sempre foi uma técnica competente, que tinha dificuldades com os meandros sórdidos da política. Não tinha muita paciência com aquele dia a dia do “toma lá, dá cá”. O que seria uma virtude, passou a ser o seu ponto fraco. Ela não bajulava deputado. Por isso está caindo. Pedaladas fiscais foi uma desculpa que todos engoliram.
Vem o dia D. O dia do impeachment e assistimos com perplexidade cenas que vão entrar para a nossa história como o filme do retrocesso. Deus! Nunca seu santo nome foi usado tão em vão. Todos se apoderaram dele como senhores da verdade e da fé. O caráter difuso disfarçado pela psicopatia do Presidente da Câmara Eduardo Cunha nunca ficou tão evidente. Esse sim. O grande vitorioso da noite. Comia seu prato frio da vingança enquanto 513 personagens cumpriam um ritual quase macabro.
Alguns conscientes da sua responsabilidade faziam seu papel de ‘sim’ e ‘não’. Mas a grande maioria era levada pela onda que a Globo criou. E como ela é boa nisso! A direita colocou a cara de fora. A total inversão dos valores. Muita gente perdendo sua coerência e dizendo um ‘sim’ acovardado. Naquele momento, era preciso ter muita coragem para chegar àquele microfone e dizer: ‘Não’.
Que contraste da dignidade da veterana Jandira Feghali com o cinismo de Paulinho da Força, que profanou o túmulo de Geraldo Vandré parodiando um hino da luta contra a ditadura no momento de expressar seu ódio a Dilma. Ódio exposto de forma nojenta pelo Deputado Jair Bolsonaro, que aproveitou seus 10 segundos para homenagear o coronel que torturou a Presidente Dilma no período da Ditadura.
Que vergonha!
Foram essas cenas que o povo assistiu. Não acredito que até os mais bem intencionados, os que acreditam mesmo que estão acabando com a corrupção, os eleitores descontentes do Aécio que continuaram na rua mesmo no dia seguinte da derrota nas eleições, não tenham ficado constrangidos de ver essas cenas. É esse o Brasil que queremos para os nossos filhos? Com essa gente no poder?
Peço perdão aos nossos muitos heróis que morreram para que pudéssemos ter esses momentos de liberdade. Peço perdão por não ter ido para as ruas. Peço perdão a eles por ter ficado tão perplexa com tanto ódio e ter paralisado. Saído de cena. Verdade. Eu, e muitos de nós, nos trancamos em casa para não discutir política. O resultado foi esse. Ficamos assustados com tanto ódio e nos acovardamos. Eles cresceram.
Será que ainda há tempo para falar das flores? Homenagear de verdade Geraldo Vandré… “Vem, vamos embora que esperar não é saber… Quem sabe faz a hora não espera acontecer”. Vamos para as ruas, agora, de verdade, homenagear nossos heróis que certamente não são aqueles que votaram pelo impeachment. Hoje sinto vergonha de ser brasileira.
(*) Angela Rocha é jornalista.