“A Rio–92, hoje, já merece outro nome: O Encontro da Esperança. Até o fim desta semana, atingirá seu ponto mais alto, com a presença de cerca de 120 Chefes de Estado. Estarão juntos os responsáveis pelas mais importantes decisões sobre os destinos do mundo para uma reflexão sobre o que precisamos fazer em defesa da vida, frente aos impasses que se avolumam diante de toda a humanidade, pobres ou ricos. Ou assumimos uma atitude diante da degradação crescente do meio ambiente, especialmente daquilo que fazemos contra o próprio ser humano, ou afundaremos no martírio da destruição da natureza e de nossa própria espécie”
Leonel Brizola, em O espírito do Rio, 7 de junho de 1992.
Trinta anos depois…
Chuvas torrenciais, devastação acelerada de biomas; aparecimento de novas doenças (algumas, como a hepatite, inerentes a adultos, que acometem crianças); necessidade de redução de gases de efeito estufa; impacto do descarte inapropriado de resíduos; crescimento de desastres socioambientais.
Este conjunto de causas e efeitos – que resulta em grandes prejuízos: financeiros; em bem–estar; oumesmo em vidas perdidas – lança-nos o olhar para uma necessária e urgente política que reconcilie o homem com sua casa: o Planeta Terra.
Em meu nome e em nome de companheiros com quem tenho discutido, amiúde, este tema, venhosugerir que – com o aquecimento do debate público, por conta destas eleições – o PDT se apresente paraa sociedade com programas, projetos e candidaturas que promovam uma agenda comprometida com o desenvolvimento sustentável: a agenda 2030.
Qual é a importância desta Agenda?
– A Agenda 2030 é um plano de ação global –que reúne 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) e 169 metas – criado para erradicar a pobreza e promover vida digna a todos, dentro das condições que o nosso Planeta oferece. E o mais importante: sem comprometer a qualidade de vida das próximas gerações. Isto não é a busca de um milagre; mas do possível.
Ao incorporar uma agenda que se preocupa em construir soluções para um novo desenvolvimento sustentável, nosso Partido estará na vanguarda das diferentes candidaturas do campo progressista. Ao propormos a construção de um novo polo de esquerda no país, é essencial mostrarmos quais serão os valores centrais deste novo lugar político.
Penso que devemos – claro! – reconhecer as questões que já abraçávamos até aqui, como as reformas estruturais que propusemos desde Vargas, Jango e Brizola; mas é preciso ir além. Para se contrapor a este conjunto de teses, nacionalistas, já inseridas em nosso ideário, nossos adversários políticos, à esquerda e à direita, já se uniram em uma oposição conjunta. Mas continuamos na vanguarda.
É fato que o PDT defende – desde sempre e com muito fôlego – a democracia, os direitos humanos, a educação, a soberania, a erradicação da miséria, o trabalho decente; além de diversos temas de urgência nacional e também internacional, como membro da Internacional Socialista.
É correto dizer também que desde sempre o Trabalhismo Brasileiro associou-se às causas do bem-estar e da qualidade de vida, especialmente as ligadas ao meio ambiente. Esta é a seiva que corre firme no cerne do PDT.
Como resultante do progresso científico, em todos os setores, o Século 21 trouxe consigo um novo modelo de comunicação, através de aparelhos, cada vez mais sofisticados, que até se pode entender, sem abuso conotativo, como a expansão dos nossos dedos.
Este conjunto implica a necessidade de uma produção consciente para competir neste campo de ideias. Para isto, é imperioso que se busque uma nova linguagem; nova roupagem; novos protagonismos. Quadros competentes para esta divulgação nós temos, comprovadamente.
Aqui, chamo atenção para nossa aguerrida Juventude Socialista que, honrando a herança acumulada desde o primeiro ato da Ala Jovem, é portadora do mais inequívoco espírito reformador, à frente mesmo quando somos vanguarda.
Estes jovens possuem um grande desafio: serão eles os guardiões das atuais e futuras gerações. Por suas mãos – compartilhando aprendizados e saberes com os mais antigos – é possível produzir a necessária conexão do Partido às emergências socioambientais frutificadas pelo desenvolvimento capitalista poluidor do presente.
Como sentenciou Brizola, em certa ocasião: “… jovens do meu Brasil: tomem o destino do país em suas mãos”. No futuro próximo penso que eles serão chamados não só de trabalhistas; mas também de ativistas ecotrabalhistas, atualizando a teoria e a praxis do nosso ideário político.
O próprio Partido tem realizado esforços na organização de sua militância ambientalista nas instâncias de um movimento partidário específico – o Ecotrabalhismo –, que tem promovido diversas ações em todo país. Recentemente, se dedicou ao lançamento de uma Cartilha dedicada a apresentar as posições do movimento e do PDT sobre variadas questões ambientais.
É pensando nesta nossa responsabilidade partidária, como representantes do Trabalhismo, e olhando para a grave crise climática – que tende ao consenso entre estudiosos do assunto – que sugiro que, nestas eleições, sejamos ousados. E, para tanto, independente da indústria de pesquisas, que constrói e manipula opinião do eleitor, apresentemos uma fortíssima plataforma ecotrabalhista, fundamentada na chamada Agenda 2030.
O novo locus do Trabalhismo Brasileiro deve nos posicionar ombro a ombro com as mais contemporâneas doutrinas políticas para deter o avanço da direita fascistoide, cujo ponto irradiador se situa em outro Continente. Esta é uma missão para o presente, sem nos esquecer de olhar além:romper, sem medo, com os estigmas da esquerda envelhecida – inebriada pelo discurso de um desenvolvimento que produz a destruição da natureza e, consequentemente, seja insustentável.
Ao incorporar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) em nossa pregação, filtraremos todo nosso ideário que será reformulado com base em novíssimos arranjos políticos, econômicos e sociais de demandas exigíveis neste século. Só assim entregaremos respostas que construam verdadeiramente à tão sonhada justiça social, que também incorporará a dimensão ambientais.
Ao cabo, toda esta nossa pregação vai no sentido de contribuir com o Projeto Nacional de Desenvolvimento, que tem sido defendido pelo nosso pré-candidato a presidente Ciro Gomes e toda nossa militância.
Ficamos felizes em assistir a Ciro apontar caminhos, quando fala em transformar a Petrobrás numa grande empresa de energias sustentáveis –discurso completamente conectado com as necessidades do futuro; e muito com uma boa perspectiva de transição energética.
Ao dar centralidade ao temas da sustentabilidade e incorporar o filtro da Agenda 2030, acreditamos que é possível ampliar nosso programa; e, já nesta eleição, garantir que a sustentabilidade seja uma dimensão inserida ao PND, tornando-o um PND Sustentável.
O PDT – um partido que traz consigo uma tradição política que já o diferencia dentre os demais da esquerda nacional – ao incorporar a Agenda 2030 e, os princípios ligados ao meio ambiente e a sustentabilidade, certamente daremos um importante salto para liderar um novo caminho de real progresso nacional; que tenha seu alicerce em pilares radicalmente democráticos e sustentáveis.
*Everton Gomes é cientista político, vice-presidente nacional do Ecotrabalhismo, secretário nacional de Assuntos Econômicos do PDT.